Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Como é a rotina de pets que ganharam a fama e de seus tutores

Qual o preço da fama? Para alguns, ser reconhecido na rua, ganhar benefícios, mimos e ainda ser remunerado por isso é o ápice do sucesso e da vida boa. Nos últimos anos, a internet abriu espaço para uma profissão denominada como Influencer. De acordo com a FIA (Fundação Instituto de Administração), “influenciar significa induzir alguém a fazer alguma coisa, a se comportar de determinada maneira ou pensar de um modo específico. Portanto, o influenciador é quem exerce influência. Os influenciadores digitais são pessoas que se expressam através das redes sociais, gerando conteúdo e, por meio dele, impactam indivíduos e comunidades. As pessoas, ao longo do tempo, passam a gostar desses influenciadores e confiam no que dizem. Seu público se torna numeroso, leal e engajado. Por isso, os influenciadores ditam comportamentos e até a mentalidade de seus seguidores em relação aos temas que abordam.”

Uma pesquisa divulgada no ano de 2019 pelo IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) revela que, dos 2.000 entrevistados, 60% dos residentes no Norte brasileiro afirmaram acompanhar perfis de influenciadores digitais, já no Nordeste são 56%, seguidos pelas regiões Sudeste e Centro-Oeste com 52% e Sul com 41%. A pesquisa divulga também um aumento significativo do uso das mídias sociais entre os anos de 2017 a 2019, pois chegamos à marca de 38 milhões de usuários, sendo mais da metade desses internautas consumidores do segmento de digital influencers com regularidade. Eles ainda afirmam levar em consideração, no momento de fechar a compra, as sugestões dadas pelo segmento. As plataformas mais utilizadas são Youtube, Instagram e Facebook, porém, cada vez mais, percebe-se um investimento em novas redes que já apresentam um crescimento significativo.

Natureza, amor e sucesso

Assim podemos definir a trajetória do labrador chocolate, conhecido como Bono Surf Dog. Bonão (para os mais íntimos) chega aos 11 anos de idade com uma trajetória de tirar o fôlego. Querido nas redes sociais, pois acumula as marcas de 225 mil seguidores no Instagram, 105 mil no Tik Tok e um canal no YouTube de sucesso com 3,73 mil inscritos, Bono é pentacampeão mundial de surf dog e campeão brasileiro.

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Ivan Moreira e Bono Surf Dog pegando onda. Foto: Acervo Pessoal/Ivan Moreira

Com cinco meses de idade, seu tutor, o empresário Ivan Moreira, comprou uma prancha de SUP e o colocou em cima. Foi amor à primeira vista! Bono amou e, a partir daí, começaram a remar juntos. Com tempo e treino, Ivan se sentiu seguro para descer as primeiras ondas e percebeu que o Bono estava curtindo.  Nascia então uma dupla de sucesso, das ondas do Leblon para o mundo. Bono já conheceu Miami, Nova York, Hawai, Perú, Califórnia, entre outros lugares. A dupla entrou no Guinness Book com a onda mais longa surfada na pororoca do Rio Amazonas. Foram 10k e 410 metros, em um tempo de 33 minutos e 7 segundos. 

O labrador surfista foi o primeiro influenciador pet da marca BMW e, atualmente, possui parcerias com várias outras marcas bem conceituadas no mercado pet, além de ter sua própria série de TV a cabo, onde é o protagonista.

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Ivan Moreira e Bono Surf Dog em trilha. Foto: Acervo Pessoal/Ivan Moreira

A fama também pode proporcionar visibilidade e apoio para causas nobres, como é o caso do trabalho voluntário que Ivan e Bono realizam na Casa Ronald Mc Donald, junto às crianças com câncer, e na obra do Berço, localizada na Lagoa.

A família cresceu

Há um ano e três meses, a responsabilidade do atleta aumentou com a chegada da sua filha Cacau. A família ainda tem mais dois membros de quatro patas, um Bull Terrier, chamado Bigorna, e a mais nova integrante Moqueca. Para proporcionar maior qualidade de vida à família, Ivan e sua esposa, a publicitária Camila Tani, saíram da zona sul do Rio e foram para Búzios, na região dos Lagos.

Cacau segue os passos do pai e, com apenas um ano e três meses, já é considerada uma surf dog profissional. Talento que passou de pai para filha! Devido à pandemia, esse ano, eles não irão participar do campeonato mundial de surf dog, o Surf City Surf Dog, em Huntington Beach, na Califórnia, porém ano que vem o trio promete. Ivan e Bono vão rumo ao hexacampeonato e a Cacau vai fazer a sua estreia no cenário do surf mundial. Vai dar Brasil no cenário surf dog mundial!

Em entrevista ao Instituto Mulheres Jornalistas, Ivan Moreira, pai e tutor do Bono Surf Dog, nos conta sobre a rotina, títulos e curiosidades da dupla.

MJ: Em que momento você identificou que era possível se comunicar através do Bono? 

Ivan: Foi tudo muito natural. A ideia era poder compartilhar com meu melhor amigo o que mais amo fazer na vida que é surfar e tive o privilégio do Bono se apaixonar pelo surf também. 

MJ: Como foi a adaptação em família com a fama do Bono?

Ivan: Acho que tratamos tudo muito natural, essa “fama” não muda nada na nossa maneira de ser e lidar com as pessoas, continuo sendo um cara super simpático , comunicativo e extrovertido que sempre fui. E adoramos receber o carinho das pessoas , isso nos motiva ainda mais para continuarmos nosso trabalho que é mostrar para as pessoas que compartilhar nossas vidas com nossos anjinhos de 4 patas é maravilhoso!

MJ: Quanto tempo, em média, é necessário para treinar um cão para o surf?

Ivan: Difícil mensurar um tempo exato, tudo vai variar muito conforme a adaptação e individualidade do seu pet. É necessário um processo de evolução gradativa, sempre tendo como a moeda de troca a “premiação”, seja com petisco ou com a própria ração do seu animal. Mas creio que 1 hora por dia de um treino bem feito, em algumas semanas, seu pet já estará confortável em cima da prancha. Para surfar, vai depender também da habilidade do tutor em posicionar o pet na onda certa e no tempo certo. 

MJ: Quais títulos vocês já ganharam?

Ivan: Pentacampeão Mundial de Surf Dog e campeão brasileiro, 2 recordes no Guiness World Records pela onda mais longa já surfada por uma dupla . 

MJ: Como fica a rotina natural do animal, diante da fama?

Ivan: Não muda muito, continuamos fazendo o que sempre fizemos: passeios, praia, trilhas etc.

MJ: Nos conte algum momento engraçado na parceria de vocês?

Ivan: Quando estávamos gravando a série do Bono no canal Off e viajamos para Huaraz , nos Alpes Peruanos, e ficamos num hotel que a cama era mínima e o Bono, pra quem não sabe, dorme na cama comigo! Em resumo, passamos a noite “lutando” pra ver quem conseguiria ter mais espaço na cama! (risos) Não preciso dizer que o Bono ganhou! (gargalhadas).

MJ: Nos relate algum momento marcante? 

Ivan: Sem dúvidas, quando realizei o sonho de levar o Bono para o lugar que mais amo no mundo, o Havaí.

MJ: Qual objetivo ainda pretendem alcançar?

Ivan: Gostaria muito de surfar na piscina de ondas do Kelly Slater e conseguir realizar meu sonho de pegar um tubo com o Bono!  

MJ: Quantas horas diárias são dedicadas entre edições e retornos nas redes sociais?

Ivan: Ah, isso leva um tempo! Diria que em torno de umas 3 horas diárias.

Ivan complementa nossa entrevista com uma declaração. “O único defeito dos cães é que a vida deles é muito curta. O meu lema é o seguinte: vamos viver intensamente, vamos curtir cada minuto com eles. É muito bom você ter a possibilidade de viver a sua vida ao lado desses anjinhos de quatro patas. Tente levá-lo para todos os lugares que puder, tente viver o máximo possível ao lado dele”.

