Por Melissa Rocha – Jornalista – RJ
Editora-chefe: Letícia Fagundes

Pazuello passeia sem máscara em Manaus, Guedes critica longevidade e Ramos expõe política antivacina de Bolsonaro. O governo federal está, de fato, contra a população

Episódios envolvendo três ministros do governo federal expuseram, nesta semana, a crueldade e o desdém para com a população que movem a agenda bolsonarista.

Comecemos por aquele que já deixou o alto escalão do governo, mas segue como um dos aliados próximos do mandatário Jair Bolsonaro: o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Um dos principais alvos da CPI da Covid, Pazuello foi flagrado passeando sem máscara em um shopping de Manaus. Questionado por que não estava usando máscara, ele respondeu com a pergunta: “Onde compra isso?”.

Seria terrível, se fosse apenas incompetência. Poderíamos pensar: o ministro que deveria ter liderado a aquisição de vacinas para o país sequer sabe onde comprar uma máscara. Porém, a realidade é mais dura. A ação foi um deboche deliberado, calcado na mais pura maldade. Pazuello sabe que é investigado pela CPI por uma atuação omissa, que foi um dos fatores que levaram o sistema de saúde de Manaus ao colapso, em janeiro deste ano, por falta de oxigênio. Mesmo assim, decidiu desfilar sem máscara em um shopping da cidade, desrespeitando os protocolos de segurança. E não se furtou em alimentar seu ego, debochando e rindo sarcasticamente do questionamento. Como um bandido que retorna à cena do crime para apreciar o feito.

Passemos, então, ao ministro da Economia, Paulo Guedes – aquele que foi alçado ao cargo como o “Posto Ipiranga” do governo, mas que, na prática, se revelou apenas um bonecão de posto. Em sua mais recente trapalhada, ele gerou um novo mal-estar com a China, que não só é a principal parceira comercial do Brasil, como também é a que mais fornece insumos ao país para a produção de vacinas contra a covid-19. Em uma reunião do Conselho de Saúde Suplementar, Guedes acionou a retórica conspiracionista do governo, acusou a China de ter inventado o novo coronavírus e desdenhou da eficácia da vacina chinesa, a CoronaVac. Logo ele, que já tomou as duas doses necessárias do imunizante. Mas não acaba por aí. Na mesma reunião, Guedes culpou o aumento na expectativa de vida no Brasil pela escassez de investimentos na saúde. Segundo ele, o que “quebra” o Estado é que todo mundo quer viver 100 anos. A declaração é uma manobra asquerosa de Guedes para transferir a culpa de sua gestão incompetente para cidadãos que, como qualquer ser humano do planeta, desejam uma vida longa e com saúde.

Por fim, chegamos ao terceiro – e talvez mais emblemático – caso, que envolve o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos. Na mesma reunião do Conselho Suplementar de Saúde, Ramos afirmou ter tomado a vacina contra a covid-19 “escondido”, porque a orientação do governo federal é “não criar caso”. Vale destacar que, nesse contexto, o “não criar caso” significa evitar apoiar publicamente a imunização. Mas Ramos não titubeou em sua decisão de tomar a vacina, afinal, como ele mesmo disse na reunião, “ele quer viver, pô”. O ministro da Casa Civil também expressou preocupação com a vida de Bolsonaro, afirmando que está tentando convencê-lo a tomar a vacina. O que talvez ele não saiba é que, em janeiro deste ano, Bolsonaro colocou sua carteira de vacinação sob sigilo de 100 anos. Logo, se o mandatário decidir se imunizar, mesmo após seu teatro antivacina, ninguém ficará sabendo.

A fala de Ramos expõe duas coisas. Em primeiro lugar, ele sabe que a ciência é o único caminho contra a covid-19, mas não pretende discordar de Bolsonaro e incentivar a população a se vacinar. Continuará seguindo a cartilha do mandatário e classificando a imunização como um direito de escolha. Em outras palavras, ele quer viver, mas vai acatar as ordens de Bolsonaro para garantir ao cidadão o direito de morrer. Seria cômico, se não fosse trágico, e fica a impressão de que o famoso general de dez estrelas, citado na música Faroeste Caboclo, de fato, existe.

Em segundo lugar, a fala de Ramos também expõe que Bolsonaro é – sem sombra de dúvidas – o centro da política antivacina, que teve resultados catastróficos para o Brasil. O caso promete repercutir na CPI da Covid, uma vez que membros da comissão já estudam convocar Ramos para prestar esclarecimentos. A conferir quais serão os desdobramentos.