Por Vivian Jorge, jornalista – RS
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Especialistas dão dicas de como seguir este estilo de vida

Se tem um estilo de vida que vem ganhando adeptos é o veganismo. Estima-se que mais de 15% da população brasileira se considera vegetariano. Em 2018, por exemplo, 14% da população residente no Brasil já se consideravam vegetarianos, conforme pesquisa elaborada pelo Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria.

No entanto, agora em 2021, essa mesma pesquisa encomendada pela SVB – Sociedade Vegetariana Brasileira apontou que 46% dos brasileiros já deixam de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana, independente de faixa etária e região. Destes, 30% preferem opções veganas em estabelecimentos de alimentação.

Agora, qual a diferença de vegano e vegetariano? Você com certeza conhece alguém que optou por tirar de sua alimentação produtos de origem animal, seja pela exploração animal, pelos benefícios à saúde, bem como pelos impactos ao meio ambiente.

Por isso, se você pretende seguir este estilo de vida, atente aos 5 temas que precisa saber antes de iniciar sua transição.

Veganismo e vegetarianismo

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Homus de Beterraba com grão de bico e castanhas. Foto: Divulgação/@saboremtextos

O primeiro tema diz respeito às diferenças e entendimento das nomenclaturas. Segundo a SVB, vegetarianismo é o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. Já o veganismo, de acordo com a Vegan Society, é um modo de viver, uma escolha que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais – seja na alimentação, no vestuário, no meio ambiente ou em outras esferas do consumo.

Nutricionista vegana, Caroline Beskow, de 23 anos, nos explica que os vegetarianos se dividem em 5 categorias:

  • Ovolactovegetariano: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação, mas não consome carnes;
  • Lactovegetariano: utiliza leite e laticínios na sua alimentação, mas não consome ovos e carnes;
  • Ovovegetariano: utiliza ovos na sua alimentação, mas não consome laticínios e carnes;
  • Vegetariano estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação;
  • Vegano: não utiliza nenhum produto de origem animal em qualquer forma de consumo, na medida do possível e do praticável.

Apesar de o veganismo ser tendência mundial, muitas pessoas não conhecem seus inúmeros benefícios, assim, seguimos para o segundo tema.

Benefícios para a saúde

Há quem pense que uma dieta livre de alimentos de origem animal possa causar algum tipo de deficiência nutricional, porém assim como os onívoros, é preciso sempre estar atento à saúde.

Uma das principais preocupações das pessoas que não entendem o vegetarianismo ou estão em transição é a questão da proteína. Como ficar sem comer carne vermelha, rica em aminoácidos, por exemplo? Tanto onívoros – pessoas que consomem carne e derivados da dieta animal – quanto vegetarianos devem sempre prestar atenção em sua dieta e hábitos alimentares.

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Rainbowl vegano. Foto: Divulgação/Maria Julia Rosa/@ve_vegano

De acordo com a nutricionista clínica, Maria Julia Rosa, de 35 anos, a alimentação vegetariana estrita é protetiva em diversos tipos de doenças, principalmente, as crônicas não transmissíveis, como diabetes, obesidade, câncer e doenças cardiovasculares, a qual é responsável por 71% dos óbitos em todo o mundo. Além disso, uma alimentação vegetariana auxilia no equilíbrio do organismo, prevenindo problemas do trato intestinal, bem como rins e fígado. “Os benefícios são muitos, pois é uma alimentação rica em fitoquímicos, fibras, baixa gordura saturada, entre outros. Uma alimentação vegetariana é à base de plantas integrais e protetiva, com a ingestão de frutas, verduras e grãos”.

Contudo, dentre os benefícios e hábitos saudáveis que o vegetarianismo/veganismo comporta, há em crescente o termo “plant-based”, quase sempre associado aos adeptos deste estilo de vida. Plant-based se refere à dieta a base de vegetais, ou seja, uma alimentação com benefícios para a saúde a partir de alimentos integrais, frutas, verduras, grãos e mel.

