Por Luiza Esteves, Repórter do Rio de Janeiro
Trote solidário ganha destaque nas universidades
Ingressar na faculdade é o sonho de muitos estudantes. Vivenciar novas experiências, com diferentes métodos de ensino e exigências gera ansiedade. Porém, o que torna esse momento desagradável é o histórico dos trotes violentos, envolvendo lesões físicas, constrangimentos e humilhações. Com o objetivo de modificar a concepção, uma nova geração de universitários tem ganhado espaço nas universidades. Projetos como o Trote do Amor e o Calouro Humano são exemplos de incentivo à solidariedade entre os jovens e à conscientização moral.
O Trote do Amor consiste na competição entre 11 faculdades do Rio de Janeiro, em que cada uma delas fica responsável por apadrinhar uma instituição de caridade. De acordo com a demanda do local, os donativos são escolhidos. Itens como alimentos não perecíveis, produtos de limpeza e materiais de escritório estavam entre os mais solicitados.
O projeto foi idealizado pela Agência Panqueca, grupo de quatro estudantes da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) que acreditaram no potencial de doar a energia dos jovens para realizar ações sociais. Mesmo antes da ideia do trote solidário, a equipe realizava ações como entregar cestas básicas às pessoas necessitadas, atitude que já demonstrava a motivação em ajudar o próximo sem qualquer outro interesse. “Não tínhamos noção da dimensão que o projeto tomaria”, relata Rafael Paiva, membro da agência.
O Trote do Amor já conseguiu em 1 ano arrecadar 25 mil itens e 34 cortes de cabelo cedidos para crianças com câncer. De acordo com Filipe Barbosa, também membro da Agência Panqueca, o aumento do número de doações ocorreu devido a fatores como o maior engajamento das atléticas, que ficaram responsáveis por informar aos calouros sobre o Trote do Amor.
Na Universidade Veiga de Almeida (UVA), a atlética de Comunicação Social incentivou os estudantes a contribuir com as doações. Luiza Paixão, ex-diretora de esportes, afirma que informou nas salas dos calouros acerca dos itens pedidos pela APAE, instituição apadrinhada pela faculdade. “Buscamos não só apoiar o esporte, como as ações sociais. Precisamos ser mais solidários com os outros”.
Já na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o Calouro Humano é realizado durante a semana de trote da faculdade. Nesse período ocorrem eventos como o “Conheça a Universidade”, o qual celebra o ingresso dos novos alunos por meio de palestras, debates, atividades esportivas e culturais. Desde 2009 os veteranos planejam essa programação com o intuito de integrar os calouros à universidade e transformar a cultura do trote violento.
Além disso, é realizada uma gincana com os novos alunos no Calouro Humano. Cada estudante deve realizar determinadas tarefas para somar pontos. Algumas delas são doar sangue, alimentos, roupas, brinquedos e livros. Depois de montar o chamado “kit calouro” a participante ganha um prêmio e ainda auxilia com os donativos.
Apesar do projeto de solidariedade, a imagem da UERJ em relação aos trotes foi polemizada. Depois da divulgação nas redes sociais de uma foto em que calouros de direito se encontravam deitados sujos de farinha, ovos e tinta, o caso foi analisado por representantes do trote e calouros. As opiniões divergiam a respeito de se tratar de um caso de humilhação ou não.
A estudante do curso de direito e representante do Calouro Humano, Júlia Fernanda afirma ter presenciado a cena e que não observou algum constrangimento dos calouros. De acordo com ela, antes das brincadeiras os veteranos perguntam se o estudante deseja realizar o que é sugerido. Portanto, os novos alunos teriam a consciência de que podem escolher se deseja participar.
Assim como Júlia Fernanda Soares, todo o coletivo feminino assiste aos trotes da UERJ para evitar que ocorra violência. Além disso, as atividades propostas devem ser avaliadas e aprovadas pela direção do curso antes de realizadas. Assim, a preocupação com a instituição em relação às humilhações do histórico dos trotes é dado como prioridade no período da primeira semana. “Sei que ainda existem muitos trotes violentos, mas vejo que eles vêm diminuindo gradativamente. Cada vez há mais espaço para os projetos envolvendo questões sociais”, afirma a estudante de direito.