Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha

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Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Com a chegada da pandemia, as empresas que já disponibilizavam lojas virtuais, puderam de imediato continuar suas vendas, mas aqueles que ainda resistiam entrar no mundo digital, precisaram correr contra ao tempo para se adaptarem à uma nova forma de vendas: o e-Commerce ou comércio eletrônico.

Com o isolamento e as medidas de prevenção contra a Covid-19, ir ao shopping, ao centro da cidade ou às feirinhas para realizar compras se tornou uma realidade impossível, fazendo com que os setores de varejo e atacado precisassem se reinventar para conseguir sobreviver.

As vendas online começaram a se expandir pelo Brasil com maior velocidade que nos anos anteriores. Segundo dados de índices divulgados pelo MCC-ENET, parceria formada entre o Compre & Confie e a camara-e.net, o País registrou, em dezembro de 2020, uma alta de 53,83% em comparação ao mesmo período no ano passado. Ainda na mesma época, houve um aumento no faturamento de 55,74%. Já em janeiro de 2021, o índice de faturamento alcançou 61,82%.

Imagem: https://www.mccenet.com.br/indice-de-vendas-online

Cada vez mais, o brasileiro vai perdendo o medo de comprar via online e se adapta às vantagens da prática, como o conforto na hora de comprar, entrega em casa e as possibilidades de trocas ou devolução, oferecidos também nas lojas físicas. Com esses novos hábitos, empresas como Mercado Livre e Amazon, investiram cada vez mais na otimização dos serviços online e na expansão logística, aumentando seus centros de distribuição.

A variedade de oferta de produtos e serviços na internet pode ser inumerável, venda de eletrônicos, roupas, sapatos, móveis, alimentos, material de construção, enfim, tudo que o consumidor precisa, mas tem algo que é importante na hora de manter o cliente fiel; uma boa administração das redes e plataformas de venda, também um atendimento ao cliente eficaz.

Além das grandes marcas de varejo e atacado, existe um outro setor que tem se adaptado ao comércio eletrônico , o micro e médio empreendedor que precisou parar as suas vendas diretamente com os clientes e migrar para o meio online. Para quem já trabalhava com o comércio eletrônico antes da pandemia, não foi problema algum, no entanto, outros tiveram que disponibilizar seus produtos o mais rápido possível no meio digital e garantir suas vendas.

O aumento da demanda na procura de entrar no meio digital acabou refletindo positivamente em um setor profissional, os Web Designer ou desenvolvedores de sites. A jornalista Daniele Haller, do Instituto Mulheres Jornalistas, conversou com Everlin Piccinini, PhD em Web Designer, estrategista digital e proprietária da “Yfutur Design”, trazendo temas importantes dentro do e-commerce e como a pandemia acelerou esse setor.

MJ- Com a pandemia, vários negócios que ainda não utilizavam o meio digital tiverem que se adaptar para continuarem suas vendas online. Você, como profissional de desenvolvimento de Websites, sentiu o aumento na busca de pedidos para criação de novos sites para empresas?

Everlin Piccinini- Sim, notei. Muita gente veio me procurar, logo que iniciou a pandemia, por estarem parados, dizendo “ Olha, agora meu negócio está parado eu estou pensando em rever a minha presença online. Estou pensando em como posso vender produtos”. Pessoas até de empresas pequenas, no âmbito de salão de beleza, que trabalhava simplesmente com corte e venda de produtos locais, começou a pensar “Poxa, agora que estou parada, poderia estar vendendo produtos que eu recomendo no salão, eu poderia estar vendendo online”. A pandemia mostrou que é muito importante ter um plano B, eu acho que isso foi o que as pessoas notaram. Teve um aumento muito grande de pessoas que me procuraram, na verdade, eu sozinha nem consegui dar conta. É muito interessante essa questão de adaptar seu negócio por uma questão de sobrevivência do empreendimento, para ter uma alternativa. Claro que a pandemia acelerou muito esse processo, mas acredito que as pessoas já estavam encarando o digital como importante. Muitos me procuraram porque o meio digital passou a ser necessário, passou a ser a única alternativa que as pessoas tinham para vender produtos ou para continuar o negócio. Então, o aumento através da pandemia, para mim, foi visível.

Everlin Piccinini – Web Designer

MJ- Qual a importância de um empreendimento manter uma via online de vendas, em especial durante a pandemia?

Everlin Piccinini- É super importante! Em quase um ano e meio com muitas empresas fechadas, setores como turismo e gastronomia foram fortemente afetados e buscam alternativas. A gastronomia está encontrando novas formas de sobreviver através de vendas online, seja com parcerias ou utilizando formas para realizar entregas, porque é isso que os restaurantes podem fazer hoje, entregar, fazer o delivery. Muita gente, inclusive, está abrindo negócios na área da gastronomia para fazer entregas e precisava de um site online. Eu estou com um projeto novo que é muito interessante, também na área de gastronômica, e que a venda é toda feita através do site. Eles não têm um restaurante físico,   apenas um local com cozinha para fazer os produtos que estão vendendo, mas todo o serviço acontece pelo e-commerce. Então, acredito que ter uma via online de vendas é essencial para vários negócios, mesmo negócios que não se pensava  ser possível estão vendo o mundo online realmente como plano B, senão , até como plano A, às vezes.  Tenho notado isso nas conversas diárias com as pessoas, muitas que deixaram de trabalhar e estão se reinventando, e o caminho que dá mais possibilidades é o online, onde as pessoas conseguem ser mais alcançadas,  onde, hoje, está sendo feita muita troca, está sendo feito muito comércio, muitas vendas online.

