Por Sara Café, jornalista
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

O uso da tecnologia na saúde vem impactando a vida das pessoas e a eficiência de instituições públicas e privadas do setor

 

A saúde pública é um campo multidisciplinar que se preocupa com a promoção, proteção e melhoria da saúde da população, envolvendo ações governamentais, iniciativa privada, instituições sociais e a participação da sociedade. Por isso, o futuro da medicina é colaborativo, inteligente e conectado.

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), a tecnologia na saúde é “a aplicação de conhecimentos e habilidades organizados na forma de dispositivos, medicamentos, vacinas, procedimentos e sistemas desenvolvidos para resolver um problema de saúde e melhorar a qualidade de vida.”

No primeiro semestre de 2023, a OMS também lançou um relatório intitulado “Tecnologias emergentes e inovações científicas: Uma perspectiva global de saúde pública”. Esse documento identifica as inovações mais promissoras em ciência e tecnologia capazes de impactar significativamente a saúde mundial.

De acordo com Wilson Shcolnik, Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), a medicina diagnóstica é um dos setores que se beneficiam dessas inovações, podendo disponibilizá-las imediatamente a pacientes.

“Temos alguns exemplo como o desenvolvimento de diagnóstico viral de baixo custo; a triagem pré-natal genômica universal e a identificação de distúrbios metabólicos e congênitos, é possível obter diagnósticos precisos e orientar o manejo e o tratamento dessas condições de forma mais eficiente; e o diagnóstico remoto rápido por meio de dispositivos, como telefones celulares, relógios inteligentes e sensores vestíveis”, avalia. 

Dados de saúde abertos 

A integração e a adoção da tecnologia na área da saúde trazem consigo uma série de benefícios. Seguindo a mesma iniciativa inovadora do sistema Open Banking, o Open Health (saúde aberta) vai além da possibilidade de conectar sistemas às instituições, o objetivo representa uma maior acessibilidade, agilidade e transparência em todo o ecossistema de saúde.

Allan Bruzulatto, diretor de Novos Negócios na Philips, em matéria da Medicina S/A afirma que o mercado brasileiro tem evoluído nos últimos anos no Open Health e empresas líderes no segmento têm inovado em iniciativas ligadas ao assunto.

“De acordo com o Future Health Index 2023, pesquisa proprietária da Philips, quase metade dos líderes de saúde no Brasil (48%) deseja que a gestão em sua instituição construa parcerias fora de seu sistema de saúde. O número é superior à média global de 36%”, afirma. 

Embora existam esforços para modernizar a gestão e o atendimento dos pacientes, diversos fatores impedem uma transição suave e completa para um sistema de saúde mais tecnológico. Um desafio comum a todas as áreas da sociedade e dos negócios é a digitalização e a necessidade da interoperabilidade entre os sistemas e soluções. 

Na pesquisa realizada pela consultoria de healthtech FOLKS com profissionais da saúde de 131 entidades públicas, privadas e filantrópicas em 21 estados brasileiros, a maior oportunidade para inovação está na área de assistência e recepção ao paciente (48%), seguida do setor financeiro (32%) e as unidades de atendimento e internação (25%).

É uma jornada complexa que envolve uma combinação de investimentos em infraestrutura, capacitação de profissionais, superação de resistências culturais e regulamentações adequadas. Superar esses desafios é fundamental para melhorar a eficiência, a qualidade e a acessibilidade dos serviços de saúde oferecidos à população.

“É uma área em que o Brasil é mais dependente hoje, e que possui um valor agregado muito alto. Nós precisamos criar um ecossistema, com a academia e a sua produção de conhecimento, o governo apoiando e investindo, e as empresas do outro lado para vincular esses conhecimentos, fortalecendo a ideia de cientista empreendedor”, pontuou o médico e professor Odorico Monteiro, coordenador de Inovação da Fiocruz Ceará. 

Imagem: reprodução/Veja Saúde

7 tendências de tecnologia em saúde

Diversas soluções digitais já são realidade em clínicas e hospitais em todo o Brasil e ao redor do mundo. Para 2024, é esperada a ampliação de uma série de ferramentas e a consolidação de novas práticas que serão habilitadas a partir do desenvolvimento de tecnologias, como 5G, metaverso e blockchain.

