Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista

As diversas mudanças bruscas e necessárias durante a pandemia acabaram causando um impacto ainda lento, mas positivo para o meio ambiente, em especial na conscientização sobre o consumo e criação de políticas ambientais

De repente, o mundo parou e a natureza teve o merecido descanso que jamais foi imaginado antes, pelo menos até o momento em que o homem começou a explorar de forma irresponsável os recursos naturais. Com inúmeras empresas fechadas, funcionários trabalhando de casa, queda no número de carros na rua, cancelamento de voos e outros transportes, o meio ambiente teve a oportunidade de se renovar, pelo menos por um pequeno espaço de tempo.

Animais andando pelas ruas, vias que anteriormente eram ocupadas apenas por veículos, rios e canais com águas transparentes e ar mais puro, essas foram algumas das mudanças da natureza que puderam ser notadas nos primeiros meses da pandemia, enquanto o mundo inteiro estava definitivamente parado. Tais acontecimentos nos fizeram refletir o quanto o consumo desvairado e inconsciente tem causado grandes problemas de formas desastrosas no planeta, e únicos responsáveis somos nós; humanos.

As questões sobre os problemas com o meio ambiente e climáticas não são um assunto novo, mas tem ganhado mais força no cenário pandêmico, mas, afinal de contas, o que é sustentabilidade? Sustentabilidade é o conceito de suprir as necessidades humanas sem causar danos irreparáveis à natureza, não afetando assim a geração futura. Esse conceito é baseado em três princípios conhecidos como o “Tripé da Sustentabilidade”, no plano ambiental, social e econômico.

Sustentabilidade ambiental

A sustentabilidade ambiental trata da forma como a sociedade vem utilizando os recursos naturais para suprir necessidades básicas como a energia elétrica ou alimentação, por exemplo. Esse conceito busca achar alternativas que possibilitem o homem a continuar utilizando os meios naturais para o suprimento de suas necessidades, mas sem esgotamento dos recursos, através do consumo racional e consciente.

Sustentabilidade social

O conceito da sustentabilidade social é desenvolver políticas que buscam diminuir a desigualdade através da melhoria na qualidade de vida da população menos favorecida, dando direitos a serviços básicos como educação e saúde. Tais ações podem implicar positivamente na diminuição da violência e melhoria no âmbito educacional.

Sustentabilidade econômica

No setor econômico, o conceito visa uma gestão sustentável com o uso e distribuição igual e responsável dos recursos naturais. Essas ações devem impedir não apenas o esgotamento desses recursos, mas também garantir que eles sejam duradouros para as próximas gerações, além de buscar garantir o crescimento econômico e uma distribuição de renda mais justa.

Afinal, o que esses três pilares têm a ver com o meio ambiente? A preservação do meio ambiente vai muito além do que costumamos pensar, que é imediatamente ligar aos abusos contra a natureza, no entanto, a sustentabilidade envolve vários setores que, em trabalho conjunto, tentam alcançar um modelo de sustentabilidade ideal. Para tal, é necessário que não apenas a sociedade esteja envolvida, mas o setor político, econômico e as indústrias.

Com a pandemia, inúmeras empresas precisam rever os métodos de trabalho impostos aos seus funcionários e de que forma isso afeta direta ou indiretamente o meio ambiente. A necessidade de soluções imediatas descortinou o peso da responsabilidade que a indústria, o comércio, as firmas têm sobre problemas ambientais e climáticos. Por conscientização ou pressão, muitas firmas começaram a implantar políticas ambientais dentro de suas empresas, buscando diminuir o impacto negativo que podem causar no meio ambiente, como transformar o trabalho home office ou remoto como modelo definitivo ou rotativo, por exemplo.  Com funcionários trabalhando de casa, o número de carros na rua cai e diminui o desperdício de energia, muitas vezes gerada por meios poluidores e não- renováveis. Mas a responsabilidade com a sustentabilidade vai ainda além, com a necessidade de criar e incentivar ações e projetos que gerem resultados a curto e longo prazo.

