Por Ana Luiza Timm Soares
Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Neste mês, comemoramos os 100 anos da estilista/ativista mineira Zuzu Angel, que faria aniversário no dia 5 de junho. É sabido que o legado da criadora vai muito além do universo da Moda. Assassinada em 1976 pela ditadura militar, Zuzu se tornou um símbolo da luta contra este regime que, até hoje, ecoa em discursos pseudo patrióticos e que rejeitam qualquer noção histórica.

Mas hoje iremos falar da vida daquela que foi considerada a primeira estilista mulher do Brasil. Nascida Zuleika de Souza Netto, começou a exercer a função de costureira desde cedo e viu nas matérias-primas nacionais a riqueza para valorizar em seu trabalho. Em suas coleções, brilhava o folclore brasileiro com suas chitas, rendas, babados e fuxicos, aliado a todo um universo de estampas tropicais e materiais naturais como jacarandá e bambu.

Esta brasilidade chegou às araras de grandes magazines americanos, como Bergdorf Goodman e a Saks, que se renderam ao cangaço da coleção intitulada “Lampião e Maria Bonita: os reis do cangaço”. Com Zuzu, aprendemos que o produto nacional é digno de orgulho, e que devemos, sim, enaltecer nossas raízes e insumos.

Também aprendemos que Moda é mais do que roupa: é comunicação, ativismo, identidade, cultura. Que um desfile pode ser, sim, palco para grandes manifestos, e não passeatas “de mentirinha” com cartazes feministas em marcas ultraconservadoras – sim, eu tenho implicância com a maison Chanel, mas isso já é outro assunto.

Com Zuzu, aprendemos a ter coragem. Seja para enfrentar os desmandos de um governo despótico ou para ser quem somos. Ela também nos ensinou que ter amor-próprio é mais importante do que permanecer em um casamento infeliz, desquitando-se do marido em um período que considerava tal ato “escandaloso”.

Com a estilista, aprendemos que o trabalho manual é valoroso, seja costurando para conquistar independência financeira ou bordando anjos tristes a fim de denunciar o desaparecimento do corpo de seu querido primogênito Stuart Angel Jones.

Zuzu nos ensinou que precisamos seguir atentos e fortes, e denunciou o seu próprio e trágico destino aqueles que duvidavam – e ainda o fazem – da aptidão que o poder possui para mascarar os horrores de seus atos, cientes da impunidade que os protege. Com ela, aprendemos que o silêncio é consentimento, e que devemos bradar aos quatro ventos as injustiças as quais estamos submetidos.

Este ano celebramos a vida de Zuzu Angel, mas sem perder de vista o que sua morte também tem a nos ensinar. Que seu legado não seja em vão.

Confira o desfile-protesto de 1971: