Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha 

daniele.haller@mulheresjornalistas.com 

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista 

Como a mídia administra dois contrapontos enquanto o país ainda atravessa a pandemia sem previsões para acabar, mas buscando retornar gradualmente a economia.

Desde março de 2020, as redações já não são mais as mesmas. De repente, os jornalistas tiveram sobre seus ombros a responsabilidade de levar informações sobre um vírus, uma doença a qual ninguém, nem mesmo os cientistas poderiam esclarecer com todas as propriedades e conhecimento. Cientistas, médicos, infectologistas, pesquisadores, essas eram as principais fontes que iriam abastecer as inúmeras entrevistas e conteúdos em busca de entender o que estava acontecendo, situação que perdura até hoje. De uma hora para outra, todas as editorias tiveram que se adaptar a um único tema; Covid-19, mas um dos maiores desafios seria administrar a pior crise sanitária do mundo de forma responsável e ética.

Com a facilidade de acesso às informações nos dias de hoje, as notícias nascem, chegam e envelhecem numa enorme velocidade, com uma ferramenta simples que está à disposição de uma grande parte da população: a internet. A disseminação do uso das mídias sociais para buscar informações tem crescido muito, mesmo antes da pandemia e, com a chegada do vírus, esse foi praticamente o meio mais usado e rápido onde as pessoas buscam se informar sobre as últimas atualizações. A mídia teria uma grande aliada na hora de disseminar informações importantes sobre a Covid-19, no entanto, como administrar tais notícias que são compartilhadas rapidamente nas redes, sem causar um impacto negativo?

Esse pode ser um desafio para a imprensa durante a pandemia, especialmente em um momento onde o Brasil, assim como outros países, inicia uma fase de flexibilização das medidas sanitárias de prevenção ao vírus. Aos poucos, a gastronomia, comércio e entretenimento voltam à uma certa normalidade, mas dentro de limitações, como capacidade e medidas de isolamento, e a imprensa tem agora o papel de levar essas informações ao público, mas com a cautela de reforçar a necessidade de ainda ficarmos em casa, ou seja, usufruir dessas flexibilizações com responsabilidade e mantendo ainda os mínimos cuidados para evitar a proliferação do vírus. Infelizmente, muitos ainda ignoram os riscos e passam a adotar as flexibilizações de forma inadequada. Confusão de informações ou falta de consciência da população?

O Brasil ainda registra, diariamente, mais de duas mil mortes por Covid-19, chegando a quase 480 mil mortes desde o início da pandemia. Apesar de um número ainda alto, uma comparação às médias das duas últimas semanas mostra uma estabilidade no número de mortes, que pode ter sofrido um aumento após o último feriado. Apesar desses números, governos dos estados brasileiros têm mantido a flexibilização com relação à algumas atividades e, inclusive, aumentando o tempo de funcionamento do comércio e restaurantes, proporcionando um retorno econômico para esses setores.

Entre a “cruz e a espada” a mídia tem o papel de divulgar todas essas informações sem causar confusão na população, afinal, se tudo está abrindo novamente, por que devemos ficar em casa? A resposta é simples e óbvia; o vírus ainda está aí. Mesmo com o avanço da vacinação, mesmo com a reabertura do comércio, mesmo com o número de morte estabilizando, é necessário conscientizar as pessoas sobre a importância de manter o isolamento. Mas como manter o equilíbrio entre essas duas informações através da mídia?

Débora Brito- Jornalista

Débora Brito é jornalista, radialista da Jovem Pan News de Fortaleza, e contou ao Instituto Mulheres Jornalistas como tem sido trabalhar essas informações durante a pandemia.

MJ- Com a flexibilização das medidas de prevenção ao vírus, a mídia tem o papel de anunciar as decisões tomadas pelos governos, como a reabertura de restaurantes e comércio, mas ainda precisa reafirmar a necessidade de ficarmos em casa. Como tem sido lidar com essa situação?

Débora Brito- A economia gradual vem abrindo aos poucos, e a gente vem acompanhando cada etapa, tentamos equilibrar, levar a informação da reabertura do comércio, de restaurantes, mostrar que a economia está voltando aos poucos, até porque ciência e economia têm que andar lado a lado, mas todos os dias, a gente também informa sobre a necessidade, por meio de entrevistas com especialistas, infectologistas, falando que há necessidade ainda do isolamento social ser respeitado, mesmo com as pessoas já sendo vacinadas. A necessidade do uso das máscaras e que, aos poucos, tudo vai retornando ao normal, mas com responsabilidade. Esse é o nosso papel de informar os dois lados, em relação à economia que vai avançando, e em relação à necessidade de ainda respeitar essa questão do isolamento social, e o uso das máscaras, em respeito às medidas sanitárias.

MJ- Você acredita que a população pode se sentir confusa com isso? A imprensa anunciar o reinício de algumas atividades, mesmo assim recomendar que as pessoas ainda fiquem em casa? Ou que alguns utilizam essas informações da mídia

como desculpa para realizarem atividades de forma indevida?

