Vacina é esperança para o fim da pandemia apenas em países ricos
Em novembro de 2020 foram anunciadas as primeiras vacinas contra a Covid- 19. Para muitos, uma esperança do fim da pandemia, para outros, uma realidade ainda distante
Por Daniele Haller
daniele.haller@mulheresjornalistas.com
Com a distribuição e a compra das vacinas em massa por países ricos, os países de baixa renda entram em uma longa fila de espera para que as vacinas cheguem até eles. Enquanto a OMS- Organização Mundial de Saúde, tenta conscientizar sobre a importância da imunização em âmbito mundial, vários países saíram à frente na compra das vacinas, causando um “furo” na distribuição igualitária das doses. Tais atitudes, fizeram com que o objetivo de imunizar os países de forma simultânea se tornasse uma realidade ainda distante.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor da OMS, se pronunciou a respeito da desigualdade na distribuição de doses entre os países e suas possíveis consequências: “Devo ser franco: o mundo está à beira de um fracasso moral catastrófico, e o preço desse fracasso será pago com as vidas e meios de subsistência dos países mais pobres”.
Em busca de gerar uma solução para a desigualdade da imunização da população de países pobres, a OMS desenvolveu a COVAX – Covid-19 Vaccines Global Access, um mecanismo que visa assegurar um acesso igual e equitativo das vacinas COVID-19 em todo o mundo. A iniciativa objetiva reunir governos, investidores do
setor privado, cientistas, para possibilitar que as vacinas cheguem à uma maior parte da população, independentemente da situação financeira. Apesar da iniciativa, a OMS declarou que ainda existem dificuldades, pois não há vacinas suficientes para serem vendidas à Covax.
No anúncio publicado na última quinta-feira(04) no site da OMS, o diretor da organização afirma que está realizando todos os esforços para que a vacina seja distribuída a todos os países nos primeiros 100 dias desse ano: “Só nos restam 65 dias, mas estamos fazendo progressos. Como sabem, há duas semanas, a COVAX anunciou a assinatura de um acordo de compra antecipada de até 40 milhões de doses da vacina Pfizer-BioNTech”, afirma Tedros Adhanom. O comunicado também confirma que a COVAX anunciou a sua previsão de distribuição provisória para o primeiro semestre do ano.
Dentre os países que devem ser beneficiados pelo consórcio COVAX está o Brasil, que deve receber 42,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 até o fim de 2021. Segundo o Ministério da Saúde, essa quantidade deve garantir que cerca de 10% da população brasileira seja vacinada , de acordo com o Plano Nacional de vacinação.
Distribuição afeta bruscamente o continente africano
Com mais da metade das vacinas aprovadas pela OMS compradas pelos países ricos, apenas 14% da população, a África entra na fila de espera e vê em países como China e Rússia a possibilidade mais rápida de iniciar a vacinação.
Segundo dados da OMS, somente 75 % das vacinas produzidas até agora chegaram em apenas 10 países. Enquanto os países ricos compraram o equivalente a 96% da quantidade de vacinas oferecidas pela Pfizer, apenas 4% será distribuída para os países mais pobres, ou seja, 54 milhões. Um número muito abaixo do que o necessário, pois, apenas no bloco africano, foram encomendadas 900 milhões de doses.
Em janeiro desse ano, a diretora regional para África da Organização Mundial de Saúde (OMS), Matshidiso Moeti, alertou sobre a grande espera pela vacina no continente africano: “Nós primeiro, não eu primeiro, é a única forma de acabar com a pandemia. A acumulação de vacinas apenas prolongará a provação e atrasará a recuperação da África (…)É profundamente injusto que os africanos mais vulneráveis sejam forçados a esperar por vacinas enquanto os grupos de menor risco nos países ricos são imunizados”, disse Matshidiso Moeti.
De acordo com a ONG The People’s Vaccine Alliance, cerca de 70 países poderão vacinar apenas uma a cada dez pessoas durante o ano de 2021. Além da África, continentes como Ásia e América do Sul podem ser afetados pela desigualdade na distribuição de vacinas.
A América Latina concentra 25% das mortes por Covid- 19, os profissionais de saúde foram bruscamente atingidos e a distribuição das vacinas tem se mostrado não apenas lenta, mas desigual. Na Ásia, a Índia iniciou a produção de vacinas e começou a fornecer para outros países, mas priorizando a própria população. A Indonésia preparou um plano de vacinação que tem ido no sentido contrário à maioria dos países, vacinando primeiramente seus jovens, sob o argumento de que eles são os principais transmissores do vírus.
Enquanto os países pobres ainda não sabem quando poderão iniciar a vacinação, outras nações já iniciaram a aplicação da segunda dose da vacina. Um cenário não muito distante do que o mundo já está acostumado a ver, onde quem pode ,leva mais. Mais uma vez, a parcela mais pobre da população fica à margem, à mercê de uma mundo que, mesmo diante de uma pandemia, apenas comercializa o único remédio, dificultando não apenas o acesso a todos, mas também a erradicação da pior epidemia dos últimos 100 anos.