Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Obras de dois artistas de extrema importância para a memória do nosso país estão disponíveis em exposições na cidade de São Paulo, que além de emocionantes e repletas de informações, são como um “banho” de cultura para quem gosta de arte e sabe o quanto ela amplia os horizontes do ser humano, tão necessitado de beleza e autoestima nacional. Estou falando da escritora Carolina Maria de Jesus e do fotógrafo, Sebastião Salgado. No Instituto Moreira Sales São Paulo, até o dia 27 de março é possível mergulhar no universo da mineira que foi catadora de papel em São Paulo, com a mostra “Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros”, dedicada à trajetória e à produção literária da autora que se tornou internacionalmente conhecida com a publicação de seu livro Quarto de despejo, lançado em agosto de 1960. Já a exposição “Amazônia – Sebastião Salgado”, que abriu no último dia 15 de fevereiro na Área de Convivência do Sesc Pompeia, pode ser conferida até 31 de julho. São aproximadamente 200 imagens, resultado de sete anos de imersões fotográficas do artista na Amazônia brasileira.

E vamos falar um pouco mais sobre a exposição Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros. Falar da multiartista, protagonista importante da história do Brasil, embora invisibilizada muitas vezes, Carolina tem um papel particularmente significativo para a história da população negra brasileira. A exposição apresenta a autora como uma intérprete imprescindível para compreender o país, que além de suas obras literárias, se destaca suas incursões como compositora, cantora, artista circense. Carolina Maria de Jesus (1914- MG – 1977-SP), escritora publicada em agosto de 1960 com o impressionante sucesso editorial, Quarto de desejo, artista emancipada, símbolo de resistência e de luta política e cultural para o país. Carolina Maria de Jesus viveu em São Paulo, na comunidade do Canindé, de onde partia todos os dias para catar papel pelas ruas da capital. A breve abertura desta matéria é muito pouco, perto do que é a trajetória e a obra dessa mulher, exposta no IMS. Para saber dias, horários e protocolos de visitação: https://ims.com.br/exposicao/carolina-maria-de-jesus-ims-paulista/

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Maria Carolina De Jesus_18.nov.1960_Crédito: Acervo UH/Folhapress_

Autora que caminhou por vários gêneros literários – romance, poesia, teatro, provérbios, autobiografia, contos, encontrou seu maior reconhecimento pela escrita de diários, como o Quarto de desejo, traduzido para 13 idiomas. Também está sob os cuidados do acervo de Literatura do Instituto Moreira Salles dois manuscritos de Carolina Maria de Jesus – intitulados Um Brasil para os Brasileiros – e seu disco com composições próprias, também chamado Quarto de Despejo, ponto de partida para a exposição, que tem curadoria do antropólogo Hélio Menezes, da historiadora Raquel Barreto e pesquisa literária nos manuscritos inéditos da escritora realizado por Fernanda Miranda. A mostra abre inscrições para curso online, duas turmas para professores e educadores das redes públicas e particulares de ensino, com o objetivo de refletir sobre questões relacionadas às condições socioeconômicas, raciais e de gênero como marcadores dos direitos à literatura e à representação, através do aprofundamento em aspectos que atravessam a obra autora, pelo link Curso | Carolina Maria de Jesus – Um Brasil para os brasileiros

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1961. Foto de Rubens. Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo/Última Hora

E vamos mergulhar na Amazônia de Sebastião Salgado, fotógrafo premiado por suas quatro décadas documentando as mazelas do mundo, como diásporas, mas também viveu em lugares de natureza extrema, para retratar com delicadeza estas pequenas etnias de lugares inóspitos. Paisagens deslumbrantes também fazem parte da sua extensa obra, mas sempre com o olhar que retrata, que documenta. Foi assim que o fotógrafo mineiro, que  muito se preocupa com o meio ambiente, retratou comunidades indígenas da Amazônia brasileira. Idealizada pela curadora Lélia Wanick Salgado, mulher e parceira profissional do fotógrafo, “Amazônia – Sebastião Salgado” chega ao país após passar por Paris, Roma e Londres, com patrocínio global pelo Zurich Insurance Group.

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Chuva intensa na aldeia Mati-këyawaiá. Ao centro, a maloca de Mesempapa. Terra Indígena Marubo do Vale do Javari. Estado do Amazonas, 2018. ┬® Sebastião Salgado

Pelas suas lentes, uma reflexão sobre o futuro da biodiversidade e a urgente necessidade de proteger os povos indígenas e preservar o ecossistema imprescindível para o planeta. Além das imagens, que não são pouca coisa, o visitante da mostra pode conferir sete vídeos com testemunhos de lideranças indígenas sobre a importância da Amazônia, bem como os problemas enfrentados hoje em sua sobrevivência na floresta. Na página da exposição no site do Sesc Pompeia (https://www.sescsp.org.br/exposicao-amazonia-de-sebastiao-salgado-estreia-no-sesc-pompeia/), Sebastião Salgado, reflete: “Esta exposição tem o objetivo de alimentar o debate sobre o futuro da floresta amazônica. É algo que deve ser feito com a participação de todos no planeta, junto com as organizações indígenas.”

Para quem ainda não visitou uma exposição de Sebastião Salgado a dica é: prende a respiração e vai. Esqueça o celular ou qualquer distração e se envolva, se entregue na viagem que são as imagens desse homem místico, mago das imagens – feitas por terra, água e ar, as imagens revelam a floresta, os rios, as montanhas e a vida de comunidades indígenas. “Amazônia – Sebastião Salgado” conta ainda com imagens de paisagens florestais, musicadas pelo poema sinfônico “Erosão – Origem do Rio Amazonas”, do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1887-1959). Uma outra revela retratos de populações indígenas, com uma composição especial de Rodolfo Stroeter. Além do livro que retrata a exposição, à venda no local. Um luxo para os sentidos é pouco!

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O xamã Ângelo Barcelos (Koparihewë, que significa “Chefe de Canto” ou “Voz da Natureza”), da comunidade de Maturacá, interage com os espíritos Xapiri em visões durante a subida para o Pico da Neblina, mais alta montanha brasileira. Para os Yanomami, é um local sagrado, denominado Yaripo. Terra Indígena Yanomami. Estado do Amazonas, 2014. ┬® Sebastião Salgado

Para quem deseja conhecer mais de Sebastião Salgado e seu trabalho documentando o mundo e o seu legado junto à natureza, sugiro assistir ao documentário que retrata a sua obra, “O Sal da Terra” (2014), realizado pelo mago Wim Wenders com o filho do fotógrafo, Juliano salgado. Outra dica: vale  conhecer o Instituto Terra (https://institutoterra.org/), extraordinário projeto de reflorestamento idealizado por Sebastião Salgado e Lélia Salgado.

Exposição: Amazônia – Sebastião Salgado
Curadoria e cenografia: Lélia Wanick Salgado
De 15 de fevereiro a 31 de julho de 2022 – Gratuita
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93, Pompeia – São Paulo.
Horário: Terça a sábado, das 10h30 às 21h (com entrada até as 19h30); Domingo e feriado, das 10h30 às 18h (com entrada até as 16h30)
*acesso sujeito à lotação do espaço.
Grátis. Livre
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Exposição: Carolina Maria de Jesus: Um Brasil para os brasileiros
De 25 de setembro de 2021 a 27 de março de 2022
IMS Paulista – Avenida Paulista, 2424 – São Paulo/SP
Horário: Terça a domingo e feriados (exceto segunda) das 10h às 20h.
Última admissão: 30 minutos antes do encerramento
Gratuita, mediante apresentação de certificado de vacinação e documento oficial com foto.