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Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha

daniele.haller@mulheresjornalistas.com

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

 

Muitos brasileiros residentes no exterior aguardam ansiosamente o momento certo para viajar novamente ao Brasil e rever familiares e amigos. A pandemia mudou totalmente o plano daqueles que costumavam ir para o País com certa frequência, mas, na situação atual, se veem sem perspectivas de quando poderão viajar de forma segura.

Desde março do ano passado, muitos brasileiros tiveram os planos mudados pela crise da Covid-19.  Aqueles que desejavam ir para o exterior para visitar, trabalhar ou estudar, tiveram que adiar suas datas. Outros, que já se encontravam no exterior, passaram inúmeras dificuldades na hora de retornar ao Brasil, em decorrência dos cancelamentos de voos para o país de origem e as medidas e restrições impostas por conta do vírus, mas, além deles, muitos brasileiros, residentes em diversos países, ainda temem as dificuldades, as restrições de viagem e, claro, o vírus.

Quem mora no exterior e costuma visitar o Brasil com certa frequência, sabe o tamanho da alegria que sente na hora de comprar as passagens e aquela ansiedade no momento de fazer as malas. Presentes, mimos para família e amigos, finalmente roupas de verão e a expectativa de poder estar enfim na sua “terra” e passar uns dias se sentindo em casa. Quando as primeiras notícias sobre o vírus chegaram, muitos achavam que as restrições, as medidas de higiene iriam durar apenas alguns meses, até que o vírus fosse controlado e ,aos poucos, a vida voltasse ao normal, dentro do possível. Logo seria possível remarcar sua viagem e partir para o País, no entanto, um ano depois do início da pandemia, a realidade é outra.

Hoje, a sensação de insegurança, a oscilação nas restrições sobre os voos provenientes do Brasil, o medo de ser infectado e levar o vírus para os parentes, ainda tem sido fatores de peso no momento de decidir quando será a próxima viagem. Alguns já pensam na possibilidade de viajar até o final do ano, outros já até mesmo compraram as passagens, mas tudo ainda é incerto quando se trata do vírus e dos números de infecções, tanto no exterior como no Brasil.

Márcio de Oliveira vive na Alemanha desde 2014 e costuma retornar ao Brasil com certa frequência, mas com a pandemia, o cearense precisou adiar os planos. Com viagem marcada no início do ano passado, ele optou pelo cancelamento da passagem e prorrogou o desejo de rever a família e retornar à Fortaleza. Antes da chegada do vírus, ele conta que, em certas ocasiões, chegou a viajar para o Brasil até duas vezes por ano, sendo a última vez em fevereiro de 2019.

Acostumado a receber a visita dos pais e irmãos, Márcio se vê agora sem perspectiva de quando poderá rever pessoalmente a sua família: “É muito angustiante essa situação de você não saber quando é que vai poder viajar, fica sempre essa preocupação na cabeça”, comenta. Para aliviar as saudades que sente de casa, ele diz que tem falado constantemente com os parentes: “Pelo menos duas ou três vezes por semana eu falo com meus pais e meus irmãos. Isso me dá um conforto maior, poder estar falando com eles e vendo também”. Apesar de tudo, ele diz ter esperança de poder retornar brevemente à terra natal: “Já estou me programando para viajar para o Brasil em outubro. Eu espero que as coisas tenham melhorado um pouco e não haja tantas restrições. Se for esse o caso, eu irei sim esse ano, com certeza, e aproveitar a família, amigos e tudo que o Brasil tem de bom para oferecer”, conclui.

 

 

Na França, a advogada Marcela Feld, natural de Santa Bárbaro do Oeste, interior de São Paulo, contou como a pandemia afetou a ligação que tem anualmente com sua família. Morando no país há 14 anos, ela comenta que costuma ir para o Brasil a cada dois anos, ao lado do esposo e os dois filhos, mas, o que realmente lhe afetou, foi o fato de não poder receber a mãe, que sempre a visita no mês de julho, como tem acontecido nos últimos dez anos: “Minha mãe vem todos os anos, em julho, e fica o mês inteiro. Foi a primeira vez, depois de 10 anos, que ela não veio para nos visitar, por causa da pandemia. Esse ano foi o primeiro que ela não pôde vir”, comenta.

