Por Sara Café, jornalista
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Ao empreender, as mulheres impactam a sociedade de uma maneira bastante singular, porque geram ciclos de abundância social, emocional e econômica por enxergarem a potência de outras mulheres. No entanto, as barreiras de gênero e os desafios econômicos são alguns dos obstáculos que precisam ser superados.  

Em 2022, o Global Gender Gap Report (relatório global de desigualdade de gênero) mostrou que o país que mais se aproximou de acabar com a desigualdade de gênero foi a Islândia, que ocupa o topo da lista, seguida pela Finlândia e a Noruega. O Brasil está mal posicionado no ranking. Nesta última edição, ganhou o 94º lugar entre 146 nações, e vem piorando sua colocação desde 2020, quando ocupava o 92º lugar. 

Os dados relativos aos projetos executados pela Aventura de Construir (AdC) mostram como essa desigualdade no mercado de trabalho formal ainda é uma realidade latente, que impulsiona as mulheres periféricas a encontrar no empreendedorismo uma forma de sobrevivência dentro dos territórios em que vivem.

Nos projetos atuais executados pela OSC, 78% do público que participa são mulheres, localizadas nas mais diversas regiões do Brasil. Dentre essas empreendedoras, 51,16% se autodeclaram pretas, 13,95% se autodeclaram pardas e 34,88% se autodeclaram brancas, com a renda per capita média de até dois salários mínimos. 

Ou seja, há bastante chão a ser trilhado no caminho para uma sociedade em que as disparidades de gênero deixem de existir. Uma sociedade em que mulheres e meninas (metade da população do mundo) não sejam mais deixadas para trás. “Apenas metade é uma parte igual, e apenas igual é suficiente” declarou Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU Mulheres no Fórum Econômico Mundial.

Empreendedorismo feminino cearense

No caminho da igualdade, encontramos o porquê dessa necessidade e da importância de as mulheres ocuparem lugares iguais aos homens. Nos dias atuais, as empreendedoras lideram ações de impacto social no Brasil e ensinam sobre o legado das organizações. 

Conheça 5 projetos idealizados por mulheres para mulheres e suas comunidades que fomentam o impacto social no Ceará. 

  1. Vem Cá Mulher

O Vem Cá Mulher, um negócio de impacto de Fortaleza (CE), contribui para impulsionar mulheres empreendedoras e aquelas que desejam se recolocar no mercado de trabalho. A empresa realiza mentorias, cursos e palestras personalizadas, oferece diversas trilhas de aprendizagem, treinamentos de vendas, marketing digital e empreendedorismo, além de proporcionar uma rede de apoio e acolhimento.

Vem Cá Mulher | Imagem: Divulgação

“O Vem Cá Mulher nasceu no período pandêmico e está aí com várias mulheres empreendedoras que acreditam no que a gente faz. A causa do VCM é que todas as mulheres tenham independência financeira, autonomia, capacidade de tomar decisões, que a gente tenha na união, a coragem para se apoiar, porque juntas vamos mais longe”, explica Camila Flor de Liz, idealizadora do negócio. 

Com toda essa cadeia de impulsionamento de negócios femininos, o VCM tem conquistado um espaço de destaque na capacitação, fortalecimento e impulsionamento de toda a cadeia de valor. E os números confirmam: foram capacitadas mais de 1500 mulheres, mais de 105 empreendedores capacitados, 640 horas de capacitação e 154 horas de mentoria.

  1. Social Brasilis

Criado em 2015, o Social Brasilis desenvolve programas educativos com o objetivo de proporcionar alternativas de empoderamento para populações e comunidades periféricas, zonas rurais, idosos, mulheres e as juventudes que vivem à margem da inovação, do empreendedorismo e da virtualização das coisas.

Social Brasilis | Imagem: Divulgação

Tomando como base o empreendedorismo social e a tecnologia digital, o negócio vale-se de plataformas virtuais de aprendizagem que preparam seus usuários para um futuro profissional e para a inovação educacional. Já impactou cerca de 10 mil pessoas, aplicando uma premissa simples: é preciso que aquilo aprendido por meio da ferramenta seja aplicado em um contexto mais amplo.

