Um novo momento vem aí, e qual é a relação que estamos desenvolvendo com o nosso meio ambiente?

Por Rita Santos- Santa Catarina
rita.santos@mulheresjonalistas.com

Certamente que a pandemia mundial do novo coronavírus nos deixará marcas para sempre lembradas, tamanho sofrimento, medo e restrições pelas quais estamos passando. Contudo, devemos sempre lembrar que isso começou essencialmente por problemas ligados às intervenções humanas na natureza e, lamentavelmente, temos evidências de que, pelo fato de não estarmos preservando nossos ecossistemas adequadamente, as alterações climáticas farão surgir cada vez mais surtos e epidemias como essa. 

Tendo em vista essa tendência, entendemos que, cada vez mais, o trabalho de organizações que atuam na proteção do meio ambiente, educação e cultura de preservação dos recursos naturais se torna importante para nossa sobrevivência. Então, temos que salientar o trabalho dessas instituições, que só com muito amor à causa atuam bravamente e sem fins lucrativos. Assim é lá no Instituto Bicho D’água, que surgiu como um projeto de conservação socioambiental, patrocinado pela Petrobras através do Programa Petrobras Ambiental, eleito por seleção pública em 2010 para a região Amazônica. Durante a execução do projeto veio a necessidade de agir fora da esfera federal e existir como instituição do terceiro setor para expandir o campo de atendimento.

Dessa forma, desde 2013 a equipe executora do projeto, liderada pela oceanógrafa Maura Sousa, desenvolve atividades relacionadas à biologia da conservação de mamíferos aquáticos da Amazônia e trabalha para a manutenção e manejo da biodiversidade, estímulo e valorização das iniciativas que promovem o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida dos habitantes locais, além de apoiar e liderar atividades de educação ambiental visando a sensibilização das comunidades para as necessidades de preservação da natureza.

Desafios financeiros, comuns a essas associações, também acontecem por lá. Tal como ter que operar sujeita a condições climáticas, horários das marés e dificuldade para transitar entre as localidades que atende, uma característica do litoral do Estado do Pará. E, assim como todas as instituições do terceiro setor ligadas ao meio ambiente, a ong também se depara com contratempos no âmbito burocrático e administrativo, visto que órgãos importantes para fazer esse tipo de organização funcionar não estão preparados para atender as demandas. Maura nos conta que, para se manterem em funcionamento, há momentos em que eles precisam arcar com os custos de impostos como uma empresa, para depois pedirem o ressarcimento dos valores, por direito, pelo fato das companhias não saberem como lidar com ongs desse segmento, pois, estão mais acostumados a atender organizações ligadas ao social. 

Um outro obstáculo exposto por Maura, e que nos sensibiliza diretamente, é sobre os aborrecimentos enfrentados pela equipe composta predominantemente por mulheres. Atualmente dois homens colaboram com as atividades diárias da ong, mas elas tiveram que vencer a intolerância e a discriminação da comunidade que no início desconfiou e questionou bastante o trabalho delas. Aqui no Coletivo conhecemos de perto essa realidade, lamentavelmente sabemos o quanto o preconceito de gênero é comum e entendemos o quanto tiveram que lutar para alcançar o respeito e a parceria para executarem seu trabalho e realizarem seus sonhos.

Omar, que ilustra essa matéria, é um peixe boi que foi encontrado filhotinho, com o cordão umbilical ainda, preso em um curral de pesca em Salvaterra, Marajó. Maura relata que na época procuraram pela mãe dele mas ela não foi encontrada. Desde então ele vem sendo reabilitado para ser devolvido à natureza. Para cuidar do Omar a ong conta com o apoio do Ibama, ICMBIO e veterinários do país inteiro. Com todo o carinho e dedicação da equipe ele já superou inúmeras adversidades, e agora, em fase final de adaptação, ele vai ser transferido para outro ambiente aquático para aprender sobre as marés, ondas, salinidade e demais peculiaridades do ambiente em que vai viver. Para que seja solto ele depende que a ong consiga adquirir os equipamentos de monitoração adequados à espécie dele. A Bicho D’água, por sua vez, entende que avançar mais essa etapa do projeto com o Omar vai trazer inúmeros benefícios socioambientais, não só pela soltura de um animal ameaçado de extinção, mas, também, como uma rica oportunidade de educação ambiental e benefícios econômicos para o projeto. Entretanto, com advento da pandemia as vias de acesso ao estado foram fechadas em função do isolamento social, e, por isso, as obras do semicativeiro do Omar foram adiadas. 

Maura lembra que a carne do peixe boi ainda hoje é muito apreciada pela comunidade ribeirinha e o couro dele já foi um dos produtos mais exportados, além de seu habitat natural sofrer com constante degradação. Assim, para ela, um dos momentos mais marcantes na história do Instituto foi quando recebeu o primeiro telefonema, de um pescador, dizendo que avistou um peixe boi. O avistamento, para eles, é importante porque demonstra que, apesar de toda tribulação a espécie sobrevive. E o telefonema, para Maura, selaria o início de uma relação de confiança e parceria com os pescadores e comunidade local.

Em um momento de plena evolução tecnológica, somos convidados a abandonar estruturas antigas e integrar nosso elo com a natureza. Assumir que os recursos naturais do planeta apesar de abundantes são finitos e nos apropriar da responsabilidade de preservação. Se não souber por onde começar, use as redes sociais, que estão repletas de instituições legais ávidas por algum tipo de auxílio, qualquer um. Se não puder fazer parte como voluntário, se informe sobre o que mais pode fazer, nem que seja apenas divulgando o trabalho deles. Finalizo esse texto de carona no pensamento da Maura, que diz: “Se você ama os animais, mesmo, pratique esse amor para fora. Não o coloque num potinho e guarde para si. Seja responsável”.