Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Entenda a origem, o habitat e o estilo de vida desse animalzinho que tem dividido cada vez mais o espaço urbano conosco

Construções a todo vapor e o mundo, de uns séculos pra cá, mal tem espaço para novos empreendimentos nas grandes cidades. Todo esse crescimento, na maioria das vezes desordenado, causou (e ainda causa) um grande impacto na vida animal, pois invadimos seu habitat e os convidamos forçadamente a um novo estilo de vida, perigoso e solitário.

Você já deve ter ouvido falar que a falta de conhecimento é um dos grandes males da sociedade, né?! Pois nessa reportagem, vamos levar o máximo de conhecimento e fofura sobre essa espécie que por anos foi ignorada e confundida com roedores nos grandes centros urbanos.

Ciclo de Vida

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Julinha, gamba filhote criada pelo José Truda. Foto: Arquivo pessoal/José Truda

Nascimento

A primeira característica que faz essa espécie ser tão especial é serem marsupiais, ou seja, assim como o Canguru, o Coala, o Diabo-da-Tasmânia, são catalogadas um total de 250 espécies com esta característica, que nada mais é do que a fêmea apresentar uma bolsa na parte da frente do seu corpo que serve para transportar e proteger seus filhotes até completarem o seu desenvolvimento.

O tempo de gestação varia entre 12 e 14 dias, de acordo com a espécie. Esse processo pode ocorrer até três vezes ao ano e, em cada gestação, podem nascer de 10 a 20 filhotes! Os filhotes de gambá nascem na forma de embrião e pesam em média dois gramas. O desenvolvimento ocorre na bolsa materna da mãe e pode chegar a 70 dias. Possuem hábitos solitários, mas, nessa época do acasalamento, formam casais para reproduzir. Durante o período, o casal constrói um ninho feito de galhos e folhas secas.

Fase Adulta e Características

São animais muito flexíveis e adaptáveis, pois seu habitat natural pertence à floresta, porém conseguiram seguir sua rotina através das paredes de concreto construídas ao longo dos anos.  A alimentação desses bichinhos tão simpáticos consiste em ovos, frutas, vermes, insetos, lagartos, anfíbios e filhotes de pássaros. Dependendo de onde você esteja lendo essa reportagem, o nome pode variar bastante: micurê (Mato Grosso); mucura (Amazônia); saruê (Bahia) e timbú (Ceará e Pernambuco). Sua cor predominante é a cinza escuro, preto ou branco, medem em torno de 40 a 50 cm e podem pesar entre 3kg e 5kg. Seu ciclo de vida pode durar entre 4 e 5 anos.

Rato, eu?!

Conforme já explicamos acima, os gambás nada tem a ver com os temidos ratos. Existem muitos relatos inclusive de pessoas que acompanharam o falecimento dos pais e decidiram assumi-los até sua fase adulta. É importante lembrar que existe um médico veterinário específico para esse tipo de atendimento, são os que possuem especialização em animais silvestres. Este profissional será capaz de avaliar a saúde do animal e acompanhá-lo durante todo o processo.

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Entrevistado José Truda. Foto: Arquivo pessoal/José Truda

O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou José Truda Palazzo Jr., que é ambientalista, ativista (são mais de 40 anos dedicados à defesa do planeta) e diretor do Instituto Brasileiro de Conservação da Natureza – IBRACON, uma instituição sem fins lucrativos, cuja missão é a proteção e recuperação do patrimônio natural, em especial da biodiversidade e dos sistemas ambientais que sustentam a Vida na Terra”.

Instituto Mulheres Jornalistas (MJ): Como saber identificar o gambá?

José Truda: Eles são muito fáceis de identificar, pelas faces marcadas com listras negras sobre um fundo claro, grandes orelhas e uma cauda longa e rosada.

MJ: Eles transmitem alguma zoonose?

José Truda: Não. Ao contrário da errônea crença popular, os gambás são animais muito limpos e, graças ao seu sistema imunológico ímpar, eles raramente se contaminam. Eles não transmitem a hidrofobia (raiva), entre outras coisas, porque sua temperatura corporal é baixa demais para que o vírus dessa doença se desenvolva. Também não transmitem leishmaniose, que necessita de um inseto intermediário para ser passado a humanos, e tampouco doença de Chagas, já que foi constatado que os poucos gambás infectados com o tripanosoma têm o tipo Z2, muito menos perigoso, já que não se adapta facilmente ao organismo humano.

MJ: Como proceder ao encontrar um gambá em casa?

José Truda: O melhor a fazer é apreciar a presença desse nosso “parceiro” no meio urbano, uma das poucas espécies que conseguiu sobreviver à invasão de seu habitat natural pelas pessoas. Se o animalzinho estiver causando algum problema, o que é bastante raro, pode-se chamar a Polícia Ambiental ou autoridade local de meio ambiente para que ele seja realocado. Caso se encontre filhotes órfãos, infelizmente algo comum por conta das agressões criminosas a fêmeas adultas que ficam mais lentas e vulneráveis quando têm filhotes na bolsa, pode-se chamar o Centro de Resgate de Fauna mais próximo ou cuidar dos bebês seguindo a orientação do grupo de resgatistas de gambás do Facebook, disponíveis aqui.

MJ: Como podemos auxiliar na alimentação deles em áreas urbanas?

José Truda: Os gambás se alimentam naturalmente de frutas e pequenos invertebrados ou vertebrados. Quando aparecem em nossas casas, podem ser alimentados com ração de gato ou cachorro e bananas. É preciso tomar muito cuidado para não disponibilizar alimento em um local em que cães ou gatos possam atacá-los!

MJ: Caso ocorra contato com um Pet, eles tendem a apresentar alguma reação agressiva ou fogem assustados?

José Truda: Eles tentam sempre que possível fugir. Por vezes, quando acuados, fazem um comportamento de defesa mostrando os dentes e “rugindo”, mas eles são literalmente indefesos quando atacados por um cão ou gato, pelo que é preciso tentar sempre protegê-los desses encontros.

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Julinha, gamba filhote criada pelo José Truda. Foto: Arquivo pessoal/José Truda

MJ: Qual a espécie de gambá mais comum nas áreas urbanas?

José Truda: Depende da região do Brasil, mas costumamos encontrar no Sul, Sudeste e Nordeste gambás-de-orelha-preta (didelphis aurita) e gambás-de-orelha-branca (Didelphis albiventris).

MJ: Aquela espécie representada pelo personagem nos desenhos em quadrinhos realmente existe? Qual seria?

José Truda: Aquele animal é um CANGAMBÁ ou ZORRILHO, uma espécie totalmente diferente e que não existe nas cidades! O cangambá se defende lançando jatos de um líquido malcheiroso, algo que os gambás não fazem, pois não possuem glândulas de odor. Essa confusão é uma das razões do preconceito contra os gambás, que não são sujos ou malcheirosos!

MJ: Qual a função dele na natureza?

José Truda: Os gambás têm grande importância na natureza E também para a saúde humana, como predadores de espécies peçonhentas (como a cobra-coral e os escorpiões) ou de transmissoras de doenças como baratas e carrapatos. Ajudam a manter o equilíbrio ecológico nos ambientes onde habitam e são animais extremamente úteis às pessoas, por isso mesmo são protegidos por lei e devem ser cuidados e protegidos por todos nós!