Para Marcela, a pior parte dessa situação é não saber quando poderá ver pessoalmente a sua família: “Ficar longe da nossa família, para mim, não tem nada pior que isso.  Principalmente porque minha mãe se recuperou de um câncer, então, foi muito bom, foi uma vitória! Também porque meus pais têm mais de 70 anos e isso nos preocupa, eu gostaria de vê-los”. Enquanto esse momento não chega, ela conversa com os pais através de vídeo e conta que disponibilizou um telefone com Whastapp para os filhos, para que eles possam estar frequentemente em contato com os avós. Sobre a próxima viagem para o Brasil, ela diz: “Como nós retornamos do Brasil em fevereiro de 2020 e a pandemia explodiu em março, meus planos para viajar ainda estão dentro do prazo normal, de dois anos. Aqui na França,  a previsão de vacinação para minha idade é a partir do mês de junho, então, nós teremos muito tempo para se vacinar e, espero, em 2022 ir para o Brasil”.

Atualmente, a França vive o terceiro lockdown desde março do último ano, impondo restrições no funcionamento do comércio, toque de recolher às 19h e limites de locomoção de até 10km de distância do domicílio. Segundo o pronunciamento do presidente francês, Emmanuel Macron, na última quarta-feira(31/03), as medidas devem ser mantidas até o dia dois de maio(02/05).

Andrei Lourenco é cearense e vive na Irlanda há quase seis anos, desde então, tenta viajar para o Brasil todos os anos, sendo a última vez em fevereiro de 2019. No início de 2020, ele já planejava sua próxima viagem para junho, mas com a evolução do vírus, teve que mudar seus planos. Ele conta que já recebeu a visita da mãe e da irmã em 2016 , na Irlanda, e diz que essa é a parte mais difícil da pandemia; a saudade da família. Na esperança de poder retornar ao Brasil ainda esse ano, ele comprou sua passagem para viajar em abril, mas afirma que terá que adiar: “Eu comprei essa passagem para ir ao Brasil na esperança mesmo de poder ir, porque agora fizeram dois anos que eu não fui. Então, eu comprei porque estou com muitas saudades, já são mais de dois anos, eu quero ver minha família. Eu posso me isolar com eles, não teria problema nenhum”, relata.

No entanto, existem outros empecilhos que o impedem de realizar esse desejo: “A Irlanda fez uma restrição agora de que, quem voltar de um dos países que estão na lista de restrições, e o Brasil está dentro da lista, terá que fazer quarentena de forma obrigatória em um hotel onde as doze diárias vão custar 1.875 euros. Então, para mim não tem a menor possibilidade de ir para o Brasil agora”. Apesar disso, ele afirma que viajar para o seu país está no topo da lista do que ele deseja fazer assim que possível: “Viajar para o Brasil é o número um entre as coisas que eu quero fazer assim que a pandemia amenizar, a primeira coisa que eu penso. Sempre tentei ir uma vez ao ano, então eu sinto falta, eu amo demais estar no Brasil, com minha família  e amigos”, diz Andrei.

Melissa Castelo é natural de Belém do Pará e mora em Miami, nos EUA. Ela conta que antes da pandemia não viaja para o Brasil com tanta frequência em razão de ter três crianças menores de 6 anos, pela dificuldade em viajar sozinha, no entanto, ela havia planejado viajar para o Brasil em 2020 para que as crianças conhecessem a avó, mas precisou adiar: “Dessa vez, eu tinha planos de ir para Brasil e levar meus três filhos pra conhecer a avó, pois ela só conhece o primeiro. Estava tudo meio que certo, mas agora, com a pandemia, estamos esperando. Quando tudo estiver bem, a gente vai ver a vovó”, comenta.

Ela diz que tem sido difícil essa sensação de não poder saber quando podem realmente retornar ao Brasil e ter a oportunidade de fazer o encontro da avó e dos netos, e também para ela: “Viver sem saber quando a gente pode viajar para o Brasil novamente é muito difícil, porque a gente sabe que é uma coisa coletiva, que não é somente você ou o outro que vai conseguir resolver, é um trabalho em equipe”. Melissa comenta que sua mãe chegou a ser infectada pelo vírus da Covi-19, e como foi difícil o fato de não poder viajar para poder estar perto da mãe e acompanhar: “Minha mãe pegou coronavirus, foi muito difícil estar longe dela, sem poder cuidar , sem poder estar a noite inteira observando e tendo a certeza de que ela está bem. Ela superou, mas não foi fácil e não está sendo fácil. A gente quer abraçar e comemorar que ela conseguiu superar isso, da melhor forma possível , estamos com a expectativa de poder nos reencontrar”, relata.

 

 

Com a oscilação no número de infecções e mortes em decorrência da Covid-19, alguns países optaram novamente pelo lockdown ou o endurecimento nas medidas de prevenção. No Brasil, com o maior número de mortes diárias pelo vírus desde o início da pandemia, a previsão é que o País continue na lista das nações restritas nos aeroportos internacionais, até que a situação se estabilize. Até lá, as viagens de brasileiros que desejam retornar ao país seguem limitadas, submetidas a cancelamentos, adiamentos de datas e quarentena.