Servidores públicos e tecnologia: aliados no enfrentamento da covid-19 no Rio Grande do Sul
Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – SP
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Profissionais do serviço público enfrentam desafios diários para salvar vidas
O Rio Grande do Sul está entre os estados com melhor desempenho para o enfrentamento da covid-19 por meio de políticas públicas. De acordo com o ranking divulgado em novembro de 2021 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) , a média das unidades federativas mais o Distrito Federal (DF) ficou em 6,6. Na escala, que vai de 6 a 10, Rio Grande do Sul alcançou o valor máximo de 10. Ele divide a posição com Paraíba, Santa Catarina e São Paulo.
Dentre as ações está o investimento financeiro para desenvolvimento das políticas públicas. Foram cerca de R$ 5,5 milhões voltados para reforçar as políticas públicas de saúde de populações vulneráveis, sendo estes os povos indígenas, comunidades quilombolas, população em situação de rua e Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes), além de áreas de saúde prisional e mental na atenção básica. No entanto, mais do que investimento financeiro, o principal fator que levou o Rio Grande do Sul ao topo do ranking foi o trabalho desenvolvido pelos servidores públicos do Estado, que não mediram esforços para salvar vidas.
Beatriz Scalzilli é mãe, médica-veterinária e servidora pública. Atualmente, ocupa o cargo de Fiscal Estadual Agropecuária. Ela foi uma, entre várias mulheres e homens, que atuaram na linha de frente com um trabalho essencial durante a pandemia da covid-19. Beatriz teve um papel fundamental desde o início da pandemia, não podendo se afastar do trabalho presencial. Ela atuou para garantir a segurança alimentar e a comida no prato de muitos brasileiros.
A servidora pública trabalha com inspeção de produtos de origem animal, ou seja, na fiscalização de industrias de origem animal – não no varejo – como laticínios, frigoríficos, fábricas de produtos como presunto e salame. “Nosso trabalho é fundamental para o abastecimento de comida, por isso, ele não parou. Nesse momento, fomos considerados trabalho essencial, já que garantimos a segurança alimentar no abastecimento de alimento para a população, e tivemos que continuar atuando presencialmente. No início, fizemos um revezamento, mas logo em seguida voltados a trabalhar, exceto os trabalhadores considerados de risco.
Beatriz acredita que quem “segurou a onda” no início da pandemia foram os servidores públicos. “Se a gente não tivesse estado nesse momento, o caos seria muito maior”. Ela lembra das dificuldades vividas além do trabalho presencial em um período em que muitas vidas foram ceifadas simultaneamente. Segundo ela, houve dificuldade quanto à falta de assistência do governo para com os trabalhadores. “Fomos aprendendo conforme todos, como uso de álcool em gel, máscaras, e distanciamento social, e não tivemos muito apoio do estado perante a isso. Depois de um tempo, eles disponibilizaram álcool em gel e máscaras, mas no começo cada um tinha que cuidar de si mesmo”, lembra.
Porém, o maior desafio não foi esse, mas ser mão solo de uma criança em fase de alfabetização em meio a uma pandemia. Ela conta que a dela foi muito difícil, principalmente no começo. Beatriz tem um filho, hoje com 7 anos, que começou a ser alfabetizado no meio da pandemia, com aula online. A servidora pública tinha que trabalhar presencialmente e é divorciada.
“Eu não tinha onde o deixar porque as escolas estavam fechadas, assim como não podia deixar com os avós por eles serem grupo de risco e eu poder contaminá-los, já que continuei trabalhando presencialmente. Foi muito difícil conciliar o trabalho presencial com a educação online e a segurança do meu filho. A impressão que eu tinha era que não conseguia fazer nada bem. Nem dar conta do trabalho, nem dar conta do meu filho”, lembra Beatriz, que hoje comemora a saúde e segurança do seu filho e o trabalho desenvolvido para salvar outras pessoas não só do vírus, mas também da fome.
Salva vidas é o maior desafio
Masurquede de Azevedo Coimbra, Farmacêutico Bioquímico e especialista em Saúde, é linha de frente no enfrentamento da pandemia e trabalhou no Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) no Recebimento de Amostras Biológicas, entre maio de 2018 e maio de 2021. Em específico, na pandemia de covid-19, foram 15 meses.
