A nutricionista Francisca Mosele explica porque nossos hábitos alimentares podem sofrer transformações durante a pandemia
 
Por Regina Fiore, São Paulo
 
 
A pandemia do coronavírus mudou diversos hábitos no dia a dia para quem tem a possibilidade de aderir à quarentena e ficar em casa. Uma das principais mudanças é a alimentação e a relação das pessoas com os alimentos.
 
Crianças e adultos sentem tal mudança de diferentes formas, já que a alimentação depende também de vários outros fatores, como contexto social, hábitos preexistentes e a relação de cada ser humano com a comida.
 
A nutricionista Francisca Mosele explica que, de fato, o período de pandemia pode trazer diferentes consequências para os hábitos alimentares da família. “No caso das crianças, pode haver aumento ou diminuição da busca e da ingestão de comida. É importante identificar o que causa essa mudança no comportamento alimentar e trabalhar a partir daí”.
 
A especialista ainda explica que as crianças, principalmente nos primeiros anos de vida, possuem um controle de saciedade muito apurado, já que elas costumam parar de comer quando estão satisfeitas. “Por não estarem se exercitando ou fazendo suas atividades de rotina, muitas crianças podem diminuir a quantidade de alimentos ingeridos, sem perda de qualidade. É a busca por um novo ponto de equilíbrio entre ingestão e gasto”, explica Mosele.
 
A especialista chama atenção, no entanto, para as crianças que podem estar aumentando a quantidade de alimentos ingeridos pela ansiedade que a falta de rotina e das atividades do seu dia a dia podem causar. “A referência de fome pode vir com muito mais frequência do que o normal. Nesse caso, é importante conversar com a criança e tentar redefinir as atividades, além de ajudá-la a diferenciar a fome de outros sentimentos”, diz a nutricionista.
 
A qualidade da alimentação, tanto para crianças quanto para adultos, também influencia não só no dia a dia como também na imunidade de cada indivíduo. Alimentos ultraprocessados, com muito sódio, açúcar ou gordura trans, prejudicam a resposta do sistema imunológico porque acabam exigindo demais do nosso próprio corpo para serem digeridos.
 
Para o dia a dia, a especialista afirma que o momento que estamos vivendo está nos tirando do piloto automático em vários aspectos da nossa vida: a forma de nos relacionar, de conviver, de nos conectar, de trabalhar e também pode ser uma oportunidade para mudarmos nossa alimentação. “O que está acontecendo é inédito. Temos uma página em branco para escrever. O momento é contrastante e exige criatividade para transformar algo já estabelecido em algo novo e isso inclui a cultura alimentar”, explica Francisca Mosele.
 
Ficar em casa traz outra vantagem que vai de acordo com as recomendações da Organização Mundial da Saúde, de acordo com a especialista: poder cozinhar seus próprios alimentos e ser responsável por sua alimentação. “Isso é possível para povos de diversas realidades.
 
No âmbito alimentar, estamos vivendo um momento de compartilhamento de refeições em família, dos produtores e dos comércios locais. Estamos nos afastando cada vez mais da indústria dos alimentos prontos”.
 
De acordo com a nutricionista, isso impacta positivamente não só nossa saúde como também a relação que temos com a comida e nos valores que passarão a reger nossa alimentação e a economia doméstica. “Nos sentiremos mais conectados com as nossas próprias escolhas”, explica ela.
 
Mas atenção! Todo desejo de mudança deve vir acompanhado com o acompanhamento de profissionais de saúde que entendam seus processos de mudanças. Francisca Mosele recomenda que a vontade de mudança venha acompanhada com responsabilidade para que a oportunidade da transformação de hábitos seja bem aproveitada durante o isolamento social.