Eliza Dinah, Jornalista- MG
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Em 2021, a previsão era de que o pagamento do 13º salário injetasse na economia brasileira cerca de R$ 232,6 bilhões, segundo estimativas do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Este montante representa 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

O período de pagamento desses valores é sempre muito aguardado pelos brasileiros, para as mais variadas finalidades. Dentre tantas opções, o setor do turismo é um dos que disputa a atenção dos consumidores, apostando no aumento da procura por pacotes de viagens.

Chegamos quase a dois anos desde o começo da pandemia no Brasil e, em meio ao avanço da vacinação contra a covid-19, e para a felicidade do setor, de fato a intenção de viajar aumentou entre os consumidores de Belo Horizonte e as viagens são um dos principais destinos para o 13º salário dos belo-horizontinos, segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (Ipead).

Enquanto em 2020 o gasto com viagens era a oitava de 11 intenções de destinação do 13º, agora, subiu para a quarta posição, a segunda mais alta desde 2016 – em 2019, as viagens ocuparam a terceira posição na lista.

Ângela da Conceição, de 67 anos, é uma mineira que faz parte dessas estatísticas. A aposentada, mesmo ganhando apenas um salário mínimo de 13º, fez questão de economizar tudo que podia para conseguir comprar uma viagem para Natal, no Rio Grande do Norte. “Vou passar sete dias, realizar um antigo sonho. Pelas fotos que vi, lá é lindo. Vai ser a segunda viagem que faço de avião. E a ansiedade é muito grande”, comemora Ângela.

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Ângela da Conceição. Foto: Arquivo Pessoal

A aposentada, que também faz algumas costuras para ajudar nas contas de casa, conta que a oportunidade de viajar é importante para ela desestressar, ainda mais depois de tanto tempo presa dentro de casa devido ao cenário preocupante da pandemia do coronavírus e por fazer parte do grupo de risco. “No ano passado, eu não viajei. Fiquei aguardando a vacinação começar e chegar a minha vez para poder sair mais tranquila”.

Ela conta ainda que viajar é sua paixão e que sempre se preocupou em ter um custo de vida mais em conta para sobrar um dinheirinho suficiente para colocar o pé na estrada: quando os filhos eram crianças, viajavam duas vezes por ano nas férias escolares.

Infelizmente, com o passar dos anos, as dívidas aumentaram, o dinheiro não sobrava mais e, assim, as viagens ficaram em segundo plano. “Agora as coisas ajeitando, apertando aqui e acolá, vamos poder nos dar o luxo de sair. Assim é a vida do assalariado deste país. Apesar disso, a sensação é maravilhosa: liberdade e muitas alegrias em poder realizar o que as almejamos”, comemora.

Oportunidade que não pode passar

A também mineira Eduarda Calazans estava ansiosa para o fim do ano chegar: depois de tantos momentos ruins devido à pandemia, ela via os meses finais de 2021 como uma luz no fim do túnel. “Além da vacinação que tinha como previsão estar bem finalizada nessa época, eu já estava preparada pensando no meu 13º salário. É tanta conta para pagar, é tanta tragédia acontecendo, minha vida ficou parada por quase dois anos. Viajar agora é para mim uma conquista, uma vitória”, desabafa.

A advogada se viu ansiosa por vários momentos durante a pandemia, sem poder sair de casa, enfrentando momentos complicados como o desemprego do pai e a saudade dos amigos. Agora, para fechar o ano e apagar os momentos ruins, Eduarda usou seu 13º salário comprando duas viagens: uma para o Rio de Janeiro, que será feita ainda em dezembro, e outra para os Estados Unidos no ano de 2022.

“Aproveitei que várias empresas estão fazendo ótimas promoções e ótimas condições de pagamento e comprei mais de uma viagem. Não sei se é por causa da tentativa de retomada das viagens, se o mercado ainda está ruim. Mas agora que o cenário da covid melhorou, me sinto segura e mereço viajar”.

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Eduarda Calazans. Foto: Arquivo Pessoal

Recuperação do setor

Mesmo com o crescimento da busca pelas viagens, principalmente nessa reta final de ano, o setor ainda não se recuperou – nem de longe – da boa fase que vivenciava antes da pandemia. O turismo brasileiro deve terminar 2020 com crescimento de 16% e faturamento de R$ 130 bilhões, 22% inferior ao registrado no período pré-pandemia, de acordo com dados do levantamento do Conselho de Turismo (CT) da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Mas enquanto esse gigantesco mercado dá passos rumo a retomada, viajar tem mudado a vida de pessoas que apostam nem que seja em um pulinho na cidade ao lado, como o caso do publicitário Jeferson Barros.

“Eu não sou uma pessoa que tem o hábito tão grande de viajar. Não é uma coisa que faço com regularidade, mas nessa última viagem que fiz recentemente, na minha cabeça acendeu uma luzinha de que pode, sim, ser algo importante para mim a partir de agora. Foi uma sensação incrível poder ficar desconectado da rotina, sem ficar o tempo todo na frente do computador. Me fez muito bem. Por isso, pode passar a ser algo mais presente na minha vida”, relembra.

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Jeferson Barros. Foto: Arquivo Pessoal

O paulista usou parte do seu 13º para fazer uma viagem curtinha: apareceu a oportunidade de passar o fim de semana na capital São Paulo, e ele topou. Saiu do interior onde mora, atravessou 450 km de estrada no ônibus e 6h depois desembarcou no destino final. “Veio a calhar de ser bem na época que caiu meu 13º e eu consegui usar parte dele sim para fazer uma viagem sem que pesasse no orçamento”.