Esse setor foi o responsável direto pelo recebimento das amostras suspeitas de covid-19 e outras de origem biológica para agravos ou doenças transmissíveis de todo o RS durante alguns meses. Masurquede explica que essas amostras, após a entrada e conferência na recepção, são direcionadas para diversos laboratórios específicos. “No caso das amostras com suspeitas de covid-19, elas são encaminhadas para o Laboratório de Virologia, onde é feito o trabalho inicial de preparação e extração que permite a realização do teste de RT-PCR”, detalha.
O especialista afirma que a tecnologia foi primordial nas ações de combate ao coronavírus, pois foram as tecnologias diversas já existentes melhoradas ou desenvolvidas com o propósito de combate à pandemia que permitiram que essa doença não tenha ceifado talvez uma parcela muito maior de vidas humanas.
“As tecnologias permitiram o desenvolvimento e melhorias nas técnicas de extração de amostras e nas análises de RT-PCR, o desenvolvimento de Testes Rápidos para Anticorpos e Antígenos, plataformas de estudos sobre o vírus, sua transmissão e sintomas; divulgação ágil e célere de informações para todo o mundo de forma muito veloz e o estudo e desenvolvimento de propostas de vacinas, que se efetivaram como alternativa de prevenção num primeiro momento de evitar sintomas graves da doença. Não podendo esquecer que foi graças à tecnologia e à perspicácia da medicina que foi possível a identificação do causador da doença e suas características morfológicas a partir de técnicas modernas de microscopia eletrônica”, pontua.
Por meio do trabalho exercido por Masurquede e outros profissionais, o estado é destaque no uso de tecnologia no enfrentamento à covid-19. Uma das ferramentas foi o Testes RS, que alia ampliação da testagem na população com rastreamento dos casos. Ele foi implementado logo após uma das primeiras ações do governo estadual, que foi a instituição do Centro de Operação de Emergência (COE) Covid-19, em 30 de janeiro de 2020, seguido da criação do Comitê Científico de Apoio ao Enfrentamento da Pandemia Covid-19, em março do mesmo ano, e o Gabinete de Crise e Comitê de Dados para o Combate à Covid-19, gerido pelos servidores públicos das mais diversas áreas de atuação.
Este último produz e analisa dados e informações sobre a pandemia e elabora cenários e projeções para monitorar os casos, hospitalizações, mobilidade, isolamento, impactos sociais e econômicos, entre outros.
O Sistema 3As de Monitoramento, idealizado pelo governo do estado, consiste em: Aviso, Alerta e Ação, e serve para monitorar municípios e regiões por todo o estado. Em cada etapa, os órgãos responsáveis são acionados e devem se posicionar dentre de um período de, no máximo, 48 horas com os protocolos e medidas a serem aplicadas na área e no momento devidos. A ênfase é seguir as recomendações científicas em todas essas etapas, de maneira que a participação de experts, estudiosos, hospitais e universidades tem sido fortemente incorporada nesses processos.
Os desafios enfrentados pelos servidores
Masurquede afirma que o papel dos servidores públicos, dentre eles os da saúde no enfrentamento da covid-19, foi muito dinâmico, de grande importância e salvou muitas vidas. Para ele, de uma forma muito ampla, o Sistema Único de Saúde (SUS) público, universal e com qualidade foi o grande responsável por salvar milhares de brasileiros e ainda levar acolhimento e aconchego à sociedade brasileira.
Eles atuaram e atuam desde elaboração de planos de enfrentamento da pandemia, documentos e procedimentos norteadores de atendimento das pessoas infectadas; compra e distribuição de medicamentos para atendimento hospitalar; realização da testagem tanto por RT-PCR quanto nos testes rápidos; atendimento médico-hospitalar; na divulgação de informações atuais e verdadeiras sobre a doença, modo de transmissão e cuidados, e combate a fakenews, até o desenvolvimento, produção, testes e aplicação das vacinas – esta que já comprovou, de forma muito clara, que salva vidas.
Um dos setores de grande atuação durante a pandemia é a Vigilância dos Vírus Respiratórios do Estado do Rio Grande do Sul. Leticia Garay, responsável por este setor, conta que o foco sempre foi monitorar a circulação do vírus influenza, que, segundo ela, é o principal agente envolvido nas pandemias nos últimos 100 anos. “Minha área de atuação contempla entender o perfil epidemiológico da doença para que este conhecimento sirva como ferramenta para subsidiar as ações de saúde pública que reduzam o impacto social das doenças respiratórias, assim como subsidie o planejamento da assistência à saúde no que se referem a insumos, exames, leitos, equipamentos, entre outros”, explica.
