Trabalho remoto: Dê uma pausa para o seu cérebro!
Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – SP
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Estudo da Microsoft comprova que reuniões virtuais são estressantes, por isso, é necessário fazer uma pausa
Leni Silva, professora de Educação Básica, se viu em meio a um grande desafio: dar aulas remotas para crianças. Preparar aulas, estar em frente ao computador numa carga horária acima do que ficava e buscar métodos para que a sua produtividade não caísse. Ela conta que no início foi muito impactante e, ao mesmo tempo, desafiador. A professora buscou meios de se adaptar e manter sua saúde mental, segundo ela, uma das maiores preocupações.
“Eu fiquei muito preocupada em como eu iria conseguir transmitir minhas aulas de forma eficaz e não deixar cair a qualidade do ensino. Trabalhei muito meu psicológico, para me inserir nesse novo normal sem sofrer. Eu sempre coloco a saúde mental em primeiro lugar, pois se não estiver bem, não se sentir feliz com o que faz, você não consegue desenvolver um bom trabalho. Não permiti que o impacto da pandemia viesse me abalar mentalmente”, conta. Leni realizou alguns cursos online voltados para a modalidade remota para poder alcançar conhecimentos que dessem mais segurança para executar o trabalho, mantendo sua saúde.
O tema saúde mental x trabalho remoto – em específico as reuniões online – foi objeto de estudo do Laboratório de Fatores Humanos da Microsoft, que mostrou que as reuniões virtuais são estressantes, causando danos à saúde mental e produtividade dos colaboradores. A pesquisa, desenvolvida pela empresa proprietária do aplicativo Teams, de videoconferências, mostra ainda que pequenas pausas fazem toda a diferença, aumentando a capacidade dos trabalhadores de se concentrar e envolver. Dar pausas para descansar, fazer um exercício ou se concentrar em outra atividade que não seja trabalho, permite que o cérebro não acumule tanto estresse. O objetivo do estudo foi buscar uma solução para o cansaço que as reuniões geram.
O psicólogo Reno Mendes explica que a pandemia da covid-19 impactou as pessoas de diversas formas e que elas tiveram que se adaptar rapidamente a uma rotina que não estavam habituadas. Novos tipos de cobranças, falta de limites por parte das empresas e um estresse mental e visual que influencia bastante no rendimento. “A produtividade está ligada aquilo que eu consigo entregar. E sim, a nossa produtividade reduziu em paralelo com a qualidade. Não dá para ser produtivo em paralelo com um vírus que a qualquer momento pode arrancar você ou alguém que ama da sua casa, e, de repente, ter perdido a pessoa”, afirma.
O especialista explica que algumas medidas são necessárias para manter a qualidade de vida e saúde mental. “Pausar a cada 45 minutos, sair das telas; olhar para cima, uma paisagem, fazer um alongamento e sentir o corpo. Para melhorar a saúde mental é preciso viver. Investir na construção de novidades. Estamos tão automáticos que até sair da rotina nos faz sentir um cansaço. Isso não é viver. Estamos sobrevivendo. E sobreviver é começar a perder o nosso direito à vida”, pontua.
Dois lados do trabalho remoto
A jornalista e empresária Tainá Cavalcante conta como foi o início do trabalho remoto na pandemia da covid-19. O ideal de “trabalhar em casa é mais tranquilo” foi por água abaixo com um volume muito maior de demandas e a pressão para manter o mesmo padrão de resultados. Como demonstrar que eu estou trabalhando mais em casa do que quando eu estava presencial? Como eu provo que eu estou trabalhando mesmo estando em casa? Essas perguntas, aliadas ao medo em relação ao vírus, eram frequentes para muitos profissionais.
“Acho que a palavra é ‘pilhado’. Todos ficamos. A tensão de mostrar a efetividade mesmo em um momento que ninguém estava 100% bem. Estava todo mundo com medo dos seus familiares adoecerem, de adoecer, de trazer doença para casa, então eu acho que essa pressão pessoal de mostrar trabalho, por estar em casa, foi muito complicada. Isso afetou diretamente a saúde mental, acho que não só a minha, mas de muitas pessoas que eu conheço. Em um contexto de pandemia, principalmente no início de tudo, é impossível ser completamente produtivo sem saber como lidar com nada, sem saber de nada, sendo tudo uma surpresa”, conta.
Para a jornalista, o aumento da carga de trabalho, cobranças e uso das telas resultou no aumento da ansiedade, do nervosismo e da tensão. “O trabalho passou a ultrapassar nossa carga horária de jornalista, por exemplo, pois estávamos em casa o tempo todo, sempre com o celular, recebendo notícias de todos os locais. Trabalhávamos o dia inteiro. Então foi preciso colocar um limite, o que foi importante e só foi aprendido com o tempo de saber separar os momentos de trabalho”, lembra. Tainá conta que precisou de ajuda terapêutica para lidar com essa mudança e a cobrança ainda maior por produtividade.
Hoje Tainá trabalha de forma híbrida. Uma semana está na redação do jornal, outra trabalha remotamente. Com o tempo, em quase dois anos de pandemia, os mecanismos estão sendo ajustados, empresas estão modificando sua maneira de tratar os colaboradores e passam a entender a importância da saúde mental. “Hoje já me sinto confortável em saber que estou trabalhando em casa e mantenho minha produtividade. O ambiente é diferente, mas o trabalho é o mesmo e a responsabilidade também. Acredito que a ideia de poder trabalhar em diversos locais é uma tendência. Acho que vai ser assim daqui a um tempo. Acredito que mais e mais empresas adotem esse método porque é, em meio a tudo o que está acontecendo, liberdade para o funcionário. Não só liberdade, mas criatividade, a sensação de querer fazer melhor. Acho que mudar o ambiente e te deixar em um ambiente completamente aconchegante e confortável faz com que essa produção seja melhor, mais gostosa e torne tudo mais calmo.
Atenção, empresas!
O psicólogo Reno Mendes explica que as empresas têm um papel fundamental na garantia da saúde mental e produtividade dos colaboradores. E elas devem estar atentas para isso. “As empresas precisam entender que se seus colaboradores não estão bem, tem algo que precisa mudar. Um gestor precisa compreender que um colaborador adoecido mentalmente não lhe trará retorno algum. Não no sentido de desumanizar os colaboradores, mas ter um núcleo de saúde mental que ofereça suporte e apoio e aprimore as emoções dos seus colaboradores é prosperar por uma empresa que seja moderna e humanizada. Empresas que acham que somente no Setembro Amarelo se deve fazer campanha não estão colaborando, apenas empurrando poeira para baixo do tapete”, destaca.