A origem da espécie, comportamento, as raças mais conhecidas e o ambiente ideal para receber seu felino

Por Giselle Cunha- SP giselle.cunha@mulheresjornalistas.com
Editora de Reportagem: Juliana Mônaco
Editora Chefe: Letícia Fagundes

Foto: Reprodução/Freepik

Assim como outros felinos, os gatos se originaram a partir da evolução de um mamífero predador chamado Miacis. Ele habitava na Terra durante o período Paleoceno, há aproximadamente 55 milhões de anos. A partir daí, surgiram os mais antigos mamíferos carnívoros. O primeiro felino identificado por meio de fósseis se chama Dinictis e seu fóssil foi datado de 37 milhões de anos. Através da evolução, surgiu o proailurus, um ancestral considerado comum de todos os gatos e que viveu há aproximadamente 20 milhões de anos.

A figura do gato que conhecemos é classificada como gatos domésticos e a primeira evidência da ligação desta espécie com os seres humanos ocorreu há mais de 9.500 anos atrás, encontrados na Ilha de Chipre, que é localizada ao sul da Turquia. Conforme deixamos de ser nômades, a cultura de plantio se fez necessária e passou a fazer parte da rotina dos humanos. Toda essa movimentação de comida era um atrativo para roedores e, consequentemente, seus predadores.

Esqueleto do gato de 9.500 anos encontrado a 40 cm de um esqueleto humano na ilha de Chipre. Foto: Reprodução/Wikipédia

Os gatos são citados em diversos momentos na história da sociedade. No Egito, eram considerados sagrados, a ponto de alguns deuses serem representados pela figura felina. Também tiveram sua importância reconhecida na Europa como grandes caçadores de pragas. Nem sempre essas associações foram boas, pois na Idade Média mulheres e gatos representavam figuras independentes e místicas. Essa postura era marginalizada pela sociedade, fazendo com que as mulheres fossem consideradas bruxas e os gatos, seres amaldiçoados. Aos poucos, os gatos foram ganhando espaço e a confiança novamente até que passaram a ser considerados animais de luxo.

O comportamento bem peculiar desse bichano encanta e gera curiosidade. Não é à toa que, hoje, são uns dos animais mais domesticados no mundo inteiro. Acredita-se que os espaços cada vez menores e o estilo de vida corrido propiciaram esse crescimento.

Dr. Carlos Gabriel Almeida Dias, médico veterinário. Foto: Reprodução/Acervo pessoal/Dr. Carlos Gabriel

Sobre o comportamento dos gatos, conversamos com o dr.Carlos Gabriel Almeida Dias, médico veterinário há 25 anos, mas que desde 2004 se dedica aos felinos e se tornou referência no assunto entre os colegas e os grandes admiradores dessa espécie.

Mulheres Jornalistas (MJ): Como você descreve essa parte comportamental dos gatos?

Dr Carlos Gabriel: O comportamento é uma parte muito importante pois é a expressão do indivíduo. Estudar e entender o comportamento dos gatos nos proporciona uma melhor compreensão de algumas atitudes que são completamente normais, mas que precisam ser ajustadas ao ambiente onde esse animal vive. A maioria dos meus atendimentos são justamente sobre essa parte comportamental. Os gatos precisam arranhar, subir e fazer outras atividades que estão inseridas na sua natureza. Entender todo esse contexto biológico nos permite fornecer essas possibilidades e as experiências corretas.

A ausência desse ambiente biológico que o animal não consegue se expressar emocionalmente e comportamentalmente, onde tem uma vida previsível, sem escolhas, sem estímulos e vive trancado, mesmo que ele receba amor, tenha comida, tenha água e tenha toda a parte de higiene bem cuidada, pode ocasionar um comportamento indesejado

MJ: O que é importante saber antes de escolher um gato como animal de estimação?

Dr Carlos Gabriel: A primeira coisa importante a saber é que a relação com eles é diferente. Eu acredito que quem gosta de gato já foi naturalmente selecionado por ter essa pré-disposição de viver e amar um animal que mantém grande parte da sua autonomia, porque eles não formam grupos como os cães e a gente. Então eles têm as suas sociabilidades, mas a grande parte do período de vida dos gatos, principalmente os de vida livre (isso não acontece tanto dentro de casa), passam envolvidos em atividades que não contam com outros indivíduos, como os cães e nós. É importante entender que essa espécie precisa também ter uma parte da rotina que tenha a ver com eles, com o desejo deles. O gato precisa pular, caçar, dar pequenas corridas em casa, ter acesso a lugares altos para observar, ter tranqüilidade e não se sentir ameaçado ao fazer suas atividades. 

MJ: Como ganhar a confiança de um gato?

Dr Carlos Gabriel: Nós ganhamos a confiança de um gato quando respeitamos a sua individualidade, quando permitimos que o gato faça coisas de gato, quando ele se sente protegido e feliz, quando tem a liberdade de só encontrar as pessoas ao se sentir confortável.

MJ: Quais são as raças mais indicadas?

Dr Carlos Gabriel: Não existem raças melhores ou piores. Temos de fato um animal original Felis Silvestris Lybica, que deu origem ao Felis Silvestris Catus, que é o gato que conhecemos hoje em dia. A partir de meados de 1.800 aconteceu uma primeira exposição em Londres, onde gatos foram exibidos como exemplares de raça, mas nunca houve uma intenção real de fazer uma raça específica. Existe o pelo curto brasileiro, que é o mais comum no dia a dia, as outras raças (Persa, Maine Coon, Gato de Bengala, Siames, Sphynx, entre outros) surgiram bem depois, com algumas modificações genéticas e hoje representam 10% dos lares com gato.

MJ: De que forma podemos criar um ambiente agradável e ideal para essa espécie?

Dr Carlos Gabriel: Crie oportunidades para ele se esconder, subir e arranhar. Caso decida ter mais de um, lembre-se de que eles precisam ser apresentados cautelosamente para minimizar brigas e intolerância.

Na próxima reportagem, vamos falar sobre a alimentação, dar exemplos de brincadeiras que estimulam o instinto natural do bichano, os principais cuidados e doenças. Uma abordagem completa para você conhecer e proporcionar tudo o que seu gato precisa.