Por Neusa e Silva- Angola/África

A gravidez precoce é um dos dramas que mais comprometem o futuro das adolescentes e o desenvolvimento das sociedades Africanas.

De acordo com um estudo publicado 60% da população Africana é jovem com idades compreendidas entre os 13 e 24 anos.

Em Angola de acordo com  os resultados preliminares do último Censo,  dos 24,3 milhões de habitantes,  11,8 milhões são do sexo masculino (48%) e 12,5 milhões  do sexo feminino (52%). 

Se considerarmos que entre estes  52%  da população feminina está inserida um bom número de adolescentes que diariamente correm sérios riscos de engravidar precocemente, e em consequência disso deixam de estudar, são colocadas fora de casa, abandonadas pela própria família, muitas vezes  entregues aos adultos que criminalmente envolvem-se com as mesmas, devido ao fraco poder financeiro das suas famílias e muitas vezes não encontram por parte da sociedade  a proteção que lhes é devida por Lei… Devemos parar para questionar o seguinte:

– Sendo a mulher a base das famílias e também da sociedade. Que sociedade estamos a construir para daqui a quinze anos?

– Como é possível imaginar o desenvolvimento sustentável sem o potencial destas adolescentes, hoje jovens…mas amanhã serão a força motriz do desenvolvimento do país.

– Que desenvolvimento teremos, se não as capacitamos, não as protegemos, e não responsabilizamos severamente estes adultos que criminalmente envolvem-se com menores… As nossas menores!!!

Adolescência, Puberdade e Sexualidade

 Com a chegada da adolescência chega também um mundo novo por descobrir:

O ser humano começa a sofrer transformações físicas,alterações no comportamento e nos interesses pessoais, isolam-se e juntamente com tudo isso vem a descoberta da sexualidade.

Esse conjunto de mudanças físicas e psicológicas fazem parte de um processo natural que deve ser bem acompanhado simultaneamente, pela família, pela escola, pela igreja e  sociedade se quisermos ver as nossas adolescentes tornarem-se adultos capazes de contribuir ativamente no processo de desenvolvimento do nosso país.

Um caso real

Algumas adolescentes vivem a descoberta da sua sexualidade, literalmente nas ruas.  São mal influenciadas pelas amigas, vizinhos, colegas, internet e nunca por intermédio dos pais ou nas escolas. Em muitas igrejas este assunto ainda continua a ser tabu.

E prova disso mesmo, dou como exemplo a Maria João (nome fictício) que deu entrada em um hospital, com 15 anos grávida acompanhada pela irmã do pai do seu filho.

Questionei-a e a mesma disse que pelo facto do seu pai ser muito severo pô-la fora de casa tão logo soube da sua gravidez. A Mãe por ser doméstica e dependente teve de aceitar a decisão do chefe de família e virar as costas a sua própria filha.

Maria João com apenas 15 anos, parou de estudar e estava agora em casa da família do rapaz, que na altura já beirava os 30 anos.

Disse mais! Que nem sequer sabia que poderia ficar grávida, que a sua mãe nunca tivera conversado com ela sobre o assunto.

Daí ser importante que se reforce a informação sobre como é importante iniciar a vida sexual única e exclusivamente na maior idade e com plena capacidade para responder legalmente pelos próprios atos.

Em conversa com  a Gineco obstetra Dra. A.C (nome fictício) do mesmo  hospital, foi possível conhecer de perto todo o drama por que passam as adolescentes grávidas começando pela rejeição da própria família, o fraco poder de aquisição financeira da família da mesma, a falta de dinheiro para as consultas pré natal, as complicações no parto, o serem encaminhadas tardiamente para os hospitais, algumas automedicam-se  algumas vezes provocando a própria morte a elevada austeridade dos pais, falta de orientação materna são fatores que estão diretamente ligados a maior parte dos casos de adolescentes  grávidas por todo o mundo. 

Soluções

De acordo com a Organização Mundial da Saúde OMS,  a Assembleia Mundial da Saúde aprovou uma resolução incentivando os países a implementar medidas que levem à melhoria da saúde das adolescentes e jovens no mundo. As recomendações têm como objetivo reduzir os casamentos antes de 18 anos, diminuir as gestações entre adolescentes e jovens com menos de 20 anos e aumentar o uso de contracetivos.

A OMS estabeleceu outras metas para reduzir os casos de sexo forçado com crianças, adolescentes e jovens, assim como abortos ilegais e partos precoces.

É preciso que se faça um trabalho de reintegração destas adolescentes no seu novo papel de mãe  tanto nas comunidades em que vivem quanto na sociedade, orienta a OMS.

Esta socialização deve ser realizada, simultaneamente, pela família, pela escola, pela igreja, pela mídia entre outros.

Perguntados a respeito de quem mais os tem ajudado, os pais adolescentes apontam os amigos, quando o assunto for o sexo. O mesmo estudo indica que os pais foram referidos por aproximadamente 20% dos adolescentes como fonte de esclarecimento de dúvidas, independentemente do assunto abordado.

Este artigo é endereçado a si adolescente, para que tenha plena noção do drama de outras adolescentes que não tiveram a sorte de conhecer este testemunho e vivem o drama da gravidez precoce. Lugar de adolescente é na escola.