Sol, praia e a banalização da pandemia
Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – PA
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Especialista alerta sobre os riscos existentes nas praias durante a pandemia de covid-19
Quem não gosta de sentir a brisa da praia na pele ou mergulhar em águas doces ou salgadas? De Norte a Sul do Brasil, as praias são muito procuradas para o lazer entre amigos e familiares. Mas aliado ao mergulho, está o consumo de bebidas alcoólicas e a realização de festas, o que pode resultar em aglomeração. Este é o principal fator para o contágio da covid-19, mas por que isso não assusta mais? A pandemia foi banalizada e o lazer está acima da segurança e saúde?
São 552 mil mortes por covid-19 no Brasil até o dia 28 de julho de 2021. Este número é similar aos total de pessoas que foram à praia no mês de julho deste ano em um dos municípios mais procurados do Pará, no Norte do país. Em Salinópolis, onde estão grandes praias de água salgada, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros do Estado do Pará, 568.365 mil pessoas visitaram os balneários do município durante o mês de veraneio. Um número considerado alto para o período da pandemia. Voltando um pouquinho no tempo e do outro lado do país, na região de Grande Florianópolis, onde estão localizadas as praias de Santa Catarina, no Sul do Brasil, a lotação dos leitos de hotéis em áreas de balneários atingiu 62% de procura no período do Carnaval, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Santa Catarina.
De acordo com a infectologista e professora da Universidade Estadual do Pará (UEPA), dra. Irna Carneiro, com a progressão e extensão da pandemia da covid-19, caminhando para 1 ano e 6 meses desde a confirmação do primeiro caso no Brasil, em 26 de fevereiro de 2020, observa-se que há uma tendência da banalização da pandemia por parte da população. “É importante lembrar que cada um de nós é responsável pelo controle da pandemia a partir do momento que realizamos as medidas eficazes de prevenção: uso da máscara, evitar aglomeração, higienizar as mãos, comparecer à vacinação, não deixando de receber as duas doses necessárias de acordo o tipo de vacina disponibilizada. Férias seguras, férias sem covid!”, afirma.
Segundo a especialista, os fatores dessa banalização podem ser vários: parte das pessoas apresentam-se fadigadas, cansadas mentalmente com real necessidade de retorno a um “status” de normalidade, algumas seguem negando os riscos potenciais da infecção pelo vírus causador da covid-19. Esses são, em parte, reflexos da ansiedade causada pela pandemia. Outros em particular, os mais jovens, acreditam que não serão acometidos pela infecção, consideram-se inatingíveis, muitos influenciados por lideranças não saudáveis e, desta maneira, não demonstram compaixão ou empatia pelo outro. Outras pessoas não conseguem compreender a ciência e nem a questão da replicação do vírus, ou mesmo o risco aumentado de mutação viral quando se mantém uma taxa elevada de transmissão. Não acreditam nas medidas eficazes de prevenção de transmissão, como uso de máscara e a não aglomeração, mesmo após ter recebido as doses da vacina para covid-19, visto que o papel das vacinas é prevenir a ocorrência das formas graves da doença e não uma nova infecção. “É preciso reforçar que somente com o avanço da vacinação para toda a população adulta, incluindo os jovens, poderemos ter um menor índice de circulação do vírus e o controle da pandemia”, reforça.
Cuidados nas praias
“Estudos de laboratório do vírus Sars-CoV-2 forneceram algumas evidências de que o vírus sobrevive por mais tempo sob condições frias, secas e de baixa radiação ultravioleta. Porém, ainda não indicaram se fatores meteorológicos afetam as taxas de transmissão. Portanto, grandes aglomerações em praias e balneários são considerados eventos super disseminadores para transmissão do vírus, particularmente porque nestes cenários a maior frequência é de jovens e crianças, e a vacinação ainda não atingiu este público alvo, portanto uma população de suscetíveis expostos à circulação de vírus”, explica a dra. Irna Carneiro.
Para quem, mesmo diante da pandemia, decide ir para praia, é necessário que alguns cuidados sejam adotados. De preferência sejam escolhidos balneários com menor frequência de pessoas; transporte em carros particulares em que seja garantido o uso de máscara e álcool em gel, evitando-se paradas desnecessárias. No transporte coletivo, como ônibus, passageiros permanecerão por algum tempo em um ambiente fechado com outras pessoas.
Segundo Carnerio, escolher os horários longe daqueles de maior circulação de pessoas (horários mais cedo ou de final de tarde); tentar localizar-se com sua barraca de sol guardando o distanciamento mínimo de 1,5 a 2 metros da outra barraca e utilizar a máscara e álcool em gel SEMPRE que precisar comprar refeições ou bebidas nas barracas comerciais nas praias também são métodos essenciais para que o contágio seja evitado. Além disso, é necessário não se esquecer das crianças. Os adultos devem dar o exemplo, explicando a utilização das máscaras quando necessário.
Você trabalha em balneários? Se cuide!
A infectologista também dá orientações para quem vai à praia em busca do seu ganha pão diário. “O funcionamento dos estabelecimentos comerciais dever ser exclusivamente para a atividade de restaurante e obediência a protocolos sanitários. Eles devem exigir e fiscalizar o uso de máscara, exceto durante alimentação; distanciamento mínimo de 1,5-2,0 metros entre as mesas; e limitação do número de pessoas por mesa. Os funcionários devem utilizar obrigatoriamente máscaras. Também é importante o acesso fácil a dispensadores de álcool em gel, na entrada e saída dos restaurantes ou barracas, assim como frascos com solução alcoólica em gel nas mesas. Limitação em 50% da capacidade de atendimento simultâneo de clientes. Evitar serviço de refeições self-service, mas em caso de oferecer este serviço, as refeições devem ser fornecidas por funcionário. Por fim, proibição do uso de piscinas e parques aquáticos”, pontua.