Por Ana Luiza Timm Soares
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Dia desses, um ex-aluno me pediu dicas de livros sobre Marketing de Moda. Prontamente fui ao site da editora com um dos melhores acervos de obras em português sobre o tema – a Gustavo Gilli – e me deparei com a mensagem de que a mesma encerrou suas atividades aqui no Brasil.

Tempos atrás, também havia esbarrado em promoções bastante tentadoras da Bookman (que ainda estão no ar!) e vários livros já estavam em falta. Ora, é claro ficamos bem felizes em pagar menos, mas já vem aquela pulga atrás da orelha: será que vão cessar a publicação de livros de Moda também?

Vivemos tempos sombrios para a cultura, e entre incêndios por descaso na Cinemateca e no Museu Nacional, cortes de verbas no setor, entre outras “benesses” (tsc) do atual “governo”, destaco aqui a pretensão de tributar com a Contribuição sobre Bens e Serviços a edição, comercialização e importação de livros, conforme o Projeto de Lei nº 3.887/2020, em tramitação na Câmara dos Deputados.

Voltando um pouco na história, você sabia que foi a partir da expressão em latim texere que as palavras texto e tecer surgiram? Nesse sentido, temos licença gramatical e poética para dizer que as roupas contam histórias. Tecem memórias.

Texto Tecido

Transformar a passarela em poesia é uma característica do estilista brasileiro Ronaldo Fraga, o qual já buscou inspiração para suas coleções em escritores como Guimarães Rosa e Carlos Drummond de Andrade. A literatura clássica também já inspirou a designer inglesa Olympia Le-Tan, que desenvolveu clutches-livro e caiu nas graças de algumas nerds hollywoodianas, como Natalie Portman.

Mais recentemente, Pierpaolo Piccioli, diretor criativo da maison Valentino, imprimiu trechos de poemas de autores contemporâneos e os utilizou não só nas estampas de sua coleção outono/inverno 2019/20, como também colocou alguns deles encobertos sob as camadas de tecido, aguardando a surpresa de leitorxs vorazes. O flerte dos estilistas com as palavras faz verso e prosa nos desfiles mundo afora.

Trama Urdida

Por outro lado, escritores se apropriam das vestes para descrever com exatidão certas características de seus personagens, criando sujeitos em seus universos imaginários. O filósofo Brunno Maia discute estas relações entre a Literatura e o Vestir de forma magistral, e podemos ver um pouquinho sobre este trabalho aqui.

Nesse sentido, como figurino a roupa adquire importância crucial na construção das personas, tecendo as tramas de cada protagonista, coadjuvante e mesmo figurante de determinada história. Mas estas narrativas permitem ao leitor criar detalhes de acordo com sua própria imaginação, tornando cada experiência literária única.

Contextura

Assim também é (ou deveria ser) a Moda. Reinventamos as tendências de acordo com nosso estilo pessoal. Aliás, podemos sequer saber qual é “o último grito” em voga no momento, mas concordamos que – ainda 😛 – não podemos sair nus pelas ruas. Afinal, vestir-se (ou despir-se) também é um ato político e, portanto, necessário.

Diz o poeta que “a gente queima todo dia mil bibliotecas de Alexandria”. Igualmente marcas de luxo incineram roupas, calçados, perfumes e acessórios em nome da exclusividade, evitando a venda destes produtos a preços reduzidos em outlets e super sales. Vivemos a era do fogo obscurantista que tudo consome. Segundo outra obra necessária à atualidade, o papel queima a 451 graus Fahrenheit. Mas parece que não precisamos de fogo para acabar com os mesmos. Basta taxá-los de forma abusiva.

Em tempos de queimaduras por líquidos inflamáveis aumentando assustadoramente por conta do preço do gás, os incêndios mais urgentes são os que causam vítimas diretas. Mas também devemos lutar contra as fogueiras simbólicas.

Até a próxima. Se ainda houver texto a ser lido.