A especialista explica como o coronavírus impactou no trabalho executado pela Vigilância: “no nosso Estado, os vírus respiratórios tinham um comportamento sazonal, isto é, todo inverno tínhamos o pico de positividade de Influenza e de outros vírus respiratórios (de magnitude menor). O vírus SARS CoV-2 mudou o curso do que conhecíamos até agora. Em síntese, se vigia para agir, ou seja, só podemos pensar em ações de enfrentamento daquilo que minimamente conhecemos o comportamento. A vigilância epidemiológica tem este objetivo, descrever um agravo ou doença para agir com mais assertividade sobre os impactos que ela causa, principalmente na morbimortalidade dela. No momento pré-pandêmico, o setor era composto só por mim no nível estadual. Hoje, incorporamos colegas de outros setores, assim como foi necessária contratação emergencial para que compusesse o Centro de Operações de Emergência (COE) do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs)”.
Leticia afirma que não haveria a menor possibilidade de conduzir as ações de enfrentamento desta pandemia se não houvesse a tecnologia, principalmente da informação, trabalhando em conjunto, por meio dos servidores. “Foram muitas rotinas automatizadas, verificação de dados, avaliação da consistência dos mesmos. Os “robôs” facilitaram muito o processo de trabalho, mas não substituiu a trabalho dos humanos que estão atrás de tudo isto. É desde a programação das lógicas que queremos que eles executem, a qualificação das fichas de notificação, a validação dos óbitos, são alguns exemplos que só pessoas fazem e estas pessoas são os servidores públicos. Além desta tecnologia da informação, temos todo o resto: vacinas e exames são tecnologias geradas a partir da ciência”, pontua
Sobe o papel do servidor público neste período, Leticia afirma: “sinceramente, mesmo que saibamos os estereótipos que o servidor público tem na sociedade, eu custo a acreditar que durante estes 2 anos muitas pessoas não tenham revistos seus conceitos”. Para ela, mesmo que ainda muitos invisíveis, é indiscutível que o servidor público é quem “carrega o piano” quando o caos se estabelece. “Quem fornece os kits para coleta de amostra para doenças de notificação compulsória, que realiza a maioria dos exames, que fornece medicações como o fosfato de oseltamivir (retroviral contra influenza), é o sistema público. Então, as grandes crises são enfrentadas por servidores públicos. Aqui no Cevs, muitos de nós trabalhavam presencialmente, às vezes, 13, 14, 15 horas por dia e continuavam em casa, no celular”, conta.
Assim como muitos, Leticia se colocava em dúvidas sobre o que estava vivenciando. “Um dos principais desafios que enfrentei foi me manter lúcida, motivada e com força pra seguir por um único motivo: eu acredito neste trabalho e tenho convicção da importância para a sociedade, mesmo que ela não enxergue. Pelo salário de uma servidora pública da saúde (poder executivo) sem reajuste, nenhuma reposição há quase 8 anos é que não foi. Teve dias que o esgotamento era tanto que chegava a ter receio de voltar pra casa dirigindo por parecer que dormiria na primeira sinaleira”, lembra.
O avanço da tecnologia
O papel dos servidores de tecnologia da informação, análise e desenvolvimento de sistemas e demais áreas da computação também foram essenciais para gerir a crise instalada pela pandemia da covid-19. Com o isolamento social, a população precisou ficar em casa. Foi aí que os profissionais de TI assumiram o grande desafio de desenvolver, em meio ao caos, soluções para que a vida continuasse – ou na tentativa dela.
Outra tecnologia muito utilizada – e que continua sendo – é o trabalho remoto. Uma pesquisa realizada pela ManageEngine e compartilhada pela Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, entidade que representa, a nível nacional, o setor de informática do Rio Grande do Sul (Assespro-RS), mostrou que 94% dos profissionais de TI tiveram que aprender novas tecnologias para lidar com a pandemia da covid-19. No geral, 84% acreditam que o trabalho remoto colocou desafios adicionais à segurança. Entre as principais ameaças citadas estão phishing (52%), ataques de rede de endpoint (42%) e malware (40%).
Desenvolvimento de soluções para atendimento virtual por chat ou videochamada para diversos serviços que antes eram executados de forma presencial, criação de aplicativos, dentre eles voltados para agendamento de vacinação contra covid, atendimentos do SINE e Procon, entre outros, foram algumas das atualizações desenvolvidas. César Bridi, gerente de desenvolvimento de sistemas, com 30 anos de Companhia de Processamento de Dados do Município de Porto Alegre (Procempa), foi um dos servidores públicos à frente de soluções que facilitaram o acesso do cidadão aos serviços da prefeitura do município, sem a necessidade de comparecer presencialmente em um posto de atendimento, e também o trabalho dos servidores municipais em home office.
