As consequências da dominação Talibã nos Jogos Paralímpicos de Tóquio
Por Mariana Mendes, Jornalista –SP
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Dois atletas do Afeganistão quase ficaram de fora do evento devido à invasão do grupo extremista
No dia 28 de agosto, dois atletas paralímpicos afegãos chegaram a Tóquio para participar dos Jogos de 2020. Ao contrário das expectativas de todo o mundo e até do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Zakia Khudadadi, do taekwondo, e Hossain Rasouli, do atletismo, desembarcaram no Japão para participar do maior evento esportivo do mundo.
Isso porque, após a tomada do Talibã, o aeroporto da capital do Afeganistão, Kabul, se dissolveu em caos, com milhares de cidadãos buscando fugir a todo custo do regime opressor. Enquanto imagens chocavam o mundo e os Jogos se iniciaram, Zakia, Hossain e diversas organizações tentavam encontrar um jeito de trazer os atletas para os Jogos Paralímpicos.
Na cerimônia de abertura, o Comitê decidiu mostrar solidariedade com o país e um voluntário desfilou com a bandeira afegã. Nos bastidores, o plano de evacuar os atletas estava a todo vapor. De acordo com Andrew Parsons, presidente do IPC, foi feita uma “grande operação global” para garantir a presença de Zakia e Hossain em Tóquio.
Os detalhes específicos da evacuação não foram divulgados, porém, sabe-se que os atletas passaram a última semana na França, no Instituto Nacional de Especialização e Desempenho Esportivo. Com o auxílio do Comitê Paralímpico Francês, a Associação Paralímpica Britânica, a Federação Internacional de Taekwondo e ONGs de direitos humanos, eles conseguiram embarcar no avião no dia 27, sexta-feira, em direção à cidade sede do evento.
Após todos os esforços finalmente dando resultado, Arian Sadiqi, chefe da delegação paralímpica afegã, declarou: “Acredito fortemente que, através do Movimento Paralímpico e dos Jogos Paralímpicos, todos nós podemos passar a mensagem positiva de que a coexistência pacífica é melhor para a humanidade, que devemos celebrar nossas diferenças sabendo que temos mais em comum do que aqui no que nos divide, e que devemos manter e valorizar a paz porque brigas e sentimentos negativos só destroem a humanidade”.
Sobre os atletas
O parataekwondo é uma das modalidades estreantes de Tóquio. Zakia será a primeira mulher do Afeganistão a participar de uma Paralimpíadas desde Atenas 2004. Ela fez um apelo durante os momentos de tensão por meio de um vídeo divulgado pela agência Reuters, dizendo: “Minha intenção é participar dos Jogos Paralímpicos de 2020, por favor, segurem minha mão e me ajudem”.
A atleta, que se inspirou nas duas únicas medalhas olímpicas conquistadas pelo Afeganistão por Rohullah Nikpai no taekwondo (dois bronzes em Pequim 2008 e Londres 2012), se dedicou ao esporte, mesmo com milhares de dificuldades. Ela foi medalhista de prata no inaugural Campeonato Africano Internacional de Parataekwondo em 2016. Quando soube que iria para Tóquio, declarou: “Fiquei tão feliz quando recebi a carta branca para competir nos Jogos. Fiquei surpresa, mas também preocupada, pois tinha apenas dois meses para me preparar, quase sem instalações.”
Zakia estreia no dia 1º de setembro na competição, contra a atleta do Uzbequistão, na categoria 49kg K44. Já o afegão Hossain Rasouli encerrou sua participação na prova do salto em distância T47 em 13º lugar na madrugada desta terça-feira (31).