Redes sociais dos pets

Segundo uma pesquisa divulgada pela plataforma do Youtube, entre outubro 2019 e outubro 2020, foram mais de 150 milhões de visualizações em cerca de 1.200 vídeos. De acordo com o ranking disponibilizado pelo Google Trends, nos últimos 12 meses, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de pesquisa por Instagram de pets, perdendo apenas para a Áustria.

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Entrevistada Kátia Araújo e Luna Bella. Foto: Acervo Pessoal/Kátia Araújo

Também entrevistamos Kátia Araújo, que é tutora da cadelinha da raça spitz alemão, Luna Bella, que está com 4 aninhos. Moradoras da zona sul no Rio de Janeiro, Luna encanta as redes sociais com suas aventuras, belas paisagens e penteados encantadores.

MJ: Em que momento a família resolveu que gostaria de ter um Pet?

Kátia: Foi sem nenhum planejamento! Eu já tinha tido antes duas cachorras da raça poodle, que viveram 17 e 16 anos, ou seja, me acompanharam pela minha infância/adolescência/início da vida adulta e foi muito difícil e doloroso quando elas se foram. Tinha decidido não ter mais nenhum cachorro. Até que, no dia 4 de outubro de 2017, estava olhando o Instagram no horário do almoço e apareceu a foto da Luna filhote naquela seção “Explorar”. Era um post do canil de 2 dias atrás. Foi amor à primeira vista e entendi como um sinal! O post já tinha 2 dias e 4 de outubro é Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Decidi entrar em contato com o canil e a Luna ainda não tinha uma família, decidi então que era o momento de ter um cachorro novamente. No mesmo dia, assim que saí do trabalho, fui numa petshop comprar todo o “enxoval”. Somente quando cheguei em casa com cama, prato, tapete higiênico, brinquedos etc, que a minha mãe ficou sabendo que teríamos um cachorro novamente. 

MJ: Houve algum critério para a escolha da raça ou porte?

Kátia: Porte sim, pois como moro em apartamento, não teria como proporcionar uma qualidade de vida tão boa para um cachorro de porte grande. Mas não conhecia nada da raça Spitz Alemão, só depois que fui descobrir que era a mesma raça do Boo.  

MJ: Como foi a criação do Instagram para a Luna e de que forma acabou se tornando um meio comercial?

Kátia: Eu trabalho com Marketing Digital e criação de conteúdo há muito tempo, mas nenhum cliente no segmento pet. Como trabalho com rede social, sempre vi o Instagram como trabalho, não como lazer. Quando resolvi criar o Instagram da Luna, foi como uma válvula de escape, apenas para ter uma recordação das fotos dela, sem nenhuma pretensão de ter milhares de seguidores e parcerias. Era só o meu momento de lazer nas redes sociais. Entretanto, a conta foi crescendo, as marcas começaram a entrar em contato e quando vi, já estava aplicando inconscientemente algumas técnicas de marketing digital do meu trabalho no perfil dela. Mas a conta não cresceu de um dia para o outro, são 4 anos de “criação de conteúdo”.

MJ: Como é a rotina da Luna?

Kátia: É a rotina de um cachorro como qualquer outro. Adora passear! A levo para passear no mínimo 2 vezes por dia pela vizinhança mesmo. Nesta pandemia, estou trabalhando em sistema de home office, então ela ganhou a minha companhia o dia inteiro em casa. Ela fica me chamando pra brincar durante o dia, às vezes, “quer invadir” alguma reunião no Zoom. Nos finais de semana, ela faz sessão de hidroesteira para ajudar no fortalecimento do joelho que operou e na perda de peso. E nos fins de semana, é quando a levo para passeios ao ar livre, como parques, praia etc. 

MJ: Qual critério é utilizado para fechar parcerias?