Gestação e introdução alimentar

Pós-graduada em pediatria, Caroline nos explica sobre o terceiro tema: gestantes e alimentação infantil. Desde criança, a nutricionista materno-infantil se tornou vegetariana, pois não concordava com a exploração animal. Depois de alguns anos, entendeu o que era veganismo e decidiu se tornar vegana. “Na infância fui muito negligenciada por profissionais que insistiam que eu precisava consumir carnes e derivados para crescer e desenvolver bem. Quando comecei a estudar e a entender que era possível e benéfico para a saúde, em qualquer faixa etária, decidi ser uma profissional que não negligenciaria a escolha dos pacientes”.

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Foto: Arquivo pessoal

De acordo Caroline, a literatura científica aponta que crianças que seguem uma alimentação a base de plantas possuem menor risco de desenvolverem doenças cardio-metabólicas, pois contribui para constituição de hábitos saudáveis que perpetuam em todas as fases da vida, promovendo o crescimento e o desenvolvimento adequado saudável.

Com um público materno-infantil e pediátrico, o qual engloba gestantes, lactentes, bebês, crianças e adolescentes, Beskow comenta que uma dieta infantil vegana tem como base cereais, raízes, grãos, leguminosas, oleaginosas, frutas, verduras e legumes. Contudo, o acompanhamento com nutricionista e pediatra é de suma importância na promoção da saúde e desenvolvimento da criança.

E na gestação, como fica a dieta? A dieta vegetariana pode ser tão saudável e adequada como qualquer outra forma de alimentação. Ter medo e ficar em dúvidas quanto às deficiências nutricionais para a mamãe e o bebê são normais nessa fase. “Gestantes veganas precisam de cuidados como qualquer gestante, a única coisa que muda serão as formas que vamos obter os nutrientes. Na gestação, damos uma atenção maior aos nutrientes de forma protetiva como: ferro, vitamina B12, cálcio, vitamina D, ômega 3 e ácido fólico”, atenta Caroline.

Por outro lado, o vegetarianismo na gestação pode auxiliar na digestão dos alimentos por ser mais rápida; contribuir para a melhora do funcionamento intestinal; o controle de peso; hipertensão; entre outros.

Maria Julia ressalta, também, que, conforme a Associação Dietética Americana, maior associação de nutrição do mundo, o vegetarianismo pode ser adotado por qualquer pessoa, em qualquer idade, desde gestação, infância, adolescência, fases adulta ou idosa, sem nenhum prejuízo. “A nutrição é individualizada. Em gestantes e bebês, por exemplo, as dietas são adequadas”.

Mercado e os impactos ecológicos e ambientais

Você sabia que o vegetarianismo ou o estilo de vida vegano trazem impactos positivos para o planeta? Um dos maiores problemas ambientais que temos no país está ligado ao desmatamento da Amazônia.

Neste intuito, com o aumento da população, cresce em disparado o consumo de carne que, consequentemente, pode ter efeitos nas queimadas, interferindo nas mudanças climáticas. Para se ter uma ideia, em 2020, o IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística publicou que no Brasil existiam mais bovinos que pessoas, ou seja,  o rebanho bovino brasileiro alcançou 214,7 milhões de animais em comparação a 210,1 milhões de habitantes no país, em 2019.

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Benefícios e impactos da alimentação vegetariana. Imagem: Reprodução/Site da Sociedade Vegetariana Brasileira

Com isso, a cada 1 minuto, 10 mil animais são mortos no Brasil. Chocante né? Conforme imagem do site do SVB, a justificativa é para nossa alimentação. Por isso, trazemos nesse quarto item, além dos impactos e mercado vegetariano no país, a Campanha Segunda sem Carne.

Você já deve ter acompanhado nas redes sociais as #segundasemcarne ou #apazcomeçanoprato. Criada para conscientizar as pessoas sobre os impactos que o uso de produtos de origem animal para alimentação tem sobre os animais, a Campanha Segunda Sem Carne tem inúmeras personalidades que apoiam a causa, entre elas, o ex-Beatle Paul McCartney.

