O que leva o Brasil a ser o segundo maior mercado de podcasts do Mundo?
Os recentes investimentos anunciados pela Rede Globo escancaram o
crescimento do segmento
Por Giulia Ghigonetto-São Paulo
giulia.ghigonetto@mulheresjornalistas.com
A Globo tem investido a algum tempo no mundo dos podcasts e mostrando produções de qualidade. No dia 21, o conglomerado de mídia realizou o AudioDay em que anunciou novidades e comprovando que o segmento está recebendo cada vez mais atenção.
Uma pesquisa de 2017 indicou que 70 milhões de brasileiros ouvia algum tipo de áudio digital. Em 2020 este número aumentou para 90 milhões. Segundo o Ibope, aproximadamente 17% (29 milhões de pessoas) da população do país ouve podcasts, registrando um aumento de 8 milhões em relação a 2019. Com isso, o Brasil se coloca como o segundo maior mercado de podcasts do mundo, apontou dados do Spotify.
Reflexos disso podem ser vistos pelo próprio aumento de podcasts da Globo, que cresceram 450% em um ano. O Deezer, uma das principais plataformas do segmento, dobrou a audiência de podcasts em 2020, de acordo com Stefan Habergritz, executivo da empresa e presidente do comitê de áudio do IAB Brasil.
Durante o Spotify for Podcasters Summit, em 2019, o diretor do Spotify Studios na América Latina, Javier Piñol apontou dois motivos para a velocidade com a qual o formato tem crescido no país: a grande capacidade do consumidor brasileiro de se adaptar com a tecnologia e a própria dinâmica ágil da era digital.
Entre os motivos que corroboram com o grande interesse pelas produções é a praticidade que elas oferecem, permitindo a produtividade dentro de uma sociedade multitarefas. Podcasts também conecta, preenche, compensa e orienta o ouvinte, fazendo com que o consumidor se senta parte do grupo ao qual ele está escutando. Além disso, eles trazem informação, ativa a imaginação e mexe com as emoções.
Por razões como essas, Lucas Gini criou o podcast Fri.la, em que entrevista profissionais freelancers em diferentes áreas de atuação. “Uma ilustradora que acompanho do Youtube foi entrevistada por um programa no Reino Unido sobre freelas. Ouvir sobre as experiências de outras pessoas que também trabalham nesse esquema me ajudou muito. Então no começo de 2019 tive a ideia de fazer um programa mostrando a visão dos brasileiros sobre o assunto”. A versão nacional inclusive recebeu o apoio do responsável pelo podcast inglês que inspirou Gini, que foi até convidado para participar do programa do Reino Unido.
Para criadores de conteúdo como Lucas, o formato oferece vantagens na hora de produzir. “Eles são relativamente fáceis de fazer. O fato de não ter vídeo ajuda muito, não precisa ter o comprometimento com a qualidade de imagem e edição que é um pouco mais complicado. E meu único investimento financeiro nisso tudo foi um microfone de R$ 40.”, explica ele.
Além disso, Gini tem uma campanha do Apoie-se em que recebe contribuições para custear a edição de áudio.
Quem ouve?
A expressão “podcast” foi criada em 2004 por Ben Hammersley, jornalista da rede britânica BBC. Vem do termo Personal On Demand Broadcast, ou “Rede de Transmissão Pessoal sob Demanda”. Ao final do ano em que o termo foi criado, já havia três mil deles disponíveis.
Segundo a Associação Brasileira de Podcasters (ABPod), há mais de 2 mil programas ativos no país. Uma análise desse mercado foi feita em pesquisa conduzida pelo Ibope Inteligência, mostrando que o internauta brasileiro em geral é mais escolarizado, mais jovem e tem uma renda maior em comparação com a população no país.
Em relação ao formato, a preferência é por conteúdos curtos, de até 15 minutos. Além disso, a gravação ser boa e não haver várias pessoas falando ao mesmo tempo foram pontos destacados.
Mudanças com a pandemia
Estudos mostram que antes do período de quarentena, os picos de consumo eram nos horários de deslocamentos, ou seja, de manhã e fim da tarde. A pandemia do Coronavírus mudou esse cenário, dando lugar a um consumo mais uniforme e distribuído durante todo o dia.
No Brasil, 85% dos usuários de internet tem consumido áudio durante esse período. Isso oferece uma grande oportunidade para anunciantes explorarem esse mercado.
O podcast permite que o conteúdo não dispute a atenção da pessoa, com isso o formato acaba sendo importante e relevante para marcas que não querem interromper a rotina do ouvinte.
Geralmente, essas empresas optam por apoiar influenciadores que possam aproximá-las de seu público, em vez de produzirem o próprio conteúdo. A Natura e Bradesco, por exemplo, patrocinam podcasts produzidos pelo B9, uma das principais referências brasileiras nesse formato.
No evento já citado anteriormente, Piñol observou que um fator que tem contado a favor no desenvolvimento do mercado em termos de produto publicitário: a criatividade. “O brasileiro tem proficiência em produção de conteúdo e criatividade comercial. Os pedidos mais criativos que recebo são das agências brasileiras e isso ajuda a retroalimentar o ecossistema”, ressaltou.
Em paralelo, a líder no segmento de balas de gelatina no Brasil, a Fini, criou o Finicast, um podcast da marca feito em parceria com produtores de programas que abordam temas do universo no qual está presente, como cinema, games, cultura pop, humor e ciência.
Outro ponto é que grandes personalidades do entretenimento e política também tem se aventurado no formato. Michelle Obama, ex-primeira-dama dos EUA, lançou seu podcast em julho do ano passado, onde entrevista diversas celebridades.
A Marvel anunciou a produção de séries do Wolverine e da Viúva Negra, enquanto a DC Comics vai estrear programas com Batman, Super-Homem, Mulher-Maravilha e Coringa. No mundo da música, Robert Plant, ex-vocalista da banda Led Zeppelin, e David Gilmour, líder do Pink Floyd já lançaram podcasts próprios.
Ser pessoas já conhecidas os ajudam a ter um público garantido e, consequentemente, patrocínios. Isso torna o mercado competitivo, mas não impossível de entrar.
“Ele é competitivo se você pensar que tem muitos podcasts de todos os assuntos possíveis e os ouvintes têm perfis e tempo limitado para consumir isso. Mas não tenho certeza se as pessoas enxergam isso como uma concorrência porque nem todo mundo tem a intenção de tornar o programa rentável.”, conta Gini, e ele completa, “Eu e muitas pessoas escolhemos fazer isso para uma comunidade que gosta do assunto que falo. O que me move é gostar de falar com as pessoas.”.
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