Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – PA
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Uso de celular cresceu entre crianças e adolescentes durante a pandemia da covid-19. O que os pais devem fazer?

Nove em cada dez (89%) pais de filhos com idades entre 6 e 18 anos afirmam que as crianças e adolescentes passaram a utilizar mais aparelhos eletrônicos e ficar diante de telas de TV, celular ou videogame, durante a pandemia da covid-19. Os dados são da pesquisa divulgada pelo Datafolha, em julho de 2021, que mostra como a pandemia afetou a vida das crianças e adolescentes.

A pesquisa afirma que para 69% dos pais, os filhos ficaram mais dependentes; para 64%, ficaram mais irritados, ansiosos ou estressados; para 54%, os filhos engordaram; para 52%, ficaram mais tristes; e, para 45%, os filhos passaram a reclamar que se sentem sozinhos.

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Especialista alerta sobre a importância da atenção emocional para as crianças. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A psicóloga clínica, Danubia Sales, afirma que o âmbito emocional também é um fator para o excesso de uso. “Apesar da criança apresentar prazer no uso do celular, sente de maneira particular a ausência da interação com as pessoas que ama. A falta de afeto é um dos maiores prejuízos que a criança pode carregar na fase adulta”, destaca.

A especialista explica que o uso excessivo de celular no período da infância compromete diretamente seu desenvolvimento, considerando que as relações sociais são primordiais neste período. É pela via da socialização que a criança tende a desenvolver a fala, a cognição, o sistema motor e os demais componentes que lhe permitem a inserção saudável e gradativa no campo social.

Sabe-se que, com a implementação do trabalho e a aula remota desde o início da pandemia, os afazeres domésticos também aumentaram. Danubia alerta os pais sobre a oferta do celular para crianças como distração, na tentativa de manter a dinâmica acelerada dos afazeres diários. “O problema está na falta de limite que a criança vai adquirindo e o uso do celular vai se tornando uma condição para a criança, que só aceita determinadas ordens pela via da troca que permite o uso do celular”, alerta.

O excesso da utilização de aparelhos eletrônicos também pode acarretar diversos problemas físicos nas crianças e adolescentes. Na reportagem Crianças e o uso contínuo celulares, computadores e televisão na pandemia, o Mulheres Jornalistas destaca as consequências do exagero em frente às telas.

Como deixar a criança longe do celular?

O mecanismo mais adequado para evitar o excesso é criar uma dinâmica diária para as atividades desta criança, o que lhe permite ter horários para tudo, inclusive para o brincar de maneira manual. Danubia explica que pais e responsáveis devem inserir a criança em todas as atividades de interação da dinâmica familiar, permitindo, inclusive, momentos de interação no modo de brincar desta criança.

“Crianças precisam de movimento, de nível motor e psíquico. Para isso, é importante promover que ela interaja com outras crianças através de jogos que promovam elaboração cognitiva, que permitam dois ou mais jogadores, promovendo interação, atividades de pintura e desenho que desenvolvam suas habilidades e ainda atividades ao ar livre”, pontua.

Escola x celular 

A pesquisa abordou ainda a implementação do ensino remoto nas escolas públicas e privadas. 95% dos entrevistados que possuem filhos na faixa etária de 6 a 18 anos declararam que as crianças e adolescentes estão matriculados em escolas, sendo 81% na rede pública, 12% na rede particular e 1% não respondeu.

Dos matriculados, 91% tiveram acesso ao ensino à distância durante a pandemia. Foi nesse cenário que Eliza, de 13 anos – com 11 anos no início da pandemia -, começou a ter acesso ao celular e computador. A mãe da estudante, a professora e educadora física Mariela Monesky, afirma que o acesso aos aparelhos eletrônicos foi liberado, mas sob total controle.

“Devido ao ensino remoto, foi necessário adquirir um celular para que ela assista às aulas e auxilie nas atividades quando estamos fora de casa, já que nem sempre é possível usar o notebook. No início tivemos certa liberdade, mas logo vimos que estava prejudicando seu desempenho escolar. Então fizemos um cronograma. Ela fica com o celular por algumas horas determinadas e o restante dia faz outras atividades”, conta.