Turismo indígena online: uma prática acessível e de grande aprendizado
Eliza Dinah, Jornalista- MG
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Habitantes originais das Américas, primeiros donos desse grande território chamado Brasil, para povos que estão tendo suas histórias de protagonismo apagadas do país. Os índios já habitavam o território brasileiro muito antes da chegada dos portugueses e estão distribuídos nas cinco regiões do país.
De acordo com os dados do censo IBGE 2010, no Brasil vivem 896.917 pessoas que se declaram como indígenas. O censo também identificou, em parceria com a Funai, 505 terras indígenas, representando 12,5% do território brasileiro. São cerca de 305 diferentes etnias indígenas no Brasil.
Mesmo representando importante parte desse país, conhecer, de verdade e a fundo, uma tribo indígena, seus costumes e valores é uma prática que alguns turistas sortudos buscam ter. Se até outro dia essa experiência era limitada por viagens presenciais as áreas indígenas, hoje a realidade se adapta -ainda bem- para o mundo acessível e virtual.
Conexão Baré
O projeto chamado Conexão Baré é uma oportunidade para realizar uma visita virtual a uma aldeia indígena nos arredores de Manaus. Essa é uma das raras iniciativas no país de adaptar, para o meio digital, o turismo de base comunitária em territórios indígenas — uma modalidade especialmente afetada pela pandemia, já que essas populações sempre estiveram entre as mais suscetíveis ao novo coronavírus.
A Conexão Baré é uma experiência imersiva, que te leva a vivenciar o dia de uma comunidade indígena amazônica com os locais. Também é interativa, pois te oferece a oportunidade de interagir com os indígenas Baré, fazendo suas perguntas ao vivo. O funcionamento é feito online, através de uma chamada de vídeo. Ao vivo e falando direto do povoado, os membros da comunidade discorrem sobre suas histórias, costumes e crenças para um grupo de, em média, dez participantes, cada um em sua casa. Eles apresentam também seu artesanato (que pode ser comprado online) e até mesmo ensinam alguma receita típica da região.
E viajando online, você contribui apoiando comunidades tradicionais, através da valorização cultural e da geração de renda, além de ser uma vivência inclusiva, que possibilita a participação de pessoas com mobilidade reduzida ou restrições financeiras.
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Terra Indígena Tenondé Porã
Localizada no extremo sul de São Paulo, a aldeia guarani Tekoa Kalipety, na Terra Indígena Tenondé, em parceria com a agência de turismo pedagógico Terra Nativa, realiza expedições virtuais na aldeia.
O passeio virtual é feito através de um vídeo gravado pela própria equipe da Terra Nativa na aldeia. A peça, de cerca de 30 minutos, aborda diversos aspectos da vida comunitária, desde a visão de mundo dos guarani ao modo de vida cotidiano deles, e é exibida por meio de videoconferência com os visitantes virtuais. A condução é feita por um guia especializado, que para o filme a todo o instante para falar mais sobre o assunto abordado ou tirar dúvidas. No total, a experiência dura 1h30m.
Acesse aqui o conteúdo sobre.
Aldeia Tekoa Itakupe
De forma ainda mais inovadora e interativa, é possível conhecer alguns pontos da aldeia Tekoa Itakupe, na terra indígena do Jaraguá, também no extremo sul da capital paulista. Essa visita é feita em um projeto de 360º, que a Claque Produções, em parceria com o grafiteiro Dinas Miguel, desenvolveu no Aldeia 360. Esse projeto multimídia combina vídeos, fotos, textos e, claro, realidade virtual que permite um passeio em 360 graus.
Para se maravilhar com essas fotos e conteúdos, basta acessar aqui.
Turismo Indígena
Sandro Campos Neves, de 39 anos, é professor universitário UFPR, doutor em antropologia, bacharel em turismo e estuda a questão do turismo em áreas indígenas desde 2008. Segundo ele, essa prática turística no Brasil teve suas primeiras iniciativas aproximadamente nos anos 60. “Mas atualmente é algo que cresceu muito. Tem muitas iniciativas pelo país todo, na Amazonia, nas áreas urbanas etc. Muito diverso e variado”.
Ele explica que, num contexto comum, fora pandemia, as principais características das visitações eram começando com uma visita presencial na área indígena. “Considerando os vários tipos de projetos que já conheci, existe um tipo de padrão: visitação às aldeias, onde se busca mostrar um pouco da cultura indígena, mostrando as casas, os rituais religiosos etc. Mostrar de alguma maneira para o turista, o que é a cultura. Em alguns lugares, tem coisas tipo ensinar o turista a atirar com arco e flecha, enfim, uma tentativa de fazer uma rápida imersão na cultura indígena”, esclarece.
A maioria dessas práticas foi instituía com o objetivo de produzir uma alternativa de geração de renda para os indígenas, e ainda segundo Sandro, na maioria dos casos, trás como consequência positiva (além da geração de renda), uma certa valorização da cultura indígena, que contribui para melhorar a autoestima das populações.
Quando tratamos da nova modalidade de visitação em formato virtual, o especialista comemora: “toda iniciativa que seja benéfica economicamente para os indígenas me parece uma boa. E nesse caso, parece ter algumas vantagens. Em uma sociedade brasileira onde se tem tão poucos conhecimentos pela via da educação, com relação a questão dos indígenas, o turismo contribui para que as pessoas conheçam, tenham alguma experiência, estudem mais sobre o assunto e passem a valorizar. E acho que isso sim contribui para a luta. Qualquer tipo de reconhecimento social ajuda a população indígena as lutas em relação a terra e outros direitos que são fundamentais a eles”.