Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ 

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Chefe de Reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista 

Como adaptar seu Pet para o retorno pós pandemia

Estar na companhia de quem amamos é maravilhoso. A pandemia da covid-19 redesenhou as rotinas e metodologias de trabalho no mundo inteiro, e o que pensávamos ser passageiro já se estende por um ano e três meses. Com o cronograma de aplicação das vacinas, muitas empresas adaptaram seus ambientes e estão retomando a rotina de trabalho.

Essa separação do pet e do seu tutor pode causar alguns transtornos emocionais, principalmente aos bichinhos. Especialistas alertam que, na maioria vezes, animais que apresentam um comportamento de dependência emocional costumam ser mal acostumados pelos próprios tutores, portanto é importante reforçar atitudes positivas e estabelecer rotinas para que seu peludo não desenvolva esse tipo de problema.

Os pets passaram a fazer parte da nossa família e se torna cada vez mais comum a inclusão deles em diversos momentos da nossa vida. O que não necessariamente é considerado um problema, mas, como em tudo que existe, o equilíbrio é fundamental. Passear com o animal antes de ir e ao retornar do trabalho gera um gasto de energia e uma distração com os cheiros, com o ambiente e com os próprios colegas que encontrarão durante o percurso. É uma ótima alternativa para entretê-lo.

Mas você também pode investir em brinquedos funcionais e brincadeiras ligadas ao enriquecimento ambiental, conforme falamos nas reportagens, “Como entender seu gato Parte 1 e Parte 2” e “Como adaptar seu pet em um novo lar”. Essas atitudes possibilitam que o animal passe uma boa parte do tempo ocupado.

Um estudo realizado com 14 mil animais pela Universidade de Helsinque, na Finlândia, constatou um aumento considerável de pets com a Síndrome de Ansiedade. Inclusive, o estudo cita também como tutores que sofrem com a Síndrome de Burnout, por exemplo, podem afetar diretamente seus animais através de atitudes realizadas em momentos de crise.

Pensando nisso, o Mulheres Jornalistas entrevistou Renan Nunes Fernandes, que é adestrador, consultor em comportamento animal e fundador da empresa Família Canina Adestramento, para nos dar dicas de como fazer essa adaptação da melhor maneira possível.

Mulheres Jornalistas (MJ): Como preparar o pet para o retorno dos tutores às atividades?

Foto: Reprodução/Acervo pessoal/Renan Fernandes

Renan: É importante que essa preparação seja feita ainda com a presença de alguém da família em casa. O cachorro deve entender que é bom ficar separado durante curtos espaços de tempos em outro cômodo (preferencialmente no local que ele ficará quando todos saírem de casa). Para isso, a família precisa preparar esse cômodo com alguns brinquedos de diferentes formatos e modelos, com pelo menos dois brinquedos recheáveis com petiscos ou ração para que ele concentre sua atenção apenas nesses brinquedos e esqueça temporariamente a pessoa que está no outro local da casa. É fundamental que, durante o treinamento, não tenha alguém da família com o cachorro no mesmo cômodo.

MJ: Quanto tempo de treino é indicado por dia?

Renan: Nos primeiros dias, para adaptação, apenas 5 minutos de treino são suficientes. Esse tempo será aumentado conforme a evolução do cão para não o sobrecarregar com muitos treinamentos e para que dê tempo para o cão absorver o que foi aprendido. Sugiro de uma a três repetições do treino por dia, não mais do que isso.

MJ: Quais são as dicas para animais que têm o hábito de latir continuamente quando estão sozinhos?

Renan: Os cães geralmente latem ao ficarem sozinhos por tédio, ansiedade ou insegurança. Para que não aconteçam os latidos excessivos, é fundamental que o cachorro se mantenha entretido e feliz ao ficar sozinho. Para que isso aconteça, é necessário prepará-lo da forma correta e investir em enriquecimento ambiental, que nada mais é do que tornar o ambiente de circulação do cão em algo extremamente prazeroso e rico em atividades. Bolinhas recheadas com petiscos ou ração, uma roupa recém usada por alguém da família, petiscos escondidos pela casa e uma televisão ligada (ou um rádio) farão daquele ambiente um local muito mais confortável, interessante e, ao mesmo tempo, divertido.

MJ: Quais são os alertas físicos que o Pet pode apresentar para identificarmos um transtorno de ansiedade?

Renan: São variados os alertas e sintomas de ansiedade. Os mais comuns são latidos ou uivos excessivos, urinar e defecar pela casa somente na ausência do dono, arranhar portas e janelas, lamber e mordiscar as patas em excesso, falhas no pelo, se recusar a comer sozinho e destruição de objetos, principalmente objetos pessoais da família, como sapatos, chinelos e sofá, por exemplo.

MJ: Esse processo de ignorar a festinha que os animais fazem ao chegarmos em casa está correto ou não?

Foto: Reprodução/Acervo pessoal/Renan Fernandes

Renan: Um dos motivos que levam os cães a ficarem ansiosos quando ficam sozinhos é a expectativa da chegada de seu tutor. Essa expectativa é gerada pela festa que as famílias fazem quando chegam em casa. Se quisermos um cão mais tranquilo e menos ansioso, a festinha precisa ser repensada. Outra razão para não fazer festa ao chegar em casa é o fato de não sabermos ainda como o animal se portou na nossa ausência. Ele pode ter acabado de destruir algum objeto, por exemplo, e essa festa pode reforçar indiretamente a repetição desse mau comportamento. O mais indicado é chegar em casa com calma, verificar se está tudo em ordem e só então, após alguns minutos, dar carinho e atenção para o cachorro.

MJ: Trazer brinquedos e petiscos ao chegar em casa ajuda ou pode gerar uma dependência emocional maior?

Renan: Pode gerar uma dependência maior, se o petisco e brinquedo for dado assim que o tutor chegar em casa. Mas dar um presente para o cão, após verificar que está tudo em ordem na casa, pode ter um efeito positivo no treinamento.

MJ: Se chegar em casa e verificar algo destruído, que tipo de reação se deve ter?

Renan: Os cães destroem objetos ou geram outros maus comportamentos também para chamar atenção de seus tutores. Isso quer dizer que, quando a família briga com o cachorro, pode estar indiretamente reforçando aquele comportamento. Por mais difícil que seja, a melhor reação é ignorar a destruição e continuar treinando para tornar o cão mais independente.

MJ: Providenciar um companheiro(a) para o seu Pet pode auxiliar nesse processo?

Renan: Esse tipo de ansiedade nos cães ao ficarem sozinhos está ligado a um apego excessivo do cachorro com os seus tutores. Portanto, ter outro cachorro não necessariamente irá resolver o problema. Já ouvi inúmeros relatos de famílias que, ao providenciaram outro cachorro, não somente ficaram sem resolver o problema de ansiedade do primeiro, como acabaram tendo outro cão com os mesmos sintomas. A melhor solução é acostumar de forma positiva o seu cão a ficar sozinho e, assim, torná-lo independente.