Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Durante os meses de junho e julho, as festas juninas estão entre os principais atrativos turísticos do país. Além de ser um momento de grande representatividade para a cultura local, essas festividades desempenham um papel fundamental no impulsionamento do crescimento econômico regional, movimentando diversas cadeias produtivas relacionadas à cultura.

Segundo estimativas do Ministério do Turismo, a expectativa é que as festividades gerem mais de R$ 3,4 bilhões em retorno financeiro. Somente no estado da Bahia, por exemplo, são esperados mais de R$ 1,3 bilhões injetados na economia. Em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que possuem algumas das festas mais tradicionais do país, a estimativa é de R$ 300 milhões e R$ 400 milhões, respectivamente.

O professor do curso de Administração da Universidade Estácio de Sá, Diêgo Pinheiro, explica que a movimentação econômica relacionada a esse período inicia muito antes e se prolonga para até o final de julho. 

“Em alguns casos, essa cadeia produtiva começa a reforçar suas atividades logo depois do Carnaval. Começa a produção das indumentárias e os setores alimentícios e de bebidas já começam a prever uma produção que vá atender a essa demanda sazonal. Em julho, que é um período de férias escolares, essa movimentação econômica tende a ficar fortalecida, inclusive com resquícios de algumas festas e arraiais que persistem nessa época”, afirma.

Movimentações econômicas

Segundo a pesquisa da Horus, braço de pesquisa do ecossistema Neogrid, o consumidor brasileiro também se animou com a data. O estudo mostra que o valor do tíquete médio gasto aumentou de R$ 13,25, entre junho e julho de 2022, para R$ 16,07, no mesmo bimestre de 2023, o que corresponde a um crescimento de 21,3% no período. 

Os dados também comprovam que, no ano passado, os brasileiros colocaram mais produtos referentes à essa época do ano no carrinho, com incremento no valor gasto nos supermercados. Entre junho e julho de 2023, a média de itens por compra chegou a 2,7, ante 2,2 nos mesmos meses de 2022, representando uma evolução de 21,3% neste indicador.

“As festas juninas e julinas não são apenas celebrações das tradições culturais brasileiras, mas também excelentes oportunidades para impulsionar vendas, crescimento das margens e o sucesso de uma rede varejista”, explica Dionaldo Passos, diretor de Supply Chain da Neogrid.

As festividades também lotam os meios de hospedagens em todo o Brasil. Nos principais destinos pernambucanos, a média de ocupação hoteleira ultrapassou os 90%, como é o caso de Caruaru (91,04%), Petrolina (90%), Taquaritinga do Norte (100%), Bezerros (95%) e Bonito (95%). Em Campina Grande (PB), os índices ultrapassam os 85% e, em Salvador (BA), o número é acima dos 50%. Em São Luís (MA), a taxa de ocupação alcançou 62,67% em junho, melhor resultado de 2022.

A data também movimenta negócios durante todo o mês de junho e julho, envolvendo uma cadeia produtiva formada por coreógrafos, costureiros, bordadeiras, chapeleiros, rendeiras, artesãos, sapateiros e muitas outras profissões que compõem o mercado de festejos juninos. Segundo levantamento da Fequajuce (Federação de Quadrilhas Juninas do Ceará), existem, hoje, cerca de 400 quadrilhas juninas profissionais no Estado, que participam de 40 a 50 festivais a cada ano.

Cada evento pode gerar até 250 empregos diretos, estimativa que leva em consideração o porte deles (pequeno, médio e grande) e considera todos os envolvidos diretamente nos mercados formal e informal, que vão desde costureiros a músicos, de barraqueiros a cozinheiros, além da própria produção do evento e dos profissionais de montagem de estrutura e de organização.

O barraqueiro Antônio Ivanildo é um dos entusiastas dessas promoções e fatura bem no período. Há seis anos comercializando comidas típicas, cachorro quente e churrasco, no período do Vila São João, a renda do barraqueiro aumenta consideravelmente. 

Em 2009, primeira vez que o evento aconteceu no bairro, Ivanildo lucrou R$ 6,5 mil em sua barraca. Este ano, ele já investiu R$ 2,5 mil em mercadorias, e espera lucrar em torno de R$ 9 mil. “É uma oportunidade de faturar um pouquinho mais e, até o dia 20, quando termina o festival, espero atingir a meta de lucro”, disse.