Existente em mais de 40 países, a campanha foi lançada no Brasil em outubro de 2009 e, hoje, é considerada a maior do mundo. Com índices expressivos, somente no primeiro semestre de 2019, mais de 42 milhões de refeições foram oferecidas, resultado de parcerias da SVB com empresas como Natura, IBM, Mãe Terra (Unilever) e Bio2, além dos órgãos públicos, segundo a Sociedade.

Maria Julia, além de nutricionista, é formada em administração de empresas e empreendedora de restaurante no ramo vegano. Segundo Julia, antes de entrar na nutrição, ela comandava um restaurante tradicional que oferecia todos os tipos de proteínas e alimentos e, após mudar o estilo de vida, veganizou o empreendimento.

Em crescente demanda no país, estima-se que existam mais de 240 restaurantes veganos. Com a tendência em alta, supermercados também começaram a incluir itens veganos nas prateleiras, uma vez que 30% dos brasileiros buscam opções veganas.

Se eu te falar que existe até churrascaria vegana, você acredita? Para Zelinda Lima, vegetariana há quase 30 anos, o sonho de empreender em alimentação saudável e acessível foi possível com o Picanhas Grill Veg, churrascaria vegana localizada no Bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre.

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Churrasco Vegano. Foto: Divulgação/Picanhas Grill Veg

Inaugurada há menos de um mês, a churrascaria tem um cardápio “parecido” ao de uma churrascaria tradicional, com um bufê com 10 pratos quentes, maionese, diversas saladas e doces, grelhados como entrevero, polenta na chapa, queijo, calabresa acebolada, bife à parmegiana, bife à rolê; espeto corrido com glúten, pão de alho, demais insumos assados na grelha etc, tudo servido sem nada de origem animal. “Para mim, o vegetarianismo é muito bem-vindo, desde para a saúde do corpo, da alma e da evolução humana. Sempre tive o sonho de empreender o vegetarianismo e o veganismo desde a periferia, para que outras pessoas tenham acesso à essa alimentação. Queremos que nossos clientes se sintam bem, que queiram voltar, pois foram bem servidos, bem atendidos e, principalmente, com uma alimentação adequada e de qualidade”, enfatiza a sócia-proprietária do Picanhas Veg.

Hoje, atende de quinta a domingo à noite com delivery e nos domingos ao meio dia, somente como churrascaria.

Dicas para quem deseja seguir o veganismo

Veganismo está além da alimentação, pois inclui a questão ética, saúde, ambiental, cuidados pessoais, estilo de vida, entretenimento, mudança de hábitos, entre outros.

Assim, no último e quinto item, as nutricionistas dão dicas para quem quer seguir o vegetarianismo e/ou veganismo. A primeira dica é buscar informações e testar receitas. Hoje, existem muitas páginas que oferecem receitas vegetarianas estritas, além disso, buscar acompanhamento nutricional para fazer essa transição de maneira segura e nutricionalmente adequada.

Para Caroline Beskow, não existe alimentos substitutos. “Em uma alimentação saudável, apenas retirar a carne e aumentar o consumo dos outros alimentos já seria o suficiente, porém sabemos que nem sempre essa será a realidade. É importante consumir fontes vegetais de proteína (como o arroz e feijão), consumir boas fontes de cálcio (vegetais verdes escuros e alimentos fortificados), garantir fontes de ferro (na maior parte encontrado em leguminosas) e ter a alimentação o mais diversificado possível. Hoje no mercado existem produtos veganos que possuem sabores muito similares a produtos de origem animal, o que pode facilitar bastante na transição”, indica.

Já para Maria Julia, diversificar a rotina alimentícia pode ajudar, inclusive, em aderir à campanha da segunda sem carne. “Incluir mais alimentos e vegetais nos pratos, sejam assados, refogados, tortinhas, panquecas etc. Tem a possibilidade de começar escolhendo um dia da semana para não consumir carne de origem animal. Experimentar é a dica. Ir a um restaurante, buscar novas receitas e dicas e começar a observar como se sente, mais leve, mais feliz etc. Não vamos substituir nada, as pessoas acreditam que o nutriente relacionado aquele alimento de origem animal fará falta. O gergelim, por exemplo, tem 8 vezes mais cálcio que o leite de vaca, assim como a papoula que tem 14 vezes mais cálcio. Então, não substituímos o que não é imprescindível”.  

