Giselle Cunha, Jornalista -SP

giselle.cunha@mulheresjornalistas.com

Chefe de Reportagem: Juliana Mônaco, Jornalista

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Como procedimentos realizados por estética podem prejudicar a saúde e o bem-estar dos pets

É comum conhecermos cães das raças pitbull, american bully, boxer e dogue alemão com aquele formato de orelha mais curta e pontuda, assim como, frequentemente, os cães das raças cocker spaniel, pinsher, poodle, yorkshire, rottweiller e doberman são vistos com o formato do rabinho mais curto que o normal.

Saiba que esses procedimentos e outros que vamos citar nesta reportagem são proibidos por lei. Tanto o criador quanto o médico veterinário que for pego executando esse tipo de procedimento terá que responder por crime ambiental, e o profissional ainda estará sujeito a processo ético-disciplinar, conforme prevê o Código de Ética e a resolução do CFMV de combate aos maus-tratos (1.236/2018).

Em fevereiro de 2008, foi aprovada uma medida proibitiva (CFMV 877/2008) que cita diversas cirurgias do gênero. Já em maio de 2013, o Conselho Federal de Medicina Veterinária passou a atribuir como crime tais procedimentos (CFMV 1027/2013).

Art. 1° “São considerados procedimentos proibidos na prática médico-veterinária: caudectomia, conchectomia e cordectomia em cães e onicectomia em felinos.”

Esse processo de mutilação impossibilita o animal de executar suas expressões faciais e sua linguagem corporal em si, além de acarretar uma série de problemas físicos e psicológicos. Vale ressaltar que, quando há um pequeno corte na ponta da orelha esquerda em gatos de rua, significa que eles foram castrados dentro de um programa específico e permitido pela legislação. A função desse corte é facilitar a identificação dos gatos que já passaram pelo procedimento. Todo o processo é realizado durante a própria cirurgia de castração, com anestesia e toda a assistência necessária para o animal.

Conheça os tipos de mutilações mais comuns:

  • Conchectomia (corte que proporciona o levantar da orelha do cão para que fique constantemente na posição de alerta)
  • Caudectomia (retirada de parte da cauda do animal)
  • Onicectomia (retirada das unhas de gatos para não arranhar os móveis, por exemplo)
  • Cordectomia (corte das cordas vocais do cachorro, para diminuir o barulho de latidos)

A dra. Maira Formenton, membro da diretoria da ANFIVET (Associação Nacional Fisioterapia Veterinária), sócia proprietária e diretora do Centro de Fisioterapia Veterinária Fisioanimal, que atua em São Paula há mais de 10 anos, nos explica como tais intervenções cirúrgicas afetam os pets.

Mulheres Jornalistas (MJ): Quais as consequências que o animal pode sofrer com a cirurgia de corte da orelha (Conchectomia)?

Maira Formenton: A orelha é uma proteção do animal. Através deste formato mais aberto, ele tem uma maior receptividade de sons, se torna mais exposto a fungos, bactérias e outras coisas que ficam no ar e acabam aderindo com mais facilidade à parte interna do ouvido que, em regra, seria protegido pela orelha.

Além disso, toda a parte da lesão que foi feita pela cirurgia para a retirada da cartilagem pode gerar aderências no tecido que levam a dores crônicas. É um procedimento muito invasivo e realmente não é recomendado.

MJ: Sabemos que o rabo é uma parte do corpo que permite ao animal expressar diversos sentimentos. Quais as consequências psicológicas e fisiológicas pós cirurgia de Caudectomia?

Maira Formenton: A retirada da cauda é algo ainda mais sério, pois além dessa função de comunicação social entre eles, ela auxilia na função biomecânica. Quando o animal corre, a cauda faz o balanço entre o corpo e a cabeça. Ela participa de todo o movimento da coluna e dos membros como um balanço e um contra peso que auxilia o animal a fazer curvas e se deslocar durante movimentos rápidos de corrida. A consequência biomecânica ocorre porque ele acaba tendo que compensar essa perda com outras partes do corpo.

A amputação da cauda, quando feita de forma inadequada – exceto casos quando ocorre realmente algum problema de doença em que todo o procedimento é realizado por um profissional qualificado e com os métodos necessários – pode gerar um problema chamado dor neuropática (conhecida como a dor do membro fantasma). Anos depois, o animal pode desenvolver uma dor no local e, muitas vezes, ele acaba se automutilando, arrancando pedaços do coto da cauda ou da própria pele, pois de fato é uma dor muito intensa, às vezes sendo necessário tratá-la com medicamentos para o resto da vida. Na maioria das vezes, esse procedimento em canis é realizado pelos próprios criadores, sem anestesia e o atendimento necessário, o que se caracteriza como maus tratos.

MJ: Existe a possibilidade do animal se recuperar através de fisioterapia?

Maira Formenton: Principalmente os animais que desenvolvem essas dores neuropáticas costumamos intervir com medicação associada a terapias como acupuntura, ozonioterapia, laser terapia e eletroterapia, que auxiliam no alívio das dores. É importante recondicionar o animal e tratar a dor associada às terapias.

Foto: Acervo pessoal/Dra Maira Formenton

 

Leia mais: