Pesquisa aponta que homens fumam quase duas vezes mais do que as mulheres
Em 12 anos, as consumidoras reduziram o hábito em 44%
Clara Maria Lino – Repórter Rio de Janeiro
O uso do tabaco no planeta passou a ser visto como fator de risco durante a década de 1950. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), esta epidemia é considerada uma das maiores ameaças à saúde pública que o planeta já enfrentou. Aqui no Brasil, os estudos que relacionaram as doenças a este hábito deram início por volta dos anos 1970.
De lá para cá, o Brasil avançou a ponto de se tornar o segundo país a alcançar as medidas de combate ao tabaco da Organização Mundial da Saúde. Ao todo, 171 países aderiram às medidas, mas só a Turquia e o Brasil conseguiram implementar todas as estratégias estipuladas.
Segundo o Ministério da Saúde (MS), as seis medidas MPOWER são: monitorar o uso do tabaco e políticas de prevenção, fazer cumprir as proibições sobre publicidade, promoção e patrocínio, advertir sobre os perigos dessa droga, oferecer ajuda para cessação do fumo, proteger a população contra a fumaça e aumentar os impostos sobre o produto.
Recentemente, a Advocacia Geral da União (AGU) pediu a Justiça Federal que condenasse as duas principais indústrias de cigarro a ressarcir os valores gastos pelo Sistema Único de Saúde (SIS) com as doenças cientificamente relacionadas ao tabagismo.
A Souza Cruz e a Philip Morris detêm aproximadamente 90% do mercado brasileiro de fabricação e comércio dos cigarros. Ainda de acordo com a AGU, também foi pedido a Justiça Federal um decreto que obriga as indústrias citadas a restituir os cofres públicos dos custos que serão gastos em tratamento nos próximos anos, danos morais coletivos e pagamento de indenização.
A exemplo do câncer de pulmão, há pesquisas que afirmam que 90% dos casos da doença são consequência do uso de cigarro. O perfil do fumante no Brasil, de acordo com o MS, está no homem com idade entre 55 e 64 anos. Eles, em qualquer faixa etária, fumam quase duas vezes mais do que as mulheres. A porcentagem registrada em 2018 foi de mais de 12% de homens fumantes no país. Entre as mulheres, esse índice não chega a 7% e ainda possui a redução do hábito em 44% no período de 12 anos (entre 2006 e 2018). Pessoas com a faixa de idade apontada anteriormente representam a maior parte dos fumantes, mais de 12%.
Para o INCA, estima-se que a mortalidade por câncer de pulmão entre as mulheres vai parar de aumentar em 2030. Com os homens, o número de mortes começou a cair em 2005. Isso ocorre devido a diminuição do número de fumantes que é consequência das ações de Política Nacional de Controle ao Tabaco.
Márcia Lima foi fumante por quase 15 anos. Em entrevista para esta reportagem ela relata que começou com o vício pela moda da época. “Eu comecei a fumar aos 14 anos, no ano de 1975. Na minha época era chique, era maior onda você fumar então eu engasgava na fumaça, mas tinha que aprender a tragar. A minha maior motivação foi essa, a moda.” Márcia também relata que o pai optava por comprar o produto para ela e para o irmão dela com medo dos filhos fumarem outros tipos de cigarro. Ela ainda acrescenta que parou de fumar quando ficou grávida. “Meu pai comprou dois maços de cigarro (um para mim e outro para meu irmão) e falou que ele preferia comprar e dar o produto para a gente do que a gente fumar na rua outros tipos de cigarro. Eu parei de fumar quando fiquei grávida e depois da gravidez eu enjoei do cigarro.”
O imposto arrecadado pela União e pelos estados sobre o tabaco não cobre o prejuízo gasto com a saúde. Em 2015, o Brasil arrecadou menos de R$13 bilhões. O consumo do cigarro causa a perda de quase R$57 bilhões ao país por ano. Nesse valor são incluídos custos médicos e de improdutividade causada por morte ou invalidez. Ou seja, o rombo do tabagismo para o Brasil em valores pode chegar a casa dos R$44 bilhões.
Conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), o tabagismo passivo tem relação com diversas doenças apresentadas nas crianças. Asma, otites, bronquite e pneumonia além da Síndrome de Morte Súbita na Infância. Aproximadamente 880 mil crianças morrem devido a este elemento nocivo, 54 mil estão na faixa entre 0 e 4 anos.
Para a ONU, no mundo todo o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas. Dessas, 1,2 milhão são não-fumantes expostos ao fumo passivo. Esses números já foram maiores. Ainda segundo o INCA, as “leis do ambiente livre de fumaça do tabaco” que proibiram o uso de cigarros em ambientes fechados e de uso coletivo em definitivo a partir de 2014, evitou a morte de mais de 15 mil crianças com até um ano de idade. Entre 2000 e 2016, a taxa de mortalidade infantil teve queda em todos os estados por diversas razões, mas os ambientes 100% livres da fumaça do cigarro foram responsáveis sozinhos por uma queda de mais de 5%. As leis citadas acima começaram a ser implementadas no ano 2000.
Caso todos os estados e o Distrito Federal tivessem adotado as medidas desde o princípio, mais de 10 mil mortes de crianças com até um ano teriam sido evitadas em 16 anos. Segundo o Oncologista Dráuzio Varella, calcula-se que mais da metade dos fumantes desejam parar com o hábito. Para o médico, não existe uma “fórmula mágica” para largar o vício da nicotina. Se você já tentou parar de fumar e não conseguiu ou esteve livre do vício por um certo tempo e retornou, não desista. Esse comportamento é normal.
O ideal é escolher uma data para parar de fumar e até lá ir reduzindo de cigarro em cigarro. Também é importante tardar ao máximo o primeiro cigarro do dia, pois aumentam as chances de atingir o objetivo de diminuir a quantidade do fumo. A partir do primeiro dia sem cigarro é importante ter consigo água, chiclete, companhia, pequenas porções de alimentos leves e tudo o que for distrair a mente. É preciso entender que essa mudança é uma transformação de rotina que trazem novos hábitos, por isso evite passar pelos locais que costumava fumar. A dica também é guardar o valor diário gasto em maços e ao final da semana investir o dinheiro em passeios ou na atividade que prefirir. Para mais informações sobre tratamento na rede pública, procure a secretaria de saúde da sua cidade.