Luiza Esteves, Repórter RJ
Mais de 5 milhões de livros são vendidos na Bienal do Rio
A Bienal do Livro desse ano conseguiu atingir o número de 5 milhões de livros vendidos. De 30 de agosto a 08 de setembro o Rio Centro, localizado na Barra da Tijuca da Zona Oeste do Rio, foi palco de palestras, expositores, estantes das editoras, apresentações artísticas e oficinas.
O evento que tem como objetivo estimular a cultura e a educação contou com 300 autores e 520 expositores. O espaço foi dividido em 3 pavilhões, no primeiro deles ficou localizada a Arena #SemFiltro, que se tratava de um espaço destinado ao debate de temas voltados para a juventude. Nomes como Luis Fernando Veríssimo, Thalita Rebouças, Gregório Duvivier e Xico Sá participaram da roda de conversa.
O segundo pavilhão era um dos mais lotados por contar com diversos best-sellers e com muitos livros em promoção, alguns deves chegavam a 10 reais. Já o último pavilhão era mais dedicado ao público infantil, com atrações interativas e apresentações artísticas. O volume de visitantes era tão grande que haviam filas apenas para entrar nas estantes das editoras. O tempo de espera para comprar um livro era em média de 1h pelo menos.
Os livros que se encontravam na Bienal eram de temáticas bem variadas e alguns deles se tratavam do universo LBGTQ+, como acontecia em toda a edição da feira. Contudo, pela primeira vez na história da Bienal fiscais da prefeitura foram até o local para recolher exemplares que remetessem a essa temática.
No dia 5 de setembro, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, determinou a apreensão de livros LBGTQ+, como a história em quadrinhos da Marvel chamada “Vingadores, a cruzada das crianças” por conter a imagem de um beijo entre dois personagens masculinos.
Em entrevista ao RJ TV, o subsecretário de operações da secretaria de ordem pública, Wolney Dias se pronunciou. “Nós viemos fazer uma vistoria desse possível material pornográfico. Se ele não estiver seguindo as recomendações de estar lacrado e com a orientação quanto ao conteúdo nós vamos apreender esse material. Foi a orientação que a Procuradoria da Prefeitura nos passou”, comenta o subsecretário.
Em um vídeo publicado por Marcelo Crivella nas redes sócias ele comenta sobre o caso e defende a medida. “Não foi censura, nem tão pouco homofobia. O que a prefeitura fez foi cumprir a Lei do Estatuto da Criança e do Adolescente, que impõe embalagem específica para esse tipo de publicação”, afirma o prefeito.
A medida mobilizou o público, diversos artistas e influenciadores digitais, dentre eles o youtuber Felipe Neto. Em resposta ao ato do prefeito, o influenciador comprou 14 mil exemplares com temáticas LBGTQ+ e os distribuiu gratuitamente para visitantes da feira. Os livros foram embalados em cor preta e continham um adesivo com a frase: “Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”.
A atitude de Felipe Neto ganhou muita repercussão e o público da Bienal apoiou a causa. Já na manhã do dia 8 de setembro, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu ao STF que a Bienal funcione sem o risco de “censura genérica” de Crivella. Além disso, a organização da Bienal entrou com um recurso no supremo e o ministro Gilmar Mendes analisou o caso. “Não cabe ao Estado, por qualquer dos seus órgãos, definir previamente o que pode ou o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas”, afirma.
No dia 8 de setembro, após a liberação da venda dos livros, todos os exemplares da revista em quadrinhos se esgotaram em pouco mais de meia hora. A presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB-RJ, Silvana Moreira afirma que a prefeitura não tem o poder de busca e apreensão, esse poder é estritamente do judiciário.
Segundo a Constituição Federal, no artigo quinto e inciso quatro garante que: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”. E no inciso nove diz: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença”.