Impulso do empreendedorismo no Nordeste

Os negócios mais beneficiados nesta época do ano são os ligados aos setores da beleza, vestuário e, principalmente, o de alimentos e bebidas, sobretudo os empreendimentos que apostam no milho para a fabricação de pratos típicos do ciclo.

A empolgação dos empresários donos de pequenos negócios para a temporada é justificável. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fecomércio/PE e o Sebrae/PE, cerca de 87% dos entrevistados pretendem permanecer no estado de Pernambuco durante as comemorações. Desse total, 72% pretendem passar o São João na cidade onde moram, o que aquece a economia local. Ainda segundo a sondagem, as cidades do Agreste pernambucano aparecem como destinos mais procurados no período.

O relatório da Nuvemshop revelou que as tradicionais festas juninas também movimentaram as vendas no varejo digital brasileiro das pequenas e médias empresas (PMEs). Entre os dias 1º e 23 de junho, os pequenos varejistas online venderam mais de 100 mil produtos relacionados às festividades, um aumento de 24% em relação ao mesmo período do ano passado, totalizando R$ 6,8 milhões – um crescimento 25% maior em comparação a 2023.

“Historicamente, as festas juninas não faziam parte do calendário do varejo. Porém, mais uma vez, comunicações e promoções desenvolvidas exclusivamente para uma comemoração popular fizeram a diferença nas vendas das PMEs”, comenta Marcela Orlandi, gerente de sucesso do cliente da Nuvemshop.

Durante o período analisado, a venda de produtos classificados como “juninos” na plataforma da Nuvemshop cresceu cerca de 90% em comparação ao ano passado, passando de 10 mil para 19 mil itens vendidos. Entre os vendidos, estavam camisetas xadrez, chapéus de palha, balões e bandeirinhas. Além disso, houve um aumento de 36% no volume de itens registrados como “cowboy” para venda.

“O empreendedor precisa ter em mente que todos os meses e eventos do ano podem se tornar atrativos para as compras online e usar isso a seu favor no planejamento da loja virtual”, conclui Marcela.

Dicas para a temporada de festas juninas

Para obter bons resultados durante esse período, é fundamental planejar e se preparar com antecedência. Anna Fercher, head de Customer Success e insights da Neogrid, destaca que essa época do ano exige atenção especial ao estoque, estratégias promocionais e análise do comportamento dos consumidores nos anos anteriores, além de observação das tendências de vendas e promoções para evitar perdas financeiras e insatisfação dos clientes.

“Observamos que o comportamento do consumidor nos últimos anos é um indicador importante para ajustar as estratégias de vendas”, afirma Anna. “Analisar os padrões de compra e as preferências dos clientes nos possibilita antecipar tendências e adaptar nossas ofertas de maneira mais precisa”, complementa. Veja algumas dica do Sebrae: 

1. Planeje-se para vender mais

Além de fortalecer o relacionamento com os clientes antigos, as festas juninas também são uma ótima oportunidade para atrair novos consumidores. É importante planejar ações e estratégias para vender mais. A recomendação é conhecer muito bem o que você vende e ter claro qual é o seu público. São muito bem-vindas parcerias com produtores ou fornecedores locais que façam produtos relacionados com festa junina. Outro ponto fundamental é conhecer a capacidade de produção e de atendimento para não ter problemas. Definir a expectativa de vendas e se programar para a compra de matéria-prima é essencial.

2. Crie decoração temática

Utilize bandeirinhas, chapéu de palha, músicas típicas, fogueiras e balões que fazem parte das tradições juninas. Realizar uma ação com os colaboradores também é bem-vindo para mostrar que o negócio está em clima de festa. Utilize sem medo as redes sociais para mostrar seus produtos e serviços.

3. Explore o tema de forma criativa

Uma boa opção é montar cestas e kits juninos para entrega por delivery. Na encomenda podem ser inseridos itens decorativos, como bandeirolas e brinquedos, até produtos prontos, como paçoca e doces de amendoim. Isso agrega valor e possibilita o aumento do ticket médio de compra. Nos eventos presenciais, como festas e arraiais, é possível fazer degustação de comidas e bebidas, podem ser servidos pratos juninos preparados na hora. Para quem trabalha com moda e vestuário, a dica é montar looks especiais para o período, não esquecendo de divulgar as fotos nas redes sociais.

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