Eliza Dinah, Jornalista- MG
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Na década de 1990, surgiu nos Estados Unidos e depois na Europa um novo conceito de companhia aérea. O modelo low cost (baixo custo) e low fare (baixa tarifa) revolucionou a indústria, democratizando o acesso ao transporte aéreo e transformando a experiência de viagem no mundo inteiro. Afinal, viajar pagando pouco, de forma acessível e rápida, é o sonho de qualquer um, não é mesmo?

O modelo low cost se expandiu em grande parte do mundo, especialmente na Europa, Estados Unidos e Ásia.

Quais são as características de uma companhia low cost?

Uma companhia aérea de baixo custo normalmente segue as principais características de negócio:

  • oferece apenas uma classe em seus aviões (não há as tradicionais classes econômica, executiva e primeira-classe);
  • usa apenas um tipo de aeronave (normalmente o Airbus A320 ou o Boeing 737), reduzindo custos de treinamento e de serviços associados;
  • oferece um sistema simples de tarifação (à medida que a capacidade do avião vai se esgotando em determinado voo, as tarifas aumentam, o que recompensa reservas com antecedência);
  • não se oferecem lugares marcados (reserva de lugar), encorajando os passageiros a embarcar o mais rápido possível;
  • prefere-se voar em horários não-preferenciais (muito cedo pela manhã ou noite avançada), reduzindo custos e evitando atrasos devido ao intenso tráfego aéreo;
  • os voos são vendidos separadamente para cada trecho, não sendo possível conexão, o que transfere ao passageiro o ônus de voos cancelados ou atrasos (a companhia vende bilhetes sem escalas intermediárias de conexão e não se responsabiliza por combinações feitas pelos passageiros com outros voos da companhia ou de outra empresa);
  • ênfase na venda direta a passageiros, especialmente pela Internet, evitando taxas e comissões pagas a agentes de viagem, operadoras turísticas e sistemas eletrônicos de reserva;
  • os funcionários exercem vários serviços, por exemplo, comissários de bordo também limpam o avião ou atendem os portões de embarque, o que reduz o custo com pessoal;
  • serviço de bordo gratuito é eliminado, sendo cobrado qualquer serviço diretamente do passageiro (bebidas, lanches, fones de ouvido).

Mercado na Europa

As companhias aéreas low cost da Europa são uma excelente maneira de economizar nos deslocamentos durante uma viagem pelo Velho Continente. Modernas, empresas como Ryanair e Easyjet operam malhas enormes com baixo custo e oferecem passagens promocionais com preços incríveis.

“Quando viajei pra Europa em 2017, não tinha muito dinheiro, mas queria visitar minha namorada que estava fazendo intercâmbio em Portugal. E chegando lá, claro que eu queria poder conhecer um pouco mais de outros países. Foi aí que descobri as companhias aéreas de baixo custo, que foi uma forma superacessível de viajar” conta Leonardo Augusto, de 28 anos.

O mineiro trabalhou no ramo da aviação no Brasil, por seis anos, e conta que experienciar uma verdadeira companhia low cost foi um processo importante para ele: “é tudo muito diferente. Lá, as comissárias vendem produtos e alimentos durante toda sua viagem, há também o fator menos conforto nos aviões, e um atendimento mais ‘frio’ por parte dos funcionários. Sem contar que pagamos tudo a parte: bagagem, marcação de acento, um copo d’água etc.”

Leonardo relembra que, saindo de Portugal, conseguiu conhecer outros 9 países, por tarifas supereconômicas, e em um serviço que por diversos momentos estava mais em conta do que outras opções, como ônibus e trens. “Eu paguei, por exemplo, 25 euros no trajeto Portugal > Alemanha. Na época, isso equivalia a R$ 90,00. Surreal pensar que com R$ 90,00 aqui no Brasil não consigo nem pagar a passagem de ônibus para viajar para fora de Minas Gerais. Enquanto isso, no valor correspondente, eu fiz um trajeto de 2h para outro país”.

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Foto: Arquivo Pessoal/Leonardo Augusto

Brasil

Desde 2019, a lei 13.842/2019 permitiu a participação de 100% de capital estrangeiro em empresas aéreas brasileiras e facilitou a entrada das cias low costs no Brasil com tarifas muito competitivas. Mas, infelizmente, a estabilização de companhias com esse perfil aqui no Brasil ainda não decolou de fato. Hoje não contamos com nenhuma verdadeira low cost operando voos dentro país.

Uma legítima low cost nacional foi a companhia Webjet, que não só vendia passagens baratas, mas obrigava as concorrentes a derrubarem suas tarifas nas rotas onde operava. A empresa operou durante alguns anos, mas, em 2011, foi comprada pela GOL.

Apesar de se intitularem como empresas de baixo custo e até ganharem prêmios internacionais de low cost, a Azul e a Gol não oferecem preços incríveis aos clientes. As companhias podem até ter diversas operações de baixo custo, como cobrança de mala, marcação de assento e operação com um tipo único de aeronave (GOL). Entretanto, elas não são low fare como vemos em muitos outros países. E no final, nós passageiros pagamos mais e voamos menos.

Em 2018, começaram a surgir empresas de baixo custo e tarifa interessadas em operar voos internacionais para o Brasil. É o caso das chilenas Sky Airline e JetSmart, a norueguesa Norwegian e a argentina Flybondi. Porém, nesses três casos, há uma coisa em comum: as altas taxas de embarque no Brasil, Argentina, Chile e Inglaterra. São países que têm os maiores custos aeroportuários do mundo, um verdadeiro entrave para que os preços finais cheguem ao consumidor tão baixos como estamos acostumados a ver na União Europeia, por exemplo.

Recentemente, a companhia aérea espanhola Air Nostrum apresentou um pedido para operar voos domésticos no Brasil. Mas ainda é cedo para afirmar se o pedido vai ou não sair do papel, já que tivemos o caso do grupo Globalia, que, em 2019, chegou a iniciar o processo de certificação, mas depois vendeu sua operação aérea para a Iberia.