Débora Brito- A economia está abrindo de forma gradual, não de uma forma ampla, então, por exemplo, restaurantes, bares e shoppings abrem, mas em horários específicos, com uma capacidade determinada, limite de pessoas por mesa, a proibição de filas de espera em espaços externos de bares e restaurantes. Ao mesmo tempo, as pessoas têm que entender que é um contraponto que tem que ser feito com muito equilíbrio, com uma forma delas entenderem que devem sair para o essencial, que o essencial está disponível, mas com uma limitação e que deve ser respeitada, para que aos poucos, tudo volte ao normal. Infelizmente, existem pessoas que veem isso como uma desculpa, mas, por outro lado, as fiscalizações dos órgãos competentes são realizadas sempre, constantemente, semanalmente, principalmente às segundas-feiras segue um balanço de como foram realizadas essas fiscalizações durante o fim de semana. Infelizmente, ainda existe um alto número de pessoas que, por exemplo, durante o fim de semana, desrespeitam as regras sanitárias com a realização de festas, aglomeração de pessoas, desrespeitando as medidas sanitárias e em eventos ilegais.

MJ- Chegam até você ou enviam para seu programa, dúvidas a respeito disso? Sobre poder ou não sair, o que pode ou não pode fazer?

Débora Brito- Hoje, os veículos de comunicação são amplos, você tem acesso ao impresso, ao rádio, Tv , diversas mídias que informam, e o rádio é muito dinâmico nessa questão. Hoje, você acompanha o rádio pelo youtube, por exemplo, pelo canal da Jovem Pan News Fortaleza, você acompanha pelo rádio da forma tradicional e dentre outros veículos de comunicação que as pessoas têm acesso todos os dias. E as informações chegam de uma maneira muito rápida, muito ágil, eu costumo dizer até, acho isso muito salutar, que a população, as pessoas muitas vezes nos pautam, elas mandam vídeos, fotos mostrando ônibus lotados, mostram pessoas se aglomerando em festas e realizam fiscalizações e denunciam. Então, acho que as pessoas estão muito bem informadas e muitas vezes elas nos passam as demandas. A gente vê que tem uma parceria da sociedade em relação ao combate ao novo Corona vírus. Combate à pandemia para que tudo isso acabe.

MJ- Como jornalista, como você acredita que a imprensa pode trabalhar com essas informações de flexibilização e conscientizar o público sobre a necessidade de ainda manter os cuidados?

Débora Brito- Eu acredito sim que a imprensa pode trabalhar com todas essas informações de flexibilização, a vida que aos poucos vai voltando ao normal, economia que volta a acelerar e, por outro lado, conscientizar o público sobre a necessidade de ainda manter os cuidados. É algo novo, as cepas ainda circulam pelo Brasil, por todo mundo, e é uma doença desconhecida. O que a gente tem que fazer é seguir etapas, informar a população aos poucos sobre o que vai abrindo, voltando ao normal, informar os tipos de vacinas que chegam à nossa disposição, ir colocando todas as informações em relação a isso, pontos de vacinação, etc. Também reforçando que os cuidados existem, a vacina não imuniza 100% as pessoas, e como eu falei antes, é uma doença nova, a gente está lidando com o invisível, com o inesperado.

MJ- A responsabilidade de trabalhar na divulgação de informações necessárias e tão importantes durante a pandemia, tem deixado os profissionais de imprensa sob uma pressão maior?

Débora Brito- Nós estamos acompanhando desde o início de tudo, quando eu falo aqui, me refiro a nível Brasil. Acompanhamos o primeiro caso no Brasil, a gente acompanhou o primeiro caso no estado do Ceará, que foi no município de Sobral. Acompanhamos, infelizmente, a primeira morte e tantos outros números que foram surgindo no decorrer da pandemia. Empresas que estavam fechando, novos negócios que estavam abrindo, porque, de fato, a gente pensa que não, mas teve um lado positivo porque empresas surgiram em outros formatos, pessoas se reinventaram, pessoas até se reaproximaram e a gente teve que lidar com a parte boa de informar,  mas com a parte negativa também, é claro. E durante a pandemia, os profissionais, pelo menos os colegas próximos, e posso falar por mim também, senti uma pressão muito grande, porque casos chegavam próximos a nós, colegas de trabalho, não apenas um, por exemplo, no meu caso, dois colegas que eu via todos os dias no meu trabalho e foram acometidos pela doença. A gente, claro, tem um momento que fica mais sensível, mas infelizmente tem que informar, como eu tive que informar o falecimento desses meus colegas, mas é a vida que segue, a gente está passando por um momento inesperado, não tem classe social, não tem credo, não tem classe econômica, não tem raça. É no Brasil , é na américa latina, nos EUA, na Europa, em todo lugar . Estamos nos equiparando, nos tornando iguais perante essa pandemia.