Por Giulia Ghigonetto-São Paulo
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Seja para comemorar o Halloween ou o Dia do Saci, o fato é que dia 31 de outubro é sinônimo de festa, doces, travessuras e fantasias.

Apesar de ser uma data tradicionalmente celebrada nos EUA, o Halloween tem sido festejado por diversos outros países, inclusive o Brasil. 

Aqui, o evento tem ganhado destaque nos últimos anos, mas afinal, qual é a origem dele?

O Halloween, na verdade, vem do Reino Unido, onde seu nome deriva de “All Hallows’ Eve”. “Hallow” significa “santo”, e “eve” é “véspera” em inglês. O termo marcava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro.

Desde o século 18, alguns historiadores veem um antigo festival pagão como originário do Halloween. O Samhain (termo para o “fim do verão”), era um evento celta, que ocorria na Irlanda e na Escócia. Ele durava três dias e começava em 31 de outubro e era uma homenagem ao “Rei dos mortos”, com fogueiras e a comemoração da abundância de comida após a época de colheita.

Acreditava-se que nesse dia os mortos se levantavam e se apoderavam dos corpos dos vivos. Por isso, eram usadas fantasias e a festa era repleta de artefatos sombrios com o intuito de se defenderem desses maus espíritos. Também lhe ofereciam comida, como forma de apaziguar os maus, para isso, as mulheres celtas faziam um bolo chamado de “bolo da alma”.

A comemoração e seu o significado do festival de outubro mudavam conforme a região, como, por exemplo, no País de Gales onde celebravam o “Calan Gaeaf”. 

Em meados do século 8, o papa Gregório III mudou a data do Dia de Todos os Santos de 13 de maio – a data do festival romano dos mortos – para 1º de novembro, exatamente a mesma data do Samhain.

Não se tem certeza se ele ou seu sucessor, Gregório IV, tornaram a celebração do Dia de Todos os Santos obrigatória na tentativa de “cristianizar” o Samhain. Mas a nova data fez com que a celebração cristã dos santos e a do festival celta fossem unidas, de forma que tradições pagãs e cristãs acabaram se misturando.

Apesar de acontecer na mesma época do ano que o atual Halloween, a teoria de que essa seja sua origem não possui muitas evidências. 

O dia como conhecemos hoje

O Dia das Bruxas, propriamente dito, tomou forma entre 1500 e 1800.

Fogueiras tornaram-se populares a partir no Halloween, já que eram usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita no Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no purgatório ou para repelir bruxaria e a peste negra.

Um costume da festa naquela época era o de prever a data da morte de uma pessoa ou o nome do futuro marido ou mulher através de alguns rituais que envolviam a agricultura. Por exemplo, uma pessoa puxava uma couve ou um repolho do solo por acreditar que seu formato e sabor forneciam pistas sobre a profissão e a personalidade do futuro cônjuge.

Outras tradições incluíam pescar com a boca maçãs marcadas com as iniciais de diversos candidatos e a leitura de cascas de noz ou olhar um espelho e pedir ao diabo para revelar a face da pessoa amada.

A comilança era um fator fundamental do Halloween. Um dos hábitos mais simbólicos era a ida de crianças de casa em casa cantando rimas ou dizendo orações para as almas dos mortos. Em troca, eles recebiam bolos de boa sorte que representavam o espírito de uma pessoa que havia sido solta do purgatório.

Americanização do feriado

As primeiras evidências da festa no novo continente surgiram após o período conhecido na Irlanda como a “Grande Fome”, em 1945, o que fez com que 1 milhão de pessoas imigrassem para os Estados Unidos. 

As tradições norte-americanas justavam brincadeiras rurais do Reino Unido com rituais de colheita estadunidenses. Por exemplo, as maçãs usadas para prever o futuro pelos britânicos viraram a cidra, servida junto com rosquinhas.