Entre 15 e 16 de junho desse ano, o Pacto Global realizou a Cúpula de Líderes 2021 para discutir sobre os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. O evento reuniu chefes e representantes de Estados junto a executivos de empresas importantes, em âmbito mundial, para abordar as questões a respeito dos impactos da pandemia da Covid-19, questões sociais, econômicas, mudanças climáticas e corrupção. Durante a programação, personalidades como o secretário da ONU, Antônio Guterres, discursou sobre a necessidade de as empresas realizarem ações visando a sustentabilidade, acelerando o cronograma da Agenda 2030 e do acordo de Paris, sobre as questões climáticas. Além de Guterres, a diretora-executiva do Pacto Global das Nações Unidas, Sandra Ojiambo, falou da importância do papel dos negócios para que seja possível alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável, em especial nesse momento em que o progresso foi tão prejudicado pela pandemia.

A Agenda 2030 foi adotada no ano de 2015, com o objetivo de alcançar  metas de Desenvolvimento Sustentável com o trabalho em conjunto de 193 Estados Membros da ONU, o qual o Brasil faz parte. A agenda tem 17 objetivos e 169 metas que precisam ser alcançadas até 2030, grande parte no âmbito ambiental, social e econômico.

Conscientização sustentável em casa

Outro ambiente onde a pandemia causou um impacto no sentido sustentável foi dentro dos lares. A instabilidade financeira de alguns e o medo de perder o emprego durante a pandemia fez com que muitas pessoas repensassem o seu modo de consumo. Passando do supérfluo para o essencial, muitos começaram a gastar, consumir menos na pandemia, comprando apenas o necessário. Esse hábito, praticamente forçado pela situação atual, acabou gerando um novo modo de pensar com relação ao consumo,  consumir menos ou comprar produtos de maior durabilidade. Tais ações podem parecer pequenas diante dos problemas ambientais, mas quando praticadas em conjunto, em maior número de pessoas, podem gerar resultados positivos dentro da cadeia de desenvolvimento sustentável.

Foto: Reprodução/Pixabay/PublicDomainPictures

Entre as práticas mais comuns que tem aumentado na sociedade, vemos a diminuição de uso de sacolas e produtos plásticos, visando diminuir o número de lixo e poluição. Além disso, o que podemos fazer para ajudar na sustentabilidade ambiental? Separar lixo para reciclagem, substituir os meios de transportes por opções não- poluentes e consumo consciente de água e energia são alguns hábitos que podem fazer diferença,  e que muitos já estão adotando.

A pandemia fez com que a sociedade refletisse sobre o consumo também no setor alimentício. A proliferação do vírus é consequência de um modelo de desenvolvimento criado pela sociedade e que tem causado o um enorme desequilíbrio ambiental. Através do desmatamento nas florestas, animais são obrigados a saírem do seu habitat natural, contraindo e transmitindo doenças que poderiam ser evitadas. Esse fato acaba refletindo no consumo de carne animal e como esse nosso hábito afeta o meio ambiente mais do que imaginamos.

De acordo com um estudo sobre doenças infecciosas realizado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), aproximadamente 31% das doenças infecciosas com origem na fauna selvagem, desde 1940, estão relacionadas com alguma forma de alteração do uso do solo. Isso mostra como o desmatamento das nossas floretas impacta no aumento do risco de epidemias e pandemias no mundo.

No Brasil, o desmatamento continua sendo um grande problema. Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), o país alcançou, nesse ano, o índice mais alto do mês de abril, desde 2015, com 580 km ² de área desmatada, o que seria equivalente a 58 mil campos de futebol.

Para um país que criou o dia de Proteção às Florestas, 17 de julho, em homenagem a um personagem folclórico, o Curupira, parece ser contraditório. Com 60% da maior floresta tropical do mundo, o governo brasileiro deixa a desejar nas promessas de proteção e ações a favor do meio ambiente. Infelizmente, o solo da Amazônia é, há anos, constantemente vítima de crimes ambientais, afetando não apenas a floresta, como toda biodiversidade e população que vive e depende dos recursos daquela região.

Para alcançarmos o modelo de sustentabilidade ideal e que realmente gere resultados, é necessário que a sociedade, governos e indústrias trabalhe em conjunto na conscientização do consumo de recursos. Com a pandemia da Covid-19, os pudemos ver o resultado e consequência do estilo de vida que desenvolvemos e a urgência de mudanças imediatas. Essa conscientização está aflorando aos poucos, mas ainda é necessário que muito seja feito, e o mais cedo possível.