MJ- Por sua experiência, você acredita que ainda existia uma resistência para alguns empreendedores investirem em um canal digital e a pandemia acabou acelerando esse passo?

Everlin Piccinini- Sim, mas depende muito da área. Por exemplo, muitos restaurantes que não faziam entregas antes e que estavam muito bem na loja física, não viam necessidade de ter um site, de vender através da internet, de fazer entregas, vender cupons, vale-presente. Então,  acho que era uma coisa que não se fazia necessária para eles, por terem sobrevivido tanto tempo, era algo que não se fazia necessário, por ter dado certo mesmo sem as questões do digital, mas a pandemia, com certeza, deu uma reviravolta nesse pensamento, por não existir outra opção a não ser contar com o meio online. Por exemplo, existem plataformas onde você pode registrar seu restaurante e terceirizar as entregas, onde eles se responsabilizam pela coleta da comida até a entrega ao consumidor final. Mesmo as pessoas que têm resistência a fazer o próprio e-commerce, elas têm apelado para parcerias desse tipo de plataforma para continuar vendendo, para continuar faturando. Então, nesse sentido, acho que mesmo quem teve resistência para entrar no mundo online, mesmo por não ter visto a necessidade até o momento, mudou a forma de ver, porque a pandemia virou esses negócios de cabeça para baixo. Por outro lado, os que estavam dependendo só do mundo digital tiveram um boom. Posso falar pelo meu próprio negócio, que acabou crescendo muito mais do que eu esperava, por causa dessa demanda de vários setores que estão mais preocupados com esse posicionamento digital, no geral, não só no caso do e-commerce, mas do posicionamento online como um todo.

MJ- Quais os medos mais citados por aqueles que ainda resistem em entrar na era digital, ou seja, no E-Commerce?

Everlin Piccinini- A preocupação maior que escuto agora, pontualmente sobre e-commerce, é se é seguro. Eles querem um profissional que tenha certeza, que os ajudem entrar no mundo digital com segurança, além da questão do funcionamento do pagamento. Outro ponto que também preocupa muito é sobre como vão ser feitas as entregas, sobre o trabalho em parceria com os correios, pois isso  é uma questão desconhecida por muitos, é uma questão também burocrática.  A pessoa precisa se informar um pouco, por exemplo, vamos voltar lá para o salão de beleza, se ela vai vender shampoo, produtos de beleza, tem que saber quanto pesa o produto, o tamanho da caixa, para saber o custo que isso vai agregar para ela na hora de enviar o produto por correio. Também a questão de fazer tudo legalmente correto, quer dizer, na hora que você está mostrando seus produtos online e está coletando dados de clientes, quando eles preenchem um formulário, quando executam o pagamento e usam cartão de crédito, é preciso dar segurança de que esses dados não serão utilizados de outra forma. A gente conversa sobre a importância de ter uma política de privacidade de dados, para mostrar para as pessoas que o seu site, que o seu ambiente online é seguro, que elas podem comprar ali sem medo nenhum.

MJ- Quais os primeiros passos que devem ser dados por quem deseja iniciar vendas e oferta de serviços através da internet?

Everlin Piccinini- Os primeiros passos são; ter uma base muito forte de conhecimentos sobre o produto ou serviço que está sendo ofertado, conhecimento do mercado onde o produto vai ser vendido, por exemplo, se os produtos serão vendidos regionalmente, se você vai entregar internacionalmente. Tudo isso implica de diferentes formas, até para construção do site ou, para a programação do site e do público alvo. É preciso ter muito conhecimento sobre para quem  estou vendendo porque, hoje em dia, a internet está super lotada, seja em sites, Google, mídias sociais, se você não sabe para quem está mirando, está mirando para todo lugar, e todo lugar está cheio. É necessário entender qual produto, qual serviço, mercado e o público- alvo, porque a partir dali, quando você buscar um profissional para construir um site, você terá as informações necessárias para que essa pessoa entenda também o que você está procurando, quais objetivos deseja alcançar com o site e como direcionar. Não se trata de fazer apenas um designer, mas fazer uma infraestrutura  de informação no site, para que sejam fáceis o acesso e a compra. Atualmente,  também  existem plataformas que podem ajudar na hora de construir o próprio site, e acho que é super ok se você tem um Budget limitado, se você quer começar, mas não tem muito para investir, são alternativas interessantes que as pessoas podem procurar.  A única coisa que é uma resguarda, vamos dizer assim, é que se ela não domina essa área, pode demorar muito tempo para entender como a plataforma funciona, por mais fácil que pareça ser, e também, muitas vezes , ela pode se sentir insegura se aquilo é o certo ou não.  Então, eu acho que vale a pena consultar um profissional, ter uma ajuda