Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
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A diversidade e o reconhecimento mundial dos vinhos brasileiros

O vinho é uma bebida atemporal. Sua participação na história da humanidade é indiscutível e cheia de referências que passam desde festas liberais até processos religiosos. Admirado como uma iguaria, sua degustação proporciona diferentes experiências referentes aos sabores, cores e aromas.

Nos últimos anos, o vinho conseguiu alterar sua imagem de “bebida para ricos” e atingiu todas as camadas sociais. Durante a pandemia da covid-19, seu consumo no Brasil teve um aumento de 28%, fomos na contramão do mercado mundial que apresentou uma redução de -6,5%, de acordo com a pesquisa realizada pelo instituto IWSR. A explicação para este crescimento está relacionada a diversos fatores. Em primeiro lugar, podemos citar um aumento de 17 milhões de pessoas nesta última década, no ano de 2010 essa base era composta por 22 milhões de consumidores regulares da bebida e, em 2020, esse número saltou para 39 milhões de apreciadores. Consumidores mais ousados também permitiram tal crescimento, de acordo com o relatório Wine Brazil Landscapes 2021, da Wine Intelligence, já que 70% dos nossos consumidores se declaram dispostos a explorar novidades, fora a maior acessibilidade às plataformas digitais. O Brasil ocupa o terceiro maior mercado virtual de vinhos no mundo, são mais de 10,6 milhões de compradores, ficando atrás apenas da China e dos Estados Unidos. 

A relação dos brasileiros com esta bebida vem desde o nosso descobrimento, no ano de 1.500. Há estudos indicando a presença de 65 mil litros de vinho nas caravelas lideradas por Pedro Álvares Cabral, porém foi em 1932 que Martim Afonso de Sousa trouxe as primeiras videiras para o Brasil através da capitania de São Vicente. Cabral oferecia a bebida para os índios, que, por sua vez, lhe ofereceram uma bebida nativa chamada de Cauim, uma espécie de vinho fermentado proveniente da mandioca.

A grande diversidade de solos brasileiros facilitou o cultivo, que em pouco tempo se espalhava por vários estados. Atualmente, o Rio Grande do Sul é o maior fabricante da bebida, administrando mais de 60% da produção nacional, seguido por Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Pernambuco e Bahia. Foram padres jesuítas os responsáveis pela introdução das primeiras videiras no estado do Rio Grande do Sul e o objetivo era a necessidade da utilização da bebida para cumprir rituais da missa católica.

Após décadas de cultivo, em 1900, passamos a produzir vinhos de melhor qualidade, o que foi possível devido à profissionalização da área. Esse modelo mais estruturado trouxe a formação de pelo menos 25 cooperativas somente no território da Serra Gaúcha, o que possibilitou uma maior expansão e opções para o mercado.

Espumantes, os grandes representantes brasileiros

O mundo já não fala em espumante sem se lembrar do Brasil. Motivo de muito orgulho, uma categoria que já foi premiada diversas vezes. A bebida pode ser produzida através das uvas Chardonnay, Pinot Noir, Pinot Meunier, mas também são utilizadas as Arbane, Petit Meslier e Pinot Blanc e a rosada Pinot Gris – estas últimas ocupam uma fatia bem pequena do mercado.

O crítico norte-americano Robert Parker revolucionou a indústria do setor a partir dos anos 2000. Ele iniciou a classificação dos rótulos em 100 pontos (a escala anterior abrangia até 20 pontos).

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Imagem: Divulgação/Prêmio Brazil Wine Challenge

O Brazil Wine Challenge é o único concurso de vinhos do Brasil com chancela da Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) e da União Internacional de Enólogos (UIOE). Em 2020, o evento foi realizado no mês de outubro, no Centro Empresarial de Bento Gonçalves. Sete espumantes receberam a nota mais alta e, dentro desta edição e na relação, temos vários representantes brasileiros.

 

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Espumantes premiados com nota máxima no Brazil Wine Challenge 2020. Foto: Divulgação/Site Gauchazh
  1. Maximo Boschi Biografia Espumante Brut
  2. Sopra Espumante Brut Rosé Clássico
  3. Salton Espumante Prosecco
  4. Estrelas do Brasil Espumante Prosecco Rosé
  5. H Espumante Moscatel Rosé
  6. Aurora Espumante Brut Rosé
  7. Georges Aubert Espumante Brut

Em meio a quase 100 premiações no ano de 2021, a Cooperativa Vinícola Garibaldi comemora a conquista do título do Melhor Espumante do Cone Sul (é a segunda vez que ganham essa premiação, a primeira ocorreu no ano de 2018). O prêmio veio de um dos mais relevantes concursos de vinhos da América Latina, o chileno Catad ‘ Ou World Wine Awards. Na edição deste ano, quatro produtos da Cooperativa Vinícola Garibaldi ganharam medalha de ouro: os espumantes Vero Demi Sec Rosé, Garibaldi Chardonnay, Amaze Chardonnay e Amaze Moscatel – os dois últimos são elaborados exclusivamente para exportação.

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Espumantes premiados da Coop. Vinícola Garibaldi. Foto: Divulgação/Coop Vinícola Garibaldi

A Cooperativa também comemora os seus 90 anos. O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou Maiquel Vignatti, gerente de marketing e enoturismo na Cooperativa Vinícola Garibaldi.