O especialista afirma que a tecnologia é fundamental para o trabalho remoto. Segundo ele, não haveria como os servidores municipais continuarem exercendo suas funções se não fosse a tecnologia. “Para o trabalho remoto, utilizamos VPN e RDP – ferramentas de conexão -, então foi preciso atualização, principalmente das equipes de suporte e adaptação no uso das tecnologias pelos servidores municipais. Nós da tecnologia ficamos no backend – um trabalho de bastidores -, tentando fornecer as melhores condições para os que estavam/estão na linha de frente pudessem/possam exercer o seu trabalho”, explica.
César afirma que os desafios continuam sendo enfrentados, pois hoje é vivido um momento de imediatismo, com muitas formas de acesso virtual: e-mail, chat, redes sociais, aplicativos de mensagem, reuniões remotas. Jornadas que não têm início nem fim. Por isso, ele afirma que o papel dos servidores públicos foi e é fundamental. “Fundamental para que as vacinas cheguem aonde precisam chegar, para que sejam aplicadas no momento correto. Fundamental para que as políticas públicas de saúde sejam executadas. Não haveria políticas públicas se não houvesse servidores públicos atuando no seu planejamento e execução”, afirma.
E foi exatamente na saúde que a tecnologia se fez tão necessária. Na pandemia, foram desenvolvidos sistemas para notificação de casos de covid-19 e também integração dessas informações com o Ministério da Saúde. Além disso, foi implementado o agendamento da vacinação nos postos de saúde via aplicativo. Os servidores fizeram ainda outra implementação, como a alteração dos sistemas para que se pudessem obter, por exemplo, a informação de onde um leito estava, dentro de uma ala/setor covid, nos diversos hospitais do Estado. Cléo Lisboa, Supervisor no desenvolvimento de softwares para saúde na Procempa, afirma que esta medida foi a salvação para muitas pessoas que procuraram por hospitais muito lotados. Mesmo sendo enviados para outras cidades, longe da sua família, tinham uma chance de receber o tratamento adequado.
“Mais uma vez, a tecnologia é fundamental para as ações de combate. Sem a tecnologia que possuímos hoje, não seria possível, por exemplo, o trabalho remoto. Acredito que os maiores desafios foi se adaptar à nova realidade, acredito também que saímos com um ferramental novo e que pode depois ser utilizado em trabalho híbrido ou mesmo presencial. Desenvolvemos sistemas para o cidadão. Em última instância, trabalhamos para o cidadão, então em um momento de pandemia, precisamos ter esse sentimento ainda mais presente, pois a tecnologia que iria possibilitar, por exemplo, o trabalho remoto ou agendamentos de consultas, consultas remotas etc”, pontua.
Representação dos servidores
O Instituto Mulheres Jornalistas conversou com o diretor presidente do Sindicato dos Servidores de Nível Superior do Poder Executivo do Estado do Rio Grande do Sul – Sintergs, Antonio Augusto Medeiros. Ele explicou como foi e como está sendo o trabalho voltado aos servidores públicos do RS.
MJ: Fale um pouco sobre o trabalho feito pelo Sindicato em prol dos servidores públicos ao longo da pandemia da covid-19.
Antonio Augusto Medeiros: O Sintergs vem atuando fortemente com relação à proteção de saúde do trabalhador, os serviços públicos, ao longo da pandemia. Diversos servidores foram chave e não pararam efetivamente durante a pandemia para garantir que as políticas públicas chegassem a todos os municípios do RS e a gente pudesse segurar a onda do coronavírus. Tivemos papel de destaque nesse processo. Mas proporcional ao destaque, se fazia necessário que se desse as garantias de saúde dos trabalhadores, principalmente para aqueles que trabalharam presencialmente. Acho que foi uma situação crítica e, aos poucos, fomos superando e com o aporte da ação coletiva que o sindicato representa contra o olhar individual que impera muitas vezes na sociedade. Atualmente, a gente veio minimizar e amenizar essa situação que foi muito complexa para eles.
MJ: Para você, qual o papel dos servidores públicos do RS no enfrentamento da covid-19?
