Por Ana Luiza Timm Soares, jornalista

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Já há algum tempo o universo da Moda vêm investindo em diversidade, seja nos desfiles ou editoriais fotográficos. Corpos antes negligenciados pelas grandes maisons finalmente parecem ser incluídos neste meio em que, por muito tempo, reinou a ditadura da magreza e da jovialidade. Modelos plus size, pluralidade étnica e diferentes faixas etárias desfilam pela passarela das aclamadas fashion weeks mundo afora.

Mas será que a indústria da confecção está acompanhando essas mudanças? As marcas estão REALMENTE interessadas em suprir a demanda destes consumidores ou apenas apresentam um discurso politicamente correto sem reverberações práticas?

Pois vamos fazer um teste. Dê uma olhadinha no seu armário. Quantos números de manequim diferentes você vê aí? Por aqui do PP ao G, e todos servem. Calças, nem se fala. Vão do nº 38 ao 42. Aí me pergunto: como aquela amiga petit conseguiria usar esse PP? E a outra que veste GG, está sendo contemplada?

É sabido que na indústria do vestuário brasileira não há a obrigatoriedade de seguir um padrão de medidas, o que causa a maior confusão na hora de escolher um vestido para a festeeenha do fim de semana – quando pudermos ter aglomeração, é claro. Nas compras online a dor de cabeça tende a se tornar ainda maior.

Não há unanimidade sequer nos livros de modelagem. Para teres uma ideia, pesquisas apontam que há diferenças de até 4 cm na circunferência total do corpo (seja no busto, cintura ou quadril) de uma obra para outra. Mas para além de questões acadêmicas e incômodos na hora de solicitar o tamanho aos vendedores, o que mais isso significa?

Bem, como cada marca tem a liberdade de seguir a própria tabela de acordo com o público-alvo que deseja alcançar, uma calça jeans nº 50 pode sequer passar no quadril de quem veste tal numeração. Por trás de uma grade aparentemente democrática, um expressivo número de pessoas acaba excluído do sistema da Moda. E aqui estou sendo otimista, pois a maioria das empresas atuantes no mercado nacional nem mesmo fabrica peças acima do manequim 48.

É claro que não podemos jogar na lata do lixo as mudanças que o vento vêm soprando, muitas delas demandadas por uma geração questionadora e que não se sujeita mais aos caprichos da indústria. Algumas marcas já estão ampliando suas grades de tamanho e investindo em modelagens que, de fato, contemplam o biótipo a que se destinam. Mas precisamos continuar atentos, fortes e seguir cobrando um posicionamento efetivo do setor.

Chica Bolacha Inverno/2021. Foto: Reprodução/Chica Bolacha

Além disso, é necessário valorizar essas iniciativas consumindo marcas que se preocupam verdadeiramente em produzir peças de qualidade e para distintos públicos. A gaúcha Chica Bolacha investiu em uma grade ampliada e atende até o manequim 6G. Já a Index Denim alcançou as mulheres petit fabricando jeans no tamanho 32, enquanto a maioria das empresas presentes no mercado inicia a numeração adulta no nº 34.

 

Versace Verão/2021. Foto: Divulgação/Desfile Verão 2021

Lembrando que sempre podemos contar com aquela costureira maravilhosa do bairro, seja para produzir uma peça totalmente sob medida para o nosso corpo ou para fazer ajustes naquela calça que a gente AMOU ao experimentar na loja, mas que fica certinha no quadril, porém larga na cintura…

Ah, e nunca, JAMAIS compre uma roupa com um tamanho menor (mesmo que em tese seja o seu) pensando em um corpo futuro, hipotético e “ideal”. A vida é muito curta para gastar seu suado dinheirinho em outra versão de você mesma. Permita esse carinho para o “eu” do presente. Tenho a mais absoluta certeza de que ele merece.

Este é o texto que inaugura minha participação no Mulheres Jornalistas – obrigada pelo convite meninas! – e gostaria muito de um feedback nos comentários. O que vocês acham deste tema? E o que mais gostariam de ver por aqui?

Abraços e até a próxima!