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Entrevistado, gerente de MKT Coop. Vinícola Garibaldi, Maiquel Vignatti. Foto: Divulgação/Coop. Vinícola Garibaldi

Mulheres Jornalistas (MJ): Como surgiu a Coop. Vinícola Garibaldi?

Maiquel: A Cooperativa surgiu em 1931, a partir de uma necessidade dos produtores de uva da região. Durante os anos de 1930 e 1931, 73 produtores se uniram e fundaram a Coop Vinícola Garibaldi. Antes desse período, eles eram apenas pequenos produtores que entregavam sua uva para outras indústrias no Brasil para vinificar e processar essa uva apenas como produtores, sem serem os donos do negócio. A criação da Cooperativa foi realizada na intenção de conseguir gerar produtos com a marca Garibaldi para atender à demanda crescente de mercado. No primeiro momento, vendia-se vinho à granel, mas, ao longo do tempo, foram vendendo vinhos engarrafados e hoje a Cooperativa é uma das principais produtoras de espumantes e vinhos finos no Brasil.

MJ: Quais uvas fazem parte do portfólio da Cooperativa?  

Maiquel: Por sermos uma Cooperativa que antes era formada por 73 produtores, mas hoje em dia já somam 430 famílias associadas, espalhadas por 15 municípios da Serra Gaúcha, temos uma grande variedade de uvas. São dezenas e dezenas de castas de uvas diferentes, mas podemos destacar as principais: as que são utilizadas para espumantes riesling, Trebbiano, Moscato e Chardonnay. Para elaboração dos vinhos tintos, Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc, Tannat. O Pinot Noir, que pode ser utilizado para corte de vinhos, vinhos rosê, vinhos tintos e espumantes. Para a produção de mesa temos o suco de uva, que são feitos com 100% de uvas, essas Bordeaux e Isabel.

MJ: Qual é a sensação de ganhar pelo segundo ano o prêmio do concurso de vinhos da América Latina, o chileno Catad’Or World Wine Awards?

Maiquel: A Cooperativa vem, ao longo dos anos, se destacando internacionalmente nos concursos que atestam, principalmente, a qualidade dos nossos espumantes. A Garibaldi se tornou em 2018 e 2019 a vinícola mais premiada do Brasil. Esse ano já acumulamos 94 premiações entre nacionais e internacionais, claro que destacamos como a principal referência esta premiação do Catad’Or que nos elegeu pelo segundo ano (primeiro foi em 2018) como o melhor espumante do Cone Sul através do Moscatel, um espumante doce que é elaborado pelo processo Asti, que nasceu lá na Itália, feito exclusivamente com uvas Moscato. É um produto que vem crescendo muito no cenário nacional, um produto que entrou no dia a dia brasileiro, que vai de encontro ao perfil de consumo dos brasileiros por ser tropical, leve, verão e muito alegre. O que podemos levar dessa premiação é o compromisso de continuar apostando em novas tecnologias, apostando em conhecimento humano, principalmente a questão da profissionalização, que é o nosso principal valor por sermos uma Cooperativa. Temos como lema dar principalmente valor as pessoas, desde o associado, projetos internos, tecnologia e inovação, a gente consegue ofertar e oferecer produtos de alta qualidade.  O sentimento que fica é o de “continuar fazendo bem feito”, que é o nosso propósito ligado a pessoas, projetos e produtos. Tudo isso caminhando de uma forma harmônica, a gente consegue continuar entregando produtos de grande qualidade.

MJ: Em 90 anos de história, como avaliam as conquistas e dificuldades para chegar até aqui?

Maiquel: Se chegamos até aqui, foi graças às pessoas que por aqui passaram, que deixaram a sua trajetória dentro da Cooperativa. Desde a sua criação, até todas as evoluções, premiações, a primeira grande exportação de vinhos para o mundo a granel que fizemos parte naquele momento. Passamos por algumas dificuldades, principalmente na década de 70, talvez tenha sido um dos nossos piores períodos, mas com eles vieram grande aprendizados, o surgimento de novas marcas, o início de um novo posicionamento no mercado na década de 80. Nossa principal jornada tem sido a Cooperativa estar se empenhando cada vez mais, se posicionando no mercado como referência nacional em espumantes. O grande legado que fica desses 90 anos, para que possamos projetar os próximos 90, é o nosso capital humano, é a força dos nossos associados, para que juntos nós possamos entregar aos nossos consumidores boas experiências do vinhedo à mesa.

Investimento, inovação e tecnologia

Maiquel ainda deixa um recado importante aos consumidores brasileiros.

“Esperamos que o consumidor aposte cada vez mais na qualidade do produto brasileiro, independentemente de marca. Não é só nossa Cooperativa que vem mostrando a sua cara, é o setor vitivinícola brasileira que vem conquistando premiações internacionais, que vem trazendo reconhecimento, que vem crescendo o seu share de participação, inclusive dentro do território brasileiro. Temos produtos no Brasil, temos qualidade, temos diversidade com tecnologia e inovação, temos tudo o que possível for dentro desse vitivinícola para atender justamente esse consumidor que está carente de novos produtos, de estar inovando a todo o momento. Acredito que o que fica como legado é: “Para quem ainda está na dúvida de escolher um vinho brasileiro na gôndola de um supermercado, passe a ter certeza, ter essa confirmação de que a experiência será marcante.”

São inúmeras opções de vinhos nacionais que vale a pena degustar, afinal esse papo de que “Santo de casa não faz milagre” já caiu faz tempo. A dedicação e todo o investimento no setor nos prova que ainda tem muita coisa boa por vir.