Por Mariana Mendes, Jornalista -SP

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Editora: Letícia Fagundes

Ariel Holan pediu demissão do cargo de treinador do Santos após dois meses no clube. Este período pequeno atuando no futebol brasileiro foi o suficiente para o argentino decidir não comandar o time. De acordo com o presidente do Santos, Andrés Rueda, “ele afirmou que os frutos do trabalho não estavam aparecendo e que o melhor que poderia fazer era nos deixar, para escolhermos um novo treinador.”

Entretanto, outros fatores foram a causa da sua escolha, como a cobrança exacerbada dos torcedores e falta de peças e investimento do Santos. Holan não estava satisfeito com o momento do elenco e, ao ver jogadores importantes saírem do time, sem receber reforços, decidiu pedir demissão.

A pressão por resultados imediatos e a crises de gestão dentro de clubes são questões constantes que levam treinadores a saírem de clubes ou serem demitidos. A troca de técnicos no Brasil é tão grande que o Conselho Técnico do Brasileiro da Série A criou uma regra que os times só poderão demitir e contratar técnicos apenas uma vez durante a temporada.

A reação da saída de Holan mostra como isso reflete o cenário maior do futebol brasileiro atual. Rueda também afirmou em entrevista coletiva que torcedores soltaram rojões na casa do ex-treinador após derrota contra o Corinthians no último domingo (25/04).

Assim, Holan ter decidido sair do clube reflete como o futebol brasileiro é resultadista e a pressão imediata por vitórias dos torcedores não permite os treinadores realizarem o trabalho no tempo necessário para ver os frutos em campo. Além disso, a entrevista de Rueda mostrou que os rojões estourados perto do apartamento do treinador foi o estopim para sua demissão.

Na internet, jornalistas e torcedores comentaram sobre o assunto. Leonardo Miranda, colunista do globoesporte.com, escreveu no Twitter: “Ariel Holan não teve tempo para treinar, não recebeu salário, mal teve reforços e ainda teve que aguentar torcedor que vive no mundo da lua soltar rojão e cobrar resultado num ano de reconstrução financeira. Futebol brasileiro é doente.”

Torcedores subiram a hashtag #FicaHolan, porém muitos defenderam a atitude do treinador de não se submeter a situações complicadas do Santos. “Espetacular atitude”, disse o comentarista Flávio Prado.

A situação financeira do Santos já era conhecida por Holan quando entrou no clube. O clube ainda tinha o impedimento da FIFA de contratar novos jogadores e a crise de anos de má gestão são fatores que já dificultavam o trabalho, porém, com a saída de Soteldo, desfalques constantes e sem ver resultados dos treinos nas partidas, é difícil culpar Holan por querer sair do Santos.

No Brasileirão 2020, 27 treinadores saíram de seus cargos por que não atenderam as expectativas de resultados do clube e da torcida. Isso mostra como eles carregam essa culpa de realizar milagres, quando existem outros fatores para um clube se dar bem em campo.

Rueda afirmou em entrevista coletiva que Holan não via suas táticas sendo utilizadas em campo. Porém, os torcedores decidiram colocar o seu nome na fogueira, sem cobrar também os jogadores – ou a falta deles – pelos resultados ruins e atuações inferiores.

O Santos agora busca um novo treinador. Andrés Rueda ainda não mencionou nomes, mas procura um perfil parecido com o de Holan. “O perfil não muda. Queremos um treinador que goste de jogar com a base, que jogue para a frente, que agregue tecnologia. Vamos fazer o possível para trazer o treinador mais rapidamente. A nossa comissão permanente existe para isso: suprir essas lacunas entre um técnico e outro”, disse.