Preso por ataques ao STF e por exaltar o AI-5, o deputado é a personificação do dito popular que diz que não há nada mais nocivo que um idiota com iniciativa 

https://open.spotify.com/episode/7pCAbcZYB6kIp0wEzEBqt8?si=iP84jJF-RtmR3ehk5V5M_g

Por Melissa Rocha
melissa.rocha@mulheresjornalistas.com

Preso na semana passada, por ataques e ameaças a ministros do STF, o deputado federal Daniel Silveira, do PSL, pode ser considerado a personificação do dito popular que diz que na vida não há nada mais nocivo que um idiota com iniciativa. 

Alto, marombado e dono de uma postura intimidadora – que cresce, em especial, quando o alvo da coação é uma mulher -, Daniel Silveira se enquadra no típico pitboy – aquela figura conhecida pela parca capacidade de raciocínio somada ao impulso de querer resolver tudo na base da violência. 

Sua trajetória é uma mistura concentrada de falta de coerência, oportunismo e zero comprometimento com cada função que exerceu na vida. Aos 25 anos, Silveira foi cobrador de ônibus, mas acabou demitido e processado de tanto que faltou ao serviço, fazendo uso de atestados médicos falsificados. Em seguida, entrou para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, mas sua intenção nem de longe era servir e proteger. O que ele visava era obter um status de autoridade que concedesse a ele passe livre para burlar as leis que ele deveria ser o primeiro a respeitar. E nisso Daniel não perdeu tempo: em apenas cinco anos como policial militar, ele colecionou impressionantes 26 dias de prisão, 54 de detenções e 14 repreensões. Quando estava prestes a ser expulso da PM, ele se candidatou a deputado e acabou sendo apenas desligado da corporação.  

Foi eleito em 2018, na onda impulsionada por moralistas que, acredite quem quiser, afirmavam querer expurgar corruptos e oportunistas do poder. Não se sabe por que, então, votaram exatamente em uma corja deles, incluindo na leva o próprio Daniel Silveira. 

Já como deputado federal, Silveira passou a dedicar seu tempo polemizando nas redes sociais. Trabalho concreto em prol da população que é bom, nada. Na semana passada, o STF decidiu agir e determinou a prisão do deputado por ameaças aos ministros do tribunal. 

A prisão inflamou o debate sobre liberdade de expressão no país. Mas é um equívoco afirmar que Silveira foi preso meramente por dizer o que pensa. Primeiro porque não foi o único ataque dele ao STF. Há inúmeros outros vídeos, permeados de acusações gravíssimas, porém totalmente infundadas, incluindo um no qual, sem apresentar qualquer evidência, ele acusa os ministros da Corte de defender a pedofilia. 

Além disso, era o próprio Daniel Silveira quem advogava pelo fim da liberdade de expressão. Prova disso, é que em seus vídeos ele defendia ferrenhamente o retorno do AI-5 – o mais violento mecanismo de repressão a ditadura militar, usado para censurar o direito da população à expressão e ao livre pensamento crítico.  

Mas, como dito acima, Silveira é um idiota com iniciativa. Aparentemente, ele sequer entendia o que estava defendendo. Nascido em 1982, quando a ditadura militar dava seus últimos suspiros, ele parece nunca ter lido um livro de história do Brasil para entender o que se passou durante os anos de chumbo no país. Daniel Silveira ignora o fato de que, se estivéssemos em uma ditadura, ele jamais teria a plena liberdade que tem para falar as asneiras que diz em suas redes sociais. Aliás, em uma ditadura, o acesso às redes sociais nunca seria tão livre como o que temos hoje – vide o exemplo da China, que controla todo o conteúdo que seus internautas acessam. 

Como tudo na vida tem um aspecto positivo, a prisão de Daniel Silveira sinaliza uma reação do STF e, também, dos próprios parlamentares, já que em votação na Câmara eles decidiram manter a prisão do deputado. Na última terça-feira, 23, o Conselho de Ética da Câmara deu início ao processo disciplinar que pode levar à perda de mandato de Daniel Silveira. 

A conferir qual será o desfecho e esperar que o episódio seja um sinal de que, finalmente, as instituições começaram a colocar um freio no discurso radicalista que tenta a todo custo minar a nossa democracia.