O milho, alimento importante na agricultura americana, foi incorporado a celebração, no início do século 20, com espantalhos sendo muito usados em decorações do Dia das Bruxas.

Também foi por lá que a abóbora passou a ser sinônimo de Halloween. Uma lenda irlandesa chamada “Jack da Lanterna” deu origem às luminárias feitas com abóboras. Jack era um beberrão que, enganando o diabo, conseguiu escapar do inferno. Ao morrer, ele não foi aceito no céu, de modo que sua alma passou a vagar pelas noites usando uma lanterna para iluminar o caminho. 

Na história original a lanterna era feita com um nabo, mas levando em conta a abundância de abóboras na época da festa nos Estados Unidos, elas tomaram conta da decoração da festa e substituíram o nabo. 

Quanto as travessuras, há indícios disso em brincadeiras medievais que usavam repolhos, mas pregar peças tornou-se um costume nesta época do ano entre os americanos a partir dos anos 1920.

Já a tradição do uso das fantasias veio após a transmissão pelo rádio de Guerra do Mundos, do escritor inglês H.G. Wells, que gerou uma grande confusão quando foi ao ar, em outubro de 1938.

Ao terminar a história, o ator e diretor americano Orson informou seus ouvintes que tudo não passava de uma pegadinha de Halloween e comparou seu papel ao ato de se vestir com um lençol para imitar um fantasma e dar um susto nas pessoas.

Atualmente, a festa tem diversas finalidades como celebrar os mortos ou a época de colheita, marca o fim do verão e o início do outono no hemisfério norte, além de dar a oportunidade para que adultos brinquem com seus medos e se fantasiem de uma forma socialmente aceitável, como o nosso Carnaval. Com isso, o Halloween se tornou o maior feriado não cristão dos Estados Unidos. 

Dia 31 no Brasil 

Para evitar a americanização, resgatar e valorizar o folclore do nosso país, promover a cultura nacional e as tradições brasileiras., desde 2013, dia 31 de outubro também é marcado pelo Dia do Saci, através do Projeto de Lei Federal n.º 2.762 proposto pelo Deputado Aldo Rebelo em 2003.

“Instituir o ‘Dia do Saci’ representa oferecer à sociedade um instrumento de valorização da cultura popular como elemento fundamental na constituição da identidade brasileira. Por meio da previsão anual da comemoração da data, na forma de eventos culturais e atividades festivas, as iniciativas propõem o resgate e a valorização de nossas tradições e manifestações folclóricas originais.”, diz o projeto.

No documento também diz que a escolha da data se diz pertinente já que “A comemoração do Halloween no Brasil – como tantas outras celebrações da cultura norte-americana de forte apelo comercial – tem atraído cada vez maior número de jovens e crianças. Criar, na mesma data, o “Dia do Saci” é, portanto, uma forma de se oferecer à juventude brasileira a alternativa de festejar as manifestações de sua própria cultura.”

O Saci-pererê é uma das figuras mais emblemáticas do nosso folclore e possui influências indígena e africana.

Há quem diga que a lenda teve origem no Sul do Brasil, durante o século XVII, onde era contado a história de um jovem índio que assustava os animais e vivia fazendo travessuras. 

Porém, quando o mito chegou ao norte do país, as características do personagem mudaram. Passou a ser negro, usar um gorro vermelho e a fumar um cachimbo (por influência da cultura africana na região). A história também descreve o Saci como tendo apenas uma perna, pois a outra teria perdido em uma luta de capoeira.

Dizem que ele costuma atrapalhar o trabalho das cozinheiras, trocando os recipientes de sal e açúcar ou fazendo-as queimar a comida. Ele também tem o domínio das matas, é o guardião das ervas e das plantas medicinais, conhecendo suas técnicas de manuseio e de preparo. 

O personagem do folclore brasileiro ganhou popularidade graças a Monteiro Lobato, que o colocou em destaque em sua obra “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. 

E você, vai celebrar o que no dia 31 de outubro?