Por Luiza Pinheiro-  Rio de Janeiro

Cada religião tem suas peculiaridades e tradições. Datas comemorativas relacionadas a elas normalmente são celebradas de formas distintas e nem todos comemoram a passagem para um novo ano no dia 1º de Janeiro. Isto, porque alguns povos organizam seus calendários de forma diferente do gregoriano.

No islamismo, a passagem de ano corresponde ao mês de maio do calendário que conhecemos; para os judeus, fica por volta do mês de setembro e os chineses celebram essa data entre janeiro e fevereiro. O importante é que sempre há um espírito de comunhão e bem-estar com a finalidade de se tornar uma pessoa ainda melhor a cada ano que passa.

O primeiro povo a celebrar a festa de passagem de ano teria sido o da Mesopotâmia. Eles comemoravam o fim do inverno e início da primavera, quando se iniciava uma nova safra de plantação, já que dependiam da agricultura para sua subsistência.

Essa celebração era realizada do dia 22 para 23 de março, quando se inicia a primavera no Hemisfério Norte. Com a adoção do calendário gregoriano, em 1582, o primeiro dia do ano passou a ser 1º de janeiro. Assim como acontece nas festas de Ano Novo atualmente, as comemorações do passado também representavam esperança para um próximo ciclo melhor.

Já o termo Réveillon, utilizado no mundo todo para identificar essa passagem de ano, surgiu no século XVII na França por causa das festas da nobreza que duravam a noite toda e que eram normalmente realizadas nas vésperas de datas importantes.  Essa palavra vem do verbo francês réveiller, que quer dizer “acordar”. No século XIX, esses eventos foram adotados por nobres de outros lugares do mundo que eram influenciados pela cultura francesa.

O Brasil foi um dos que aderiram ao Réveillon, mas a influência das suas características históricas na cultura do país fez com que fossem adicionados novos personagens, costumes e comidas a essa festa.

Umbanda
Cada passagem de ano da Umbanda depende do centro espírita.  A coordenadora de comunicação Carolina Caldas explicou um pouco sobre como é a experiência no que ela costuma frequentar. “Chegamos na praia por volta das onze horas da noite e nos reunimos para saudar os orixás.

Formamos uma estrela na areia e começamos a cantar pontos de cada orixá: Oxóssi, Beijada, Iansã, Xangô, Iemanjá, Nanã e Preto Velho. Para cada orixá, uma vela da cor que os representa é colocada em volta da estrela. Depois de cantar, jogamos palmas em volta ou rosas brancas. E por fim, decoramos um barco azul com a imagem de iemanjá com bijuterias, espelhos, perfumes, pentes e rosas brancas”.

Ela conta que toda essa preparação é feita antes da meia noite.  “Depois de decorar tudo e cantar os pontos, cada médium “bate cabeça” em frente ao nosso ritual da estrela. Bater cabeça é a forma com que saudamos os orixás, pedimos proteção e rezamos. Meia noite em ponto, vamos até o mar deixar o barco com Iemanjá e ele fica lá boiando na direção do vento”, relata. Carolina explica que geralmente não se usa branco, mas sim a cor que o guia chefe declara ser a do ano. Para 2020, as cores são laranja e verde.

Catolicismo
Na passagem do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro, a Igreja Católica comemora a Solenidade da Santa Mãe de Deus. As roupas brancas, um costume nessa religião, são usadas para representar paz. As pessoas costumam se reunir com suas famílias para festejar juntos a entrada de um novo ano com um olhar de esperança e expectativa para o novo ciclo de graça e benção.

Missas no último dia do ano e no primeiro dia também são realizadas para celebrar. Algumas, às vezes, acontecem bem perto da virada.

Judaísmo
A analista de mídias sociais Alessandra Manela é de família judaica e comemora o Rosh Hashaná. O termo significa cabeça do ano. “Justamente porque é o ano novo, o que está por vir. Ele não cai no mesmo dia que a gente comemora o ano novo tradicional, do dia 31 de dezembro para 1º de janeiro”, ressalta.

Os judeus seguem seu calendário próprio e a virada é celebrada no primeiro dia do mês de Tishrei, que no calendário gregoriano cai normalmente entre agosto e setembro, dependendo do ano. “Cada ano ele cai em uma data diferente no nosso calendário tradicional”, conta ela. Alessandra esclarece que o ano novo judaico é um período de introspecção e reflexão. “É quando a gente pensa no que fez de errado e obviamente como podemos melhorar no ano que está por vir”.

Ela completa: “Também pedimos para Deus para ser escrito no Livro da Vida. É uma forma de pedir uma benção para Deus no ano novo. Então é um momento de pedir coisas, mas também de auto-reflexão”. Normalmente no dia do Rosh Hashaná, as famílias se reúnem e se realiza um jantar com rezas, o Sêder, uma espécie de ritual festivo no qual se lê, bebe vinho, conta histórias, canta e se come alimentos especiais. “A religião diz que o chefe da família é quem normalmente lê o Sêder, tanto na nossa “páscoa judaica” como no Rosh Hashaná.

E, claro, tem algumas rezas específicas que outros membros da família leem. Eles vão lendo as rezas do Sêder, que é o ritual, e comendo determinadas comidas típicas. A maçã com mel, por exemplo, é uma delas e é uma forma de simbolizar um próximo ano bom e ‘saboroso’”, explica. Entre outros pratos da ceia estão peixes e carnes ensopadas. Em algumas tradições dessa religião, frutas são embaladas para que as pessoas não saibam o que estão comendo, o que simboliza as surpresas que podem estar por vir. As festividades judaicas mais tradicionais têm sempre comidas típicas e representam alguma coisa referente à história ou algo que se quer daquele momento em diante.

Hare Krishna
Nessa religião, o Ano Novo é comemorado no dia marcado como aparecimento de Krishna na Terra há mais de 500 anos. Ele lutou contra as castas e possibilitou a distribuição do conhecimento religioso para todos. Os admiradores de Krishna têm uma celebração simbólica estabelecida pelas fases da lua.

A comemoração nem sempre ocorre na mesma data, já que muda segundo o período em que ocorre a lua cheia. Essa festa da cultura Hare Krishna se chama Festival de Gaura Purnima, ou seja, Festival da Lua Dourada. O ritual de ano novo começa com o banhar da santidade, que fica em um altar do templo.

Após isso, os devotos cantam e dançam o mantra de adoração. Com a prática terminada, é servido um banquete com 108 pratos entre salgados e doces.