Por Adriana Buarque, Jornalista – SP
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Mulheres conquistam mais espaço numa prática normalmente voltada aos homens

A bola oval chama a atenção e, normalmente, a primeira ideia que vem à cabeça é o futebol americano, com seus jogadores usando capacete e ombreiras. Só que não: o rugby originou-se na Inglaterra, mais especificamente na escola da cidade que dá nome ao esporte, em Warwickshire. Reza a lenda que sua origem começa em 1923, quando um estudante chamado William Webb Ellis fez uma jogada irregular e pegou a bola com as mãos, atravessando o campo em direção ao gol do time contrário, desviando dos jogadores até chegar à linha de fundo e colocar a bola no chão.

Embora algumas teorias remontem à antiguidade europeia e à China e ao Japão, jogos não mais existentes são considerados referência para o rugby. Por exemplo, o Harpasto (em latim: Harpastum, e significa “lágrima” ou “rasgado a força”), praticado por antigos romanos, era disputado por duas equipes em um terreno retangular demarcado e dividido pela metade por uma linha. Os jogadores de cada time podiam passar uma pequena bola entre eles, e o objetivo da partida era enviá-la ao campo contrário.

Harpasto Romano / Imagem: Wikipédia

Um outro exemplo é o Epísquiro (“Episkyros”, ‘bola comum’), jogo com bola praticado durante a antiguidade grega. Realizado por duas equipes, normalmente entre 12 e 14 pessoas cada, de acordo com as regras era permitido o uso das mãos e costumava ser violento, pelo menos em Esparta. Os times tentavam lançar a bola por cima da cabeça dos competidores adversários, com uma linha branca entre elas e outra atrás de cada uma. Os times passavam a bola entre si até que um jogador chegava à linha marcada.

Atualmente, o rugby é considerado um esporte dinâmico e coletivo, diferente de qualquer outro no gênero, com regras que dão o título de ‘esporte para cavalheiros’. Além disso, é também o segundo desporto em grupo mais praticado no planeta, logo atrás do futebol. “O treino pode começar a partir dos 5 anos de idade”, informa o head coach da seleção adulta feminina Yaras, William Broderick, membro da Confederação Brasileira de Rugby (CBR). Há dez anos no Brasil, o treinador inglês afirma que uma atleta de alto rendimento exercita cinco vezes por semana.

Percurso imprevisível e regras distintas

O jogo é relativamente simples, com a bola oval como o centro das atenções no campo. Seu formato peculiar surpreende jogadores e espectadores pois o seu percurso não é previsível: ela não é passada para frente, como no futebol, mas para trás com as mãos de jogador para jogador. A pelota pode também ser chutada para frente, dependendo da estratégia do time. Não existe uma goleira, já que todos as desportistas entram em campo com o propósito de dar o melhor de si para levar o seu time à vitória.

É um esporte violento? Não, o rugby é um esporte de conhecimento técnico e extremamente competitivo, requer paixão, espírito de equipe e boa disposição. “É uma modalidade que exige força, velocidade, resistência e potência”, comenta o preparador físico Felipe Schutz, da CBR. Segundo ele, a preparação física das atletas é muito direcionada para a melhora dessas capacidades, seja na academia ou dentro do campo.

Imagem: Confederação Brasileira de Rugby

Um jogador que tenha um bom conhecimento das particularidades da partida terá um bom resultado. ”Habilidades mentais como foco e determinação de objetivos individuais e coletivos são sempre trabalhados com as atletas”, continua Schultz. O jogo exige contato físico para impedir o time contrário de levar a bola até o outro extremo do campo, a modo de defesa, entretanto não chega a ser um risco se machucar com gravidade, mesmo porque somente quem está com a bola pode ser derrubado. Dessa forma, o competidor sabe em que momento pode entrar em choque com o adversário e estar preparado para o baque, ao contrário de muitos outros esportes em que este tipo de reação física não é esperada e nem visual, vinda de todas as direções e provocando graves lesões.

Uma grande vantagem do rugby é ser um dos poucos esportes que chega a desenvolver todos os músculos do corpo através da diversidade de movimentos efetuados durante o jogo. A perda de calorias estimada (para uma pessoa de 75 quilos) chega a 510Kcal por 40 minutos de partida, sendo que no futebol o atleta perde apenas 340Kcal no mesmo período de tempo.

Nutrição e biotipo

De acordo com o preparador físico Felipe Schultz, quanto o balanço nutricional, é necessária “uma alimentação rica em energia, em que o principal macronutriente é o carboidrato (algo em torno de 6g/kg de peso corporal), mas também com um aporte proteico adequado para construção e reparação muscular (algo em torno de 2g/kg de peso corporal); além disso, um foco muito grande em alimentos antiinflamatórios e antioxidantes para recuperar os atletas após sessões de treinos e jogos.”

O tipo físico do jogador de rugby não é definido, cada um é bem aproveitado dentro do time no local onde melhor possa se desenvolver. “É um esporte que cabe vários biotipos, pois precisa de diferentes capacidades antropométricas e físicas para cada uma das posições”, afirma Rafaela Turola, head coach do time feminino juvenil, as Yarinhas, também da CBR. Dentro da equipe deve existir camaradagem, pois cada pessoa funciona como uma engrenagem dentro de uma máquina.

Imagem: Confederação Brasileira de Rugby

E o preconceito em relação às mulheres? “No geral, a prática desportiva em si só já carrega o preconceito da prática feminina e no rugby não é diferente, porém vejo cada vez mais nós, mulheres, conquistando espaço”, defende Rafaela. O interesse dela pelo esporte surgiu com uma amiga que namorava um rapaz do rugby e as incentivou a montar um time durante a época da faculdade. Ironia do destino, a colega nunca apareceu num treino.

O rugby é atualmente jogado em mais de 150 nações do mundo, sendo que Austrália, Nova Zelândia e Inglaterra são alguns dos países que mais praticam o esporte, também realizado na África, França, Itália, Ilhas Fiji, entre outros.

Momento de concentração antes da partida

“Nos dias da competição, cada atleta tem seu próprio ritual para se concentrar para os jogos, podendo ser desde ouvir sua própria música enquanto assiste às partidas, como conversar entre si sobre diversos assuntos, como o plano de jogo, apresentado pelo treinador ou treinadora pouco antes de as atletas irem para o aquecimento”, completa o preparador Felipe.

A Copa do Mundo de Rugby Feminino é a competição mais importante entre as mulheres. Acontece a cada 4 anos, sendo o terceiro maior evento esportivo do mundo e é organizado pela World Rugby regularmente desde a sua primeira edição, em 1991. Sua mais recente etapa foi disputada na Nova Zelândia – país vencedor do torneio –, entre os dias 8 e 13 de outubro de novembro, e a próxima será na França, em 2023.