Conheça as principais tendências tecnológicas que deverão guiar a evolução da medicina ao longo deste ano.

  • Planos de saúde digitais: serviço focado no atendimento à distância via aplicativo, permite que usuários tenham acesso à comunicação com a equipe médica 24 horas por dia. Dessa forma, é possível relatar sintomas e ser acompanhado remotamente durante o tratamento;
  • Internet das Coisas Médicas (IoMT): os dispositivos e apps da IoMT têm papel central no monitoramento e na prevenção de doenças crônicas. Um exemplo é o uso dos wearables (vestíveis) como monitores portáteis de frequência cardíaca, permitindo que médicos acompanhem seus pacientes remotamente;
  • Inteligência Artificial (AI) e Machine Learning: pode ser usada na busca por novos medicamentos e possíveis tratamentos para doenças existentes. Além disso, softwares de AI também são utilizados para realizar diagnósticos, tratamento personalizado e redução dos ciclos de desenvolvimento de medicamentos;
  • Realidade virtual, aumentada e metaverso: através dessas tecnologias, os profissionais de saúde podem, por exemplo, planejar operações, terapias e analisar os resultados prováveis de diversos procedimentos por meio de uma simulação de computador. A Realidade Aumentada pode ser usada, ainda, para treinar profissionais de saúde e testar novas operações de laboratório;
  • Big Data: adoção do modelo open health na saúde pública brasileira. A proposta é criar uma plataforma integrada para o compartilhamento das informações médicas sob consentimento do usuário. Os dados abertos também podem auxiliar no desenvolvimento de pesquisas médicas e fornecer insumos para o aprimoramento das ferramentas de IA;
  • Cirurgias robóticas à distância: uma grande expectativa do setor é que, com a consolidação da tecnologia 5G, as cirurgias à distância comecem a fazer parte do cotidiano dos hospitais. Conforme apurado em reportagem da Veja Saúde, de dezembro de 2022, a China já realizou testes bem-sucedidos de procedimentos a distâncias curtas. Em um futuro próximo, um cirurgião de outro continente poderá realizar operações robóticas remotas;
  • Uso de soluções tecnológicas na gestão de clínicas: Inovações como Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP), agendamento online, receita digital, soluções como computação em nuvem, aplicações no modelo Softwares as Service (SaaS), dentre outras, estão sendo incorporadas de maneira acelerada nas empresas médicas, aprimorando o atendimento e a gestão.

Estratégia de Saúde Digital para o Brasil

O Ministério da Saúde tem o papel de liderar o desenvolvimento da Estratégia de Saúde Digital para o Brasil, no período de 2020 a 2028 (ESD28). Esse documento funciona como um guia para que as atividades e projetos, públicos e privados, potencializem ainda mais, com ideias alinhadas, para a transformação da saúde digital no Brasil.

O Plano de Ação para a Saúde Digital 2020-2028 também apresenta sete prioridades: 

  • Governança e liderança para a ESD: implementação de políticas de informatização dos sistemas de saúde e a potencialização e integração da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS);
  • Informatização dos três níveis de atenção: a intenção é induzir a implementação de políticas de informatização dos sistemas de saúde, acelerando a adoção de sistemas de prontuários eletrônicos e de gestão hospitalar como parte integradora de processos de saúde;
  • Suporte à melhoria da atenção à saúde: fazer com que a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) ofereça suporte às melhores práticas clínicas, por meio de serviços, como telessaúde, e apps desenvolvidos no Ministério da Saúde ou por colaboradores;
  • O usuário da Saúde Digital como protagonista: a Pasta pretende realizar o engajamento de pacientes e cidadãos para promover a adoção de hábitos saudáveis e o gerenciamento de sua saúde e da sua família;
  • Formação e capacitação de recursos humanos para a Saúde Digital: irá garantir o reconhecimento da informática em saúde como área de pesquisa e o formação em saúde como profissão;
  • Ambiente de interconectividade: potencializará o trabalho colaborativo em todos os setores da saúde para que tecnologias, conceitos, padrões, modelos de serviços, políticas e regulamentações sejam postos em prática; 
  • Ecossistema de inovação: criação de um laboratório de inovação, que tem como objetivo desenvolver diretrizes e fomentar novas ideias de acordo com as necessidades do Sistema Único de Saúde.

 

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