Emanuelly Ferreira de Oliveira, fundadora do Social Brasilis, defende que o maior desafio era trazer aquele conhecimento que estava na tela do computador para o mundo offline, que é onde as pessoas de fato vivem. “Começamos a trabalhar com a metodologia da sala de aula invertida. Hoje, os participantes interagem na plataforma, mas também precisam colocar aquilo que aprenderam em prática, seja na forma de projeto, de uma iniciativa social, na sua empresa ou na escola. E é isso que faz toda a diferença.”

  1. Somos Um

Acreditando na parceria de todos os setores da sociedade, a Somos Um é uma organização social que realiza suas atividades na cidade de Fortaleza/Ceará e tem como objetivo fomentar o empreendedorismo social para gerar impacto social para as comunidades mais vulneráveis da cidade. 

Somos Um | Imagem: Divulgação

Idealizado pela diretora Comercial e de Marketing da C. Rolim Engenharia, Ticiana Rolim, o Somos Um seleciona moradores do bairro para passar por capacitação em diversas esferas para tornar as ideias empreendedoras reais. 

“Essas pessoas serão divididas em duas frentes de trabalho, a Trilha Florescer e a Trilha Impactar. A primeira é voltada a mulheres, por exemplo, que querem colocar um micronegócio na própria casa. Elas vão passar por um série de capacitações para descobrir o que as fazem felizes e de que forma elas podem montar um negócio para lucrar com essa atividade, depois vão receber capacitação técnica e financeira para saber como administrar esse negócio e ainda vão receber auxílio de como ter acesso ao microcrédito”, detalha Ticiana Rolim. 

  1. Rede Cria

A Rede Cria desenvolve projetos para capacitar potências femininas no Ceará, estimular suas habilidades criativas e promover a transformação social. Um dos destaques do negócio foi a primeira edição do projeto Gastronomia em Rede, que beneficiou 11 cozinheiras empreendedoras das comunidades Graviola e Japão, que ficam no bairro Praia de Iracema, em Fortaleza. 

Rede Cria | Imagem: Divulgação

O projeto visa fomentar o empreendedorismo feminino, melhorar a vida dessas mulheres, que são maioria negras, e preservar a cultura alimentar do município. Além da promoção do empoderamento feminino, o projeto destaca também melhores condições de vida e valorização étnico-racial para essas mulheres.

Para a coordenadora, Vivi Façanha, a proximidade das comunidades com o mar muda a relação dessas mulheres com o preparo das comidas. 

“Elas têm uma relação muito forte com os insumos do mar. Foi muito interessante ouvir elas falarem sobre como compram esses produtos bem cedo, diretamente do pescador, conhecer um pouco da vida dessas mulheres, da rotina delas e da sua ancestralidade através da comida. Nosso objetivo é contribuir para que elas sejam inseridas dentro do mercado gastronômico da Praia de Iracema. É um projeto complexo que não é só formação, mas também de difusão dessa produção gastronomia.” 

  1. Ser Ponte Fortaleza

Um projeto solidário que prioriza o atendimento a famílias chefiadas por mulheres em Fortaleza. É assim o Ser Ponte, iniciativa da sociedade civil que, voluntariamente, decidiu atuar em prol do bem comum.

Ser Ponte Fortaleza | Imagem: Divulgação

Segundo registros do Cadastro Único, 3.068.443 de pessoas vivem em condição de pobreza extrema no Ceará, ou seja, sobrevivem com R$89 por mês. Os dados são de outubro de 2020, divulgados pelo Ministério da Cidadania. Por isso, o coração do projeto é o repasse de R$180 para mulheres chefes de família nas regiões mais vulneráveis da cidade e já chegou a contemplar 18 territórios de Fortaleza com esse trabalho de transferência de renda. 

A fundadora do Ser Ponte, a pesquisadora do Laboratório de Estudos da Habitação da Universidade Federal do Ceará (UFC) Valéria Pinheiro, relata que o projeto tem trazido efeitos reais nas vidas das famílias. 

“O valor pode, inicialmente, parecer pouco, mas estamos falando de famílias que têm rendas incertas e cada vez menores. Logo, a garantia do recebimento dos 180 reais já é de grande importância e faz toda diferença. Estamos na briga para isso virar política pública, inclusive trabalhando junto às comunidades para que elas se conscientizem da importância de uma renda básica fixa”, afirma. 

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