Por Ana Luiza Timm Soares
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

O mês de setembro marcou o retorno dos desfiles presenciais nas principais semanas mundo afora. Depois de quase dois anos de apresentações digitais ou “phygitais” – união do termo physical (físico em inglês) com digital, que propõe a convergência destas experiências – em virtude da pandemia de coronavírus, a temporada de moda primavera/verão 2022 volta às passarelas em Nova York, Londres, Milão e Paris.

Representando o Brasil na Milan Fashion Week, a modelo Maria Júlia Araújo foi destaque ao desfilar para duas marcas no evento. Com síndrome de down, a jovem fez parte do casting das grifes NCC e Libertees no último sábado (25).

Para a modelo, a inclusão da diversidade nas passarelas não é um favor às pessoas marginalizadas, mas um direito que vem sendo cumprido com atraso. Ainda assim, oportunidades são escassas para pessoas que, como ela, são consideradas “fora do padrão” ditado pela indústria fashion.

Milão ainda surpreendeu o público ao apresentar uma coleção dedicada à diversidade tendo como modelos os bonecos Barbie e Ken, da fabricante norte-americana Mattel. A marca convidou o estilista siciliano Alessandro Enriquez para criar looks inclusivos, refletindo a nova era da companhia de brinquedos.

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Barbie e sua coleção de diversidade assinada por Alessandro Enriquez na semana de moda de Milão em Setembro de 2021. Foto: Divulgação

Mas o fato é que, apesar dessas iniciativas um tanto isoladas – as quais inclusive tive certa dificuldade em encontrar informações – a maioria dos desfiles de Moda seguiu seu fluxo tradicional. Como um kraken poderoso e invencível em um mar de mistérios e incertezas, o mundo fashion continua em sua bolha de “luxo poder e sedução” que me parece um tanto quanto descolado do mundo real.

É claro que esta indústria milionária exerce um enorme poder de fascínio e nos ajuda um pouco a escapar das agruras do dia a dia, mas a cauda da serpente está ficando curta para tanta obsolescência (algumas maisons já declararam o repúdio a este formato, tais como Hedi Slimane, da Cèline e Stella McCartney, da gigante LVMH).

O estilista brasileiro João Pimenta já declarou que “questionar é uma função da Moda, ela tem que questionar. A gente tá aqui pra isso, pra tirar as coisas do lugar, ser inusitado, tentar fazer diferente, dar uma nova roupagem pra tudo”. Particularmente, concordo muito com esta visão. Já sabemos que Moda é imagem, e não apenas discurso. Mas POR QUE DIABOS a galera das muóda continua cultuando imagens que não acrescentam nada nem do ponto de vista político-sócio-cultural e muito menos inclusivo, ou mesmo, criativo?

Para além das mudanças e inovações tecnológicas deveras relevantes, a Moda PRECISA conectar de forma mais efetiva o que vestimos e as causas que defendemos. A prática da empatia. A defesa da justiça social, da ética e a sustentabilidade de nossos fazeres e saberes. Sim, criamos roupas, calçados e acessórios. Costuramos. Desenhamos. Modelamos. E… debatemos política, celebramos a diversidade, somos inclusivos.

Ainda caminhamos em passos lentos, embora constantes, neste sentido. Citando a imortal estilista e ativista política brasileira Zuzu Angel, é necessário dizer que “Moda tem importância, sim. É um documento histórico. É criação e liberdade”. Acredito que devemos exercitar o olhar e mudar o foco de nossas referências, visando a construção de um futuro relevante para a área. E, principalmente, lembrar que a Moda é feita para pessoas. E que tem uma pá de gente diferente nesse mundão.

Até a próxima!