Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista

Agência de controle americana suspende entrada de cães oriundos de alguns países, inclusive Brasil, considerados de alto risco para propagação do vírus da raiva canina

Viajar com um animal exige muita atenção e planejamento. Além de buscar o máximo de informações sobre o local, conforme as dicas que falamos na reportagem “Pet Friendly: Mais que um Conceito, um Estilo de Vida”, e todos os seus acessórios necessários, também precisamos saber como está a parte clínica do animal, ou seja, levá-lo ao veterinário para conferir se todas as vacinas estão em dia e se o exame físico está ok. Afinal, ninguém gosta de ser surpreendido negativamente no meio das férias, né?!

Quando o assunto é viagem internacional, o nível de exigência aumenta mais um pouco, pois cada companhia aérea tem seu regulamento com tamanhos específicos para as caixas de transportes, além das documentações necessárias que variam de acordo com o país de destino. São procedimentos planejados meses antes até que todos os exames e laudos necessários tenham seus prazos cumpridos. A grande questão é que, muitas vezes, os tutores não se cercam desses cuidados e, quando se dão conta, esse prazo fica extremamente apertado ou, muitas vezes, inviável.

O CDC (Centers for Disease Control and Prevention) foi criado no ano de 1946 e atua como um centro de controle e prevenção de doenças, fornecendo dados e pesquisas relacionadas à área que servem como base para tomada de decisões dos departamentos de saúde. Inclusive, uma das duas amostras restantes no mundo do vírus da varíola encontra-se sob a responsabilidade dessa agência.

Foto: Reprodução/Site CDC

Após o reaparecimento de um caso de infecção, seguido por morte, devido a complicações causadas pelo vírus da raiva canina, conforme mencionado na reportagem “A Importância da Vacinação em Animais”, a agência chegou à decisão. Trata-se de uma suspensão temporária, a partir de 14 de julho de 2021, mas ainda sem previsão de término. O Brasil entrou para a listagem dos 112 países considerados de alto risco para a propagação do vírus nos EUA. Confira alguns países e regiões também afetados com a suspensão.

Na região das Américas e Caribe são eles:

  • Belize
  • Bolívia
  • Brasil
  • Colômbia
  • Cuba
  • República Dominicana
  • Equador
  • El Salvador
  • Guatemala
  • Guiana
  • Haiti
  • Honduras
  • Nicarágua
  • Peru
  • Suriname
  • Venezuela

Além desses, outros países de regiões como África, Ásia, Oriente Médio e Europa Oriental estão na lista.

Dr. Diogo Alves/Foto: Reprodução/Acervo do entrevistado

O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro (CRMV RJ), Diogo Alves da Conceição, sobre a atual situação entre os países e as possíveis soluções sugeridas.

Mulheres Jornalistas (MJ): Qual o papel do CRMV?

Dr Diogo Alves: O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio de Janeiro tem como principal escopo a fiscalização do exercício das profissões das áreas de Medicina Veterinária.Para a efetivação do exercício desta profissão regulamentada, há a necessidade de inscrição do profissional e da pessoa jurídica nos quadros do Conselho Regional de Medicina Veterinária, sem que isso implique na violação do princípio constitucional que garante a liberdade profissional ou de trabalho.

Compete ao CRMV-RJ defender a sociedade em geral em decorrência do exercício profissional, tendo, por função, o rigoroso controle das atividades profissionais respectivas, zelando pelo privilégio e controle principalmente da ética, através da instauração de procedimentos ético-profissionais por meio de denúncias ou de ofício.Ademais, o CRMV-RJ tem como finalidade a valorização profissional ao impedir que pessoas inabilitadas exerçam as atividades profissionais das áreas da Medicina Veterinária e da Zootecnia, combatendo a falta de ética profissional.

O CRMV-RJ existe porque a sociedade necessita de um órgão de controle e defesa, impedindo o mau exercício profissional não só de pessoas que não possuem a habilitação técnica (leigos), como também dos habilitados sem ética. Os dois casos mencionados lesam os interesses da sociedade como um todo, e decorrente disto, compete ao Conselho evitar esta lesão.

MJ: Qual a documentação necessária para um animal viajar com seu proprietário?

Dr Alves: O trânsito de cães e gatos entre países exige documento emitido pela autoridade veterinária do país de origem e aceito pelos países de destino, atestando as condições e o histórico de saúde do animal de estimação, bem como o atendimento às exigências sanitárias do país de destino. No Brasil, os documentos utilizados para essa finalidade são o CVI (Certificado Veterinário Internacional) e o Passaporte para Trânsito de Cães e Gatos, que são expedidos por Auditores Fiscais Federais Agropecuários das unidades de Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO).

MJ: Quais tipos de irregularidades foram encontradas em atestados veterinários apresentados em processos de viagens?

Dr Alves: Foram encontradas algumas irregularidades como falsificações documentais, na tentativa de burlar a entrada nos EUA de animais muito jovens ou sem condições sanitárias.

MJ: Porque existe a obrigatoriedade do animal estar vacinado contra a raiva? E qual o risco de haver manipulação dessas informações?

Dr Alves: A raiva é uma encefalite aguda viral, que se caracteriza por um quadro neurológico grave, na maioria das vezes, fatal. A importância da raiva é ainda maior, pois é uma zoonose, portanto, com grande impacto para a saúde pública. Convém ressaltar que a proibição de cães e gatos entrarem nos EUAa partir de julho se deve à ocorrência de alguns casos de raiva animal em solo brasileiro. Sendo assim, o governo americano não quer expor animais e pessoas permitindo a entrada de animais do Brasil e de outros países, como possíveis transmissores. Vale ressaltar que não houve manipulação de dados sobre a vacina de raiva, conforme temos tido notícias. A manipulação ocorrida foi no preenchimento dos dados sanitários.

MJ: Existe alguma alternativa ou projeto para evitar esse tipo de irregularidade?

Dr Alves: Segundo o comunicado, a “ação temporária é necessária para garantir a saúde e segurança dos cães importados para os Estados Unidos e para proteger a saúde pública contra a reintrodução da variante do vírus da raiva canina nos Estados Unidos”. Uma alternativa proposta seria a realização da Sorologia Antirrábica, que deve ser realizada com uma amostra de sangue colhida após 30 dias da data da última vacinação e no mínimo três meses antes da data de emissão do CVI. A amostra precisa ser enviada a um laboratório credenciado, de acordo com o artigo 3º da Decisão 2000/258/CE. A titulação de anticorpos neutralizantes do vírus da raiva no soro deve ser igual ou superior a 0,5 UI/ml. Já é realizado esse teste para os animais que necessitem adentrar a Comunidade Europeia.

MJ: Meu pet já é vacinado contra raiva. Posso levá-lo ao veterinário para coletar a amostra e solicitar o exame?

Dr Alves: O tutor precisa se certificar que o cão/gato já tenha sido microchipado (padrão União Europeia) e que a vacina antirrábica tenha sido feita após essa microchipagem, com os dados inseridos no microchip. A coleta da amostra só pode ser feita após no mínimo 30 dias da vacinação ou em período dentro do prazo de validade da vacina antirrábica (12 meses).