Por Ana Luiza Timm Soares 

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista 

Certa vez me fizeram a seguinte pergunta: – Qual é a grande lição que a Moda tem para dar, a teu ver? Na hora, fiquei um tanto atordoada com a questão, pois a complexidade dela me parecia algo como “de onde vem os bebês?” para uma criança em fase curiosa.

No segundo seguinte, após pensar um pouquinho na relação que venho desenvolvendo com o tema, respondi sem hesitar: – Acredito que a moda tenha um importante papel na construção das identidades individuais, reverberando através da imagem cada crença e ideal de sociedade que almejamos. Para mim, a moda deve ser vista como um vetor de transformação dos sujeitos e de seu entorno!

Lembrei-me deste fato enquanto assistia ao live-action Cruella, que estreou esta semana na plataforma de streaming Disney+, trazendo a atriz Emma Stone no papel da personagem-título. Mesmo que ainda não tenhas visto a nova versão, certamente vais te lembrar da famosa vilã de 101 Dálmatas, a qual não media esforços para transformar em roupa as mais lindas peles, se dispondo a sacrificar até mesmo uma numerosa família de “indefesos” doguinhos pintados.

Foto: Divulgação/Cena do filme Cruella (2021)

O enredo de 2021 mostra as origens da maldade de Cruella DeVil – inicialmente chamada de Estella – uma aspirante a estilista com certos desvios de caráter que acabam sendo incentivados pela mentora Baronesa, ainda mais sem escrúpulos. Desvelando o lado obscuro da Moda, o filme traz à luz diversos temas caros ao universo fashion, como a falta de ética para com os trabalhadores do setor, o fomento à indústria da cópia e a apropriação cultural em nome do lucro.

Fazendo um paralelo com a vilã, lembrei-me de outro conto de fadas que certamente fez parte da infância da maioria por aqui: Cinderela. Quem aí se lembra da relação entre a “gata borralheira” – sim, sou vintage 😛 – com os animaizinhos domésticos e da floresta? Ela era tão querida por todos que um mutirão de ratinhos costureiros foi formado para dar origem ao vestido dos sonhos que Cinderela vestiria no grande baile oferecido pelo príncipe.

Foto: Divulgação/Cena do filme Cinderela (1950)

O resto da história a gente sabe na ponta da língua, mas a reflexão que trago aqui vai além do maniqueísmo vilã X mocinha, até porque os contos atuais estão mais para entender a complexidade na formação do caráter de determinado personagem do que simplesmente apontar o dedo para o mesmo. É claro que Cruella não pode ser descrita como “boazinha”, mas entendemos um pouco mais sobre o processo que tornou-a que é, e como podemos fugir deste cenário que aparentemente nos foi imposto.

Em se tratando de Moda enquanto consumo, podemos apoiar marcas que ainda se utilizam de modos de produção cruéis – como o uso de peles de animais, só para citar um exemplo que ORNA com o texto – ou apostar naquelas que acreditam em um propósito maior, na construção de uma coletividade mais justa e, principalmente, humana. O que vestimos e como vestimos é, sim, um ato político. Já te vestiu de ti hoje?

Até a próxima!