Nem todo Herói veste capa – Parte 1
Por Giselle Cunha, Rio de Janeiro
giselle.cunha@mulheresjornalistas.com
Chefe de Reportagem: Juliana Mônaco, Jornalista
Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista
Conheça a trajetória de cães policiais desde a sua escolha, ainda filhote, até a aposentadoria
Você já sabe que as habilidades caninas vão muito além de rolar e brincar, certo? Uma parte desses animais é selecionada para prestar serviços como cão guia, TAA(Terapia Assistida por Animais),entre outras funções que são de suma importância para a população. Preparamos uma reportagem para falar sobre cães que são autoridade de verdade, aqueles que auxiliam no combate ao tráfico de drogas, na prisão de criminosos e na organização de multidões. Estamos falando dos cães policiais!
Desde a idade média, os cães são usados para aplicação das leis, mas somente no século vinte, em Londres, que começaram a prestar serviços policiais para rastrear e capturar criminosos. O famosocaso do serial killer Jack, o estripador, por exemplo, contou com a participação de cães da raça bloodhounds para rastrearas cenas deseus crimes.
O GOC (Grupamento de Operações com Cães) existe desde 2008 e tem sua sede no Complexo Penitenciário de Gericinó, zona oeste do Rio de Janeiro. Os cães são administrados pela Seap (Secretaria de Estado de Administração Penitenciária) e têm ajudado agentes penitenciáriosde todo o estado, inclusive batendo recorde de apreensões em 2019.
A inteligência, a lealdade, a agilidade e o olfato apurado desta espécie os permitem achar pessoas desaparecidas, proteger seu parceiro de trabalho, fazer a contenção durante o processo de transferência dos detentos, identificar celulares, drogas, armas e outros itens ilícitos. Além de permitir que a polícia consiga alcançar um maior número de lugares, também atuam junto ao Grupamento de Intervenções Táticas (GIT) quando ocorrem rebeliões ou resgate com reféns.
O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou Paolo Cancella Lobato, Policial Penal e integrante do GOC RJ (Grupamento de Operações com Cães) para conhecermos como funcionam as etapas na vida do cão policial.
Mulheres Jornalistas (MJ): Quais características são observadas para que o filhote seja selecionado para o treinamento?
Paolo Lobato: Os cães de trabalho atuam em diversas funções, sendo assim, para cada caso, observamos os diferentes aspectos.Por exemplo:
- A) Cão de faro filhote: o animal deve apresentar um drive de caça alto (vontade de brincar, buscar algo, interagir com o condutor etc), além de demonstrar determinação e persistência em realizar tarefas. Será observado também de qual de forma natural o cão utiliza a exploração de ambientes, verificando assim se utiliza bem o faro. Outro fator importante é a segurança em diferentes terrenos, barulhos e movimentações. Visto que esse animal vai trabalhar em diversas situações, ele precisa ser sociável e livre de traumas ou inseguranças.
- B) Cão de Contenção e intervenção: deve-se observar todos os fatores iniciais do cão de faro, mais o espírito de luta deve ser bem alto. Precisa haver pré-disposição física para sustentar longos períodos de ação em ambientes extremos e expostos aos fatores climáticos, como o calor, e aptidão à mordida.
MJ: Qual o período de treinamento necessário até que o animal esteja apto ao serviço?
Paolo Lobato: O período médio para que um filhote comece a trabalhar pode variar entre 14 a 18 meses de treino.Porém, no decorrer de sua vida profissional, o animal vai aperfeiçoar e amadurecer os aprendizados que sempre serão treinados e reforçados.
MJ: Ainda existe preferência por algumas raças para tal função? Porquê?
Paolo Lobato: Existem raças que já trazem muito das aptidões necessárias para realização do trabalho policial, sendo assim é mais comum que as unidades que utilizam cães de trabalho optem por escolher atuar com essas. Alguns exemplos são o pastor belga malinois, o pastor alemão, o rotwailler etc.
MJ: Como é a alimentação desses cães?
Paolo Lobato: A alimentação e feita coma ração super premium. Os horários podem variar de acordo com a necessidade de cada grupamento, visto que o cão, depois de alimentado, precisará passar por um período de descanso para que a digestão seja feita de forma saudável pelo organismo. Caso esse período não seja respeitado, o animal pode sofrer a chamada torção gástrica. No nosso grupamento, a alimentação é feita no período noturno e a quantidade é balanceada por um médico veterinário.
MJ: O mesmo cão que recebe treinamento para contenção de multidões, por exemplo, é o que participa de operações antibombas ou são equipes distintas?
Paolo Lobato: Os cães que operam no trabalho de antibombas são exclusivos para essa função, não participando de outras atrações, já que esse trabalho é distinto dos outros e requer cuidados e processos especiais.
MJ: Qual a idade média para a aposentadoria deles e o que acontece nesse período?
Paolo Lobato: A Idade média para a aposentadoria delesé em torno de 7 a 8 anos. Após esse período, o cão é retirado das atividadese passa a ficar disponível para adoção.