Antonio Augusto Medeiros: Os servidores públicos do RS tiveram um papel de destaque. Na nossa base em especial, garantiram a compra e envio da vacina, a disponibilidade de alimentos e garantia da segurança alimentar. Como fazemos parte de todas as políticas públicas, ficou evidente a importância dos servidores públicos em todas as suas partes para que possamos superar momentos de crise. Para aqueles defensores de um estado sem o protagonismo e a força do serviço público, ficou evidente que sem servidores públicos, há uma dificuldade para que os direitos sociais fundamentais sejam garantidos. Ficou evidente que, sem isso, não haveria acesso à saúde, à segurança alimentar, então nós temos e tivemos um papel de destaque e fica ao contraponto a política neoliberal que tenta diminuir o papel e o protagonismo do estado.
MJ: Você possui uma estimativa de quantos servidores públicos trabalharam/trabalham direta ou indiretamente no combate à covid-19?
Antonio Augusto Medeiros: Nós representamos 5 mil servidores ativos, em uma base de 9 mil servidores, maior parte deles da saúde, agricultura e atividades meio porque estamos presentes em todas as secretarias do Estado.
MJ: Quais foram e são os maiores desafios no enfrentamento da covid?
Antonio Augusto Medeiros: Os desafios que enfrentamos foram muitos, como falta de equipamentos de proteção individual, distanciamento social mínimo não regulamentado, dificuldade de estrutura de todas as naturezas, trabalho excessivo, dificuldade de notificação à própria secretaria responsável de casos suspeitos dos servidores. Foram situações muito complexas e o sindicato teve um protagonismo na articulação junto ao governo do estado para que esses direitos fossem garantidos.
Descaso do governo
De acordo com o diretor presidente, Antonio Augusto Medeiros, o início da pandemia foi marcada pelo descaso dos órgãos governamentais para com os servidores públicos. Segundo ele, o descaso com falta de equipamento de proteção individual, escalas desorganizadas e falta de recursos humanos foi só um reflexo da realidade já vivida pelos servidores.
“Durante a pandemia, as questões de segurança na saúde do trabalhador foram muito precárias e, com a ação do sindicato, conseguimos avançar na questão da saúde e segurança do trabalhador. Ainda tem muita coisa que precisa avançar, não só na questão da saúde física pela covid, mas pelo excesso de trabalho e pouca valorização, a saúde mental. É algo que nos preocupa bastante. Temos vários servidores estafados, estressados, com depressão, pelo excesso de trabalho, pela necessidade de dar conta dos desafios que são colocados, mas ao mesmo tempo sem o devido reconhecimento que essa atividade exige. Não só pela situação que vivemos no hoje, mas pelo o que já vem ocorrendo, como servidores que estão há mais de 7 anos sem reposicionamento, mais 50% de perda inflacionária, por exemplo. Perdemos metade do nosso poder de compra, por mais que os salários estejam em dia, é como se o estado tivesse pagando em dia, mas pagando a metade. É uma situação extremamente complexa”, pontua.
Como tentativa de resolução, o Sintergs articulou o Comitê Popular em Defesa do Povo e contra o Coronavírus, em abril de 2020. O Comitê propôs 14 medidas emergenciais e imediatas que deveriam ser implementadas pelos governos estadual e municipais do Rio Grande do Sul para combate à covid-19. Dentre as medidas constavam: manutenção do isolamento social como política pública necessária para a gestão da crise sanitária; garantia de EPI aos trabalhadores/as dos serviços essenciais; garantia do acesso à água potável, luz e gás sem custos para as comunidades e pessoas vulneráveis; fortalecimento o Sistema Único de Saúde (SUS) para fazer frente às internações para todas e todos – hospitais de campanha, respiradores, mais profissionais, informações transparentes; entre outros.
Somente em maio de 2020, um mês após a criação, o Sintergs e o Comitê doaram 5 mil cestas básicas para a população em situação de vulnerabilidade devido à pandemia da covid-19, oriundas de arrecadação. Ao total, 75 mil quilos de alimentos e materiais de limpeza foram distribuídos na região de Porto Alegre.
“Há uma rede de servidores da atividade meio, saúde, agronomia e demais áreas que dão o suporte necessário para que a atividade pública aconteça. Esperamos que, a partir da pandemia, melhore a visão de que não há possibilidade para o abandono completo do estado, como alguns pregaram. Ainda há muito o que avançar. O governo do estado e os governantes precisam olharem para a importância do serviço público, que são homens, mulheres, pais e famílias, que precisam de atenção, não só física, mas também mental e a devida valorização que eles merecem”, finaliza.