por Letícia Fagundes, Jornalista 

Rayssa Leal, nordestina, do Maranhão, conhecida como Fadinha, tem 13 anos e já conquistou a medalha de prata para o Brasil, no skate street, na Olimpíada de Tóquio (Japão), nesta madrugada 26 de julho. Agora Rayssa é a medalhista mais jovem que o Brasil tem na história da participação brasileira nos Jogos. Se antes o skate era marginalizado e principalmente, não era “esporte de menina”, elas, ainda tão jovens, representaram muito bem essa categoria esportiva nas Olimpíadas de Tóquio.

A Fadinha chegou a dançar algumas vezes, descontraindo. Com um sorriso largo, Rayssa marcou na somatória 14,64 pontos, enquanto a japonesa, Nishiya Momiji, de 13 anos somou 15,26 pontos levando ouro e Funa Nakayama, também japonesa, com 16 anos, levou o bronze, numa somatória de 14.49. No site do Comitê Olímpico do Brasil (COB), a jovem atleta comentou: “ Eu estou muito feliz, esse dia vai ser marcado na história. Eu tento ao máximo me divertir porque eu tenho certeza de se divertindo as coisas fluem, deixa acontecer naturalmente, se divertindo”, disse a skatista.

Além de skatista, agora Rayssa é influenciadora de outras meninas e mulheres pelo mundo através de suas redes sociais, que alcançou a marca de 2 milhões de seguidores no Instagram. “Saber que muitas meninas já me mandaram mensagem no Instagram falando que começaram a andar de skate ou os pais deixaram andar de skate por causa de um vídeo meu, eu fico muito feliz porque foi a mesma coisa comigo. Minha história e a história de muitas outras skatistas que quebraram todo esse preconceito, toda essa barreira de que o skate era só para menino, para homem, e saber que estou aqui e posso segurar uma medalha olímpica, é muito importante para mim”, afirmou.

O que fala Rayssa?

Em entrevista ESPN Brasil, exibida hoje no SportSCenter, para Rayssa o início não foi fácil havia preconceitos e até conseguir reconhecimentos de patrocínios e da família mesmo, mostrou que skate não era esporte só de menino. “[Depois do vídeo], foi uma super mudança que aconteceu. As marcas começaram a aparecer, os campeonatos começaram a aparecer e a minha família começou a me apoiar mais também. Eu ficava meio triste, mas queria mostrar para minha família que skate não é só coisa de menino. É como futebol. Futebol, muita gente acha que é só para menino, e eu queria mostrar que skate não é só para menino. Essa foi uma das motivações para evoluir mais”, concluiu.

Mais brasileiras (estas ídolas de Rayssa) competiram na primeira fase, mas não se classificaram, o que, mesmo sem a classificação, é um grande avanço na modalidade. Pâmela Rosa, líder do ranking mundial no street, a atleta ficou em décimo lugar, na somatória de 10.06 pontos. Ao postar em suas redes sociais, a atleta sofreu uma lesão no tornozelo esquerdo, mas agradeceu a torcida. E não podia faltar a experiente skatista Letícia Bufoni, que totalizou 10.91 pontos na somatória, ficando em nono lugar.

A medalhista, agora quer ir além, quem sabe, passar a frente suas habilidades para outras sonhadoras, é o que disse na entrevista à ESPN Brasil. “Eu vejo que muitas meninas falam que eu as inspirei a começar a andar de skate e mostra meu vídeo para os pais para dizer que querem ser como eu. Eu falo: ‘Não, você não vai ser igual, vai ser melhor’. Eu quero inspirar essas meninas a começar e continuar no skate”.

A história do Skate, das pistas e manobras

O Skate surgia por volta dos anos 50, na Califórnia. Foram os surfistas que fizeram uma gambiarra, nas épocas de falta de ondas no mar, que era colocar rodas em algumas taboas de madeira. Até então ficou como uma forma de se divertir, mas o mercado colocou os olhos na ideia e começou comercializar inicialmente com a marca Roller Derby.

Mas e as rampas de skate? Novamente, por volta dos anos 70, os surfistas ficam com uma enorme falta de onda na Califórnia, e surge o skate vertical. E aí que surgem as rampas/pistas que nada mais era que, esvaziar as piscinas em casa e transformar em rampas/pistas e manobras.

No Brasil o skate chega por volta do final dos anos 80, quase 40 anos depois dos primeiros feitos na Califórnia. Quase um estilo de vida, no país o esporte foi marginalizado, afinal quem andava de skate era taxado de maconheiro, ladrão e afins. Em São Paulo, em 1988, quando o prefeito Jânio Quadros proibiu a modalidade na cidade, o veto iniciava no Ibirapuera e se expandiu para toda a cidade. Mesmo com repressão policial, os skatistas não pararam e tudo acabou quando Luiza Erudina, foi eleita para substituir Jânio.

Um documentário muito sugerido é o Vida Sobre Rodas (2010), disponível no Youtube, dirigido por Daniel Baccaro. O documentário revela 30 anos de história do skateboarding no Brasil, indo desde o seu surgimento nos anos 80 até os maiores atletas que deram start na modalidade.

História das mulheres no Skate

O primeiro campeonato de skate feminino no Brasil, ocorreu em 2002, na pista OnBoard, no bairro da Lapa, São Paulo. Haviam 28 inscritas e a competição foi em duas categorias: amadora e iniciante. A primeira mulher skatista  profissional foi McGee , com 19 anos (em 1965), ela venceu o campeonato nacional nos Estados Unidos. Foi capa das revistas skateboarder e Life. Já a primeira brasileira a ser campeã de um circuito mundial no street, foi Larissa Carollo, nos anos 2000.

Outros nomes importantes para nos orgulharmos:

  • Karen Jonz – Primeira brasileira campeã mundial na modalidade vertical
  • Lizzie Armanto – Primeira skatista a fazer a “manobra insana” na pista projetada por Hawk

Na igualdade de gênero com relação a premiações, a marca de roupas e tênis de skate, Vans igualou o valor dos prêmios entre homens e mulheres, além disso ofereceu aulas de skate gratuitas para mulheres, que teve início na Índia chamado Girls Skate Índia, e chegou no Brasil com o nome Vans Girls Skate Nights São Paulo.

Segundo dados compartilhados pela Confederação Brasileira de Skate (CBSk), o Data Folha revelou que houve um crescimento de 75% da participação feminina nos últimos três anos, dos 8 milhões de pessoas que praticam o skate no Brasil, 2 milhões são mulheres. O campeonatos podem traduzir isso também em números, dados do Circuito Brasileiro de Skate de Park e Street (Oi STU QS) em 2018, 28% das participantes eram mulheres, já em 2019, o número aumentou para 31,7% (considerando universo total de 173 atletas, sendo 118 homens e 55 mulheres).