Kátia: Somente fechamos parceria com empresas/produtos que realmente usamos, acreditamos e indicamos. Não acho correto nem com a marca e nem com os seguidores receber um produto, fazer a foto e depois guardar na gaveta ou dar pra alguém. Talvez por isso a maior parte das parcerias que temos ou já tivemos são de produtos que já usávamos e divulgávamos espontaneamente por achar que era uma informação interessante para os seguidores. Depois de um tempo, a marca via as postagens e sugeria a parceria. E, muitas vezes, divulgo produtos que não tenho parceria alguma, mas que é muito bom e que vai ajudar muito os seguidores. 

MJ: A Luna consegue ter seus momentos como uma cachorrinha normal?

Kátia: Na verdade, ela tem momentos de uma cachorrinha normal 99,9% do dia dela. As fotos e vídeos que fazemos para as redes sociais trazem momentos que já estão inseridos no seu dia a dia, ela nem percebe que está “trabalhando”. São fotos muito espontâneas. Já as fotos posadas, ela faz muito rápido. Como ela aprendeu os comandos básicos quando filhote, quando preciso fazer uma foto dela parada, consigo fazer dezenas em um minuto. 

MJ: Como você enfrenta os julgamentos e críticas negativas das pessoas que não fazem parte do mundo Pet?

Kátia: São raríssimas as críticas no Instagram ou TikTok, se fazem não chegam até mim. A maior parte das críticas negativas são mesmo no dia a dia, no mundo offline. Pessoas que não conhecem as características da raça e acham um absurdo, por exemplo, eu não tosar a Luna no verão para amenizar o calor. Entendo que a crítica vem da falta de informação mesmo, então explico como funciona o organismo do cachorro em relação à pelagem e regulação de temperatura corporal e espero que a pessoa entenda e mude de opinião. O curioso é que, raramente, se dirigem à mim para fazer essas críticas. Normalmente, passam comentando e eu acabo escutado coisas como: “Que maldade! Neste calor e esse pêlo enorme! Que judiação”! Mesmo a fala não tendo sido para mim, eu volto e faço questão de esclarecer. O pêlo é só um exemplo, mas tem vários outros temas polêmicos.  

MJ: Qual o maior desafio na vida de um Influencer?

Kátia: A responsabilidade é extremamente grande, pois não sou veterinária, adestradora ou grommer, sou apenas uma tutora. Procuro deixar sempre muito claro que eu compartilho a minha experiência pessoal. Muitas vezes, surgem dúvidas dos seguidores que eu não tenho com responder, não é o meu lugar de fala. Não posso responder como um veterinário ou como alguém que estudou anos aquele assunto, seria total irresponsabilidade e falta de respeito com o profissional. O desafio é trazer sempre conteúdo que seja relevante e que vá agregar: a dica de um produto ou serviço que vai mudar a vida de alguém, ajudar a resolver algum problema ou mesmo colocar um sorriso no rosto de quem que estava triste, sempre respeitando o espaço de cada um.

MJ: O que você aconselha pra quem deseja investir nessa carreira?

Kátia: Primeiro de tudo que respeite o pet, ele não pediu para ser influenciar. Já vi muito tutor brigando com seu pet porque ele não fazia a pose que ele queria para divulgar um produto. Não torne os seus momentos prazerosos com ele em momentos de tensão. Não se preocupe com números, eles surgem! Preocupe-se em trazer um conteúdo que vai fazer diferença na vida das pessoas e nas relações que você fará ao longo da jornada. Ao longo destes 4 anos de Instapet, fiz muitas amizades como outros tutores e donos de marcas, que vou levar para o resto da vida! O Instagram gerou sólidas amizades fora do mundo virtual. Isso vale mais que qualquer parceria! 

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Luna Bella posando para foto a frente do Pão de Açúcar. Foto: Acervo Pessoal/Kátia Araújo

Kátia também deixa um recado muito especial para os nossos leitores. “Divirta-se! Seu cachorro terá uma vida muito curta aqui na Terra, então torne cada momento ao lado dele muito especial!”.