Mantra Gastronomia e Arte

Com 15 anos de experiência no mercado, o Mantra Gastronomia nasceu com o objetivo de ser uma opção de comida saudável em um local que respeitasse todos os seres vivos. Inicialmente, o restaurante iniciou vegetariano e depois passou a ser vegano.

Ivan Martins Costa Madureira Coelho, de 31 anos, advogado e, hoje, sócio-proprietário do Mantra, conheceu o restaurante enquanto cliente que estava parando de comer carne e entendendo os impactos do consumo para o meio ambiente. “Sempre gostei muito de cozinhar e tinha um sonho de ter um restaurante no futuro. Conversando com os sócios, consegui adiantar esse sonho e mudei completamente de vida, me tornando sócio do Mantra e passando por todas as áreas da operação, inclusive a cozinha, para saber como um restaurante funcionava. E foi a melhor decisão que eu fiz. Sou muito feliz em poder trabalhar ativamente para conscientizar e transformar as pessoas através do alimento”.

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Mantra Gastronomia e Arte. Foto: Enrique Salgado

Com um cardápio inspirado também na cultura indiana, o restaurante usa muitas especiarias e ervas aromáticas. “Aqui no ocidente, historicamente, usamos as especiarias para dar cor e sabor a comida. No oriente, além desses usos as especiarias e ervas são entendidas como medicamentos para tratar algumas doenças, mas principalmente para dar saúde e manter o corpo saudável e livre de doenças. O pensamento é mais pela prevenção e menos na remediação. A Ayurveda é o sistema de medicina tradicional da Índia (o qual usamos diversos preceitos aqui no Mantra). Nos livros clássicos, há uma infinidade de tratamentos com ervas e especiarias, para tratar os mais diversos tipos de comorbidades. Mas o foco também é na prevenção”, explica Ivan.

Atualmente, o Mantra serve uma sequência de pratos durante o almoço (entrada, salada, prato principal, sobremesa e chá), mudando a temática em cada dia da semana. O sócio administrador revela que a segunda-feira é mais leve; terças, quintas e sábados são cardápios indianos; quarta é sem glúten; e sexta brasileira. Alguns sábados também são temático de outras nacionalidades. À tarde, servem chai, um chá típico indiano, cheio de especiarias, além disso, tem cafés especiais e doces e salgados. “À noite, servimos uma diversidade de burgers, pratos indianos como currys, churrasco vegano, além de eventos às quintas-feiras como a noite das pizzas, open de burgers, open de not dogues e a noite dos currys. Tudo isso também oferecemos pela nossa tele entrega”, destaca Martins.

O Mantra oferece ainda uma feijoada, a queridinha dos clientes. O legal, ainda, é que os burgers tem nome de deuses hinduístas, como Burger Ganecha feito de ervilha com cogumelo; Krishna Burger de grão de bico e o Kali Burger com cheddar vegano e shimeji.

O Mantra fica na Rua Castro Alves, 465, em Porto Alegre. Atualmente, além do almoço, jantar e os chás e cafés à tarde, o espaço oferece aulas de yoga, terapias integrativas e palestras, cursos e workshops que promovem bem-estar, saúde e consciência de várias maneiras diferentes. “Tenho a certeza que o Mantra é um lugar que vai perdurar no tempo, por mais de 100 anos. A ideia nunca foi apenas ter lucro ou dar certo para vender para outra pessoa. Fazemos o que fazemos por um ideal, por uma nova forma de ver o mundo e de se relacionar com a natureza, entendendo que nós somos a natureza e não que ela está fora da gente e podemos usá-la como bem entendemos. Às vezes, na loucura do dia-a-dia, é fácil nos perdemos do porquê de estarmos aqui servindo almoço após almoço, dia após dia. Mas o que sustenta o Mantra é o propósito de trazer o máximo de impactos positivos e trazer mais consciência para as pessoas para conseguirmos ir mudando a nossa sociedade, que está muito doente há um bom tempo”, finaliza Ivan Martins.