Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista

Como a relação com pets é benéfica para crianças autistas

Os cães de serviço nos auxiliam em diversos setores da vida, conforme citamos na reportagem Cães de Serviço para Saúde, mas desta vez, vamos conhecer os diversos benefícios que um animal de estimação adequado pode proporcionar a uma criança. Diminuição da ansiedade, o aumento da auto confiança e a prevenção de doenças como a depressão, por exemplo, são fortes características trabalhadas nessa relação.

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Foto: Reprodução/Freepik

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 70 milhões de pessoas no mundo tenha autismo. Um distúrbio que pode afetar áreas como a interação social, a comunicação e a afetividade. Normalmente o autismo se apresenta a partir dos 3 anos de idade e não tem cura. Porém, com o acompanhamento de profissionais e o estímulo correto das pessoas que fazem parte desse ciclo de convivência, a criança não só consegue se desenvolver, como também, ressalta sua criatividade e perspicácia através de todo o processo de tratamento.

Você sabia que nem só os cães participam desse processo de tratamento? Existem tratamentos cujos gatos, cavalos e aves também cumprem esse papel tão importante. Aliás, pets que tenham função como Animais de Assistência Emocional comprovada através de laudo médico, podem acompanhar seus tutores em viagens, de avião por exemplo, na própria cabine.

O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou a Dra Vera Lucia de Mattos Nogueira, que é Fonoaudióloga e psicomotricista há 40 anos. Vera também é fundadora e diretora do Móbile – Centro de Estimulação psicomotora, que fica no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro.

Mulheres Jornalistas (MJ): O que é o autismo?

Dra Vera: O autismo é um transtorno de desenvolvimento grave que prejudica a capacidade de se comunicar e interagir. O transtorno de autismo afeta o sistema nervoso. O alcance e a gravidade dos sintomas podem variar amplamente. Os sintomas mais comuns incluem dificuldade de comunicação, dificuldade com interações sociais, interesses obsessivos e comportamentos repetitivos.

O reconhecimento precoce, assim como as terapias comportamentais, educacionais e familiares podem reduzir os sintomas, além de oferecer um pilar de apoio ao desenvolvimento e à aprendizagem.

MJ: De que maneira os animais podem ajudar no processo de socialização?

Dra Vera: A Terapia Assistida por Animais (TAA), é uma prática realizada por profissionais da área de saúde, com o objetivo de promover o desenvolvimento físico, psíquico, cognitivo e social dos pacientes (DOTTI, 2005; MORALES, 2005).

Essa técnica tem sido eficaz para diversos transtornos do neurodesenvolvimento, como por exemplo: paralisia cerebral; desordens neurológicas, ortopédicas e posturais, comprometimentos mentais como a Síndrome de Down, ou sociais, como os distúrbios de comportamento, autismo, esquizofrenia e psicoses; comprometimentos emocionais, deficiências visual e/ou auditiva, distúrbio de atenção, de aprendizagem, de percepção, de comunicação e de linguagem, de hiperatividade, além de problemas como insônia e estresse (DOTTI, 2005).

Consiste “em tratamentos na área da saúde, onde um animal é Co terapeuta e auxilia o paciente a atingir os objetivos propostos para o tratamento”. Instituto Nacional de Ações e Terapias Assistidas por Animais (Inataa). É importante lembrar que não se trata de uma prática para substituir terapias e tratamentos convencionais, mas um complemento, uma nova linha de pesquisa em atenção à diversidade. (ABELLÁN, 2009).

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Foto: Acervo Pessoal/Vera Lucia

MJ: Como é realizada a aproximação de ambos e como funciona as terapias?

Dra Vera: A inserção de um cão terapeuta demanda do terapeuta humano: o profundo conhecimento da criança (ou do grupo de crianças); conhecimento daquilo que a equipe traçou como plano terapêutico a curto, médio e longo prazo; a presença do responsável pelo animal (que se ocupa de todos os fatores como vermifugação, higiene e corte de pelo, unhas etc.). Depois destas considerações vamos promover o primeiro encontro! O cão e seu mestre ficarão na sala e a criança entra – analisamos aqui suas primeiras reações. Caso estas reações sejam positivas, durante a sessão vamos promovendo a aproximação. Caso contrário, o cão permanece no canto da sala com seu mestre e não vai interagir com a criança. Repetiremos a tentativa na sessão seguinte e, normalmente, a criança já vem em direção ao animal. Quando estamos na situação de grupo de crianças essa interação se dá de maneira mais natural, pois sempre uma das crianças busca o cão para brincar e os demais entram na brincadeira de forma mais orgânica.

MJ: De que maneira podemos proceder quando uma criança está em crise?

Dra Vera: Uma vez fazendo parte do grupo o cão é um promotor de relações entre as crianças. Elas o acariciam, o imitam e ao final dos encontros, o alimentam com biscoitinhos. Se uma criança tem medo, observando seus pares a alimentarem o cão, logo, logo ela se envolve no processo de cuidar do cãozinho. Nos momentos de crise o cão sabe como acalmar a criança, entrando em contato com seu corpo, permitindo o manuseio e por vezes protegendo a criança de auto agressões.