Ana Carolina Gomes, Repórter de Minas Gerais

Todo profissional sofreu – pelo menos uma – vez com o preconceito enraizado na profissão do jornalista. Todo repórter já foi chamado pelo menos uma vez de “urubu”, uma vez que só procura “carniça”. Todo editor já teve que encarar os dedos das acusações por comandar um veículo de comunicação considerado parcial, que apoia ‘fulano’ ou ‘ciclano’, que não busca a verdade e só noticia aquilo que é do seu profundo interesse. Todo estudante de comunicação já entrou em uma sala de aula cheio de esperanças e sonhos e saiu para um mercado de trabalho desmotivado, devido a falta de empatia e consideração pelo trabalho alheio. E, ainda neste contexto, todo jornalista já foi menosprezado por alguém que, sem formação, se sentia no direito de publicar informações sem apuração, conhecimento ou carregada de informações inapropriadas ou mentirosas.

 

Vivemos uma época de ‘fake news’. Não podemos confiar em tudo que lemos sem uma breve checagem dos fatos. Nos calamos e nos oprimimos com conteúdos acusadores e intimidadores. Somos vítimas diárias da falta de confiança e colaboração com os profissionais que diariamente se formam e são marginalizados pela sociedade. Marginalizados como?

 

Em 2009, assistimos à uma votação que banalizou a importância desta formação. Por 8 votos a 1, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiram, naquele fatídico dia 17 de junho, que o diploma de jornalismo não se fazia mais obrigatório para o exercício da profissão. As justificativas giravam em torno de constatações que isso censurava quem gostava e queria exercer a profissão ou que era mais uma questão de ética e caráter. Você confiaria em se consultar com alguém que não se formou em medicina mas que gostava? Ou contrataria uma pessoa para ser seu advogado porque acredita na ética e no caráter?

 

Nossa saga não parou por ai. Sobrevivemos a assassinatos, a atentados, a ameaças em busca de uma boa notícia, de uma boa história para contar. E também iremos sobreviver ao preconceito e descaso social, que, atualmente virou notícia em Alagoas, quando jornalistas entraram em greve contra a redução de 40% do piso salarial. Jornalistas dos três maiores grupos de comunicação de Alagoas, Organização Arnon de Mello (TV Gazeta, G1, Gazetaweb), Pajuçara Sistema de Comunicação (TV Pajuçara e TNH1) e Sistema Opinião (TV Ponta Verde e OP9), decidiram permanecer com a paralisação e rejeitar a proposta do Ministério Público do Trabalho de Alagoas, uma vez que, segundo os profissionais, a proposta acarretaria uma demissão em massa.

 

Diante disso, nós, do Coletivo Mulheres Jornalistas nos sensibilizamos com a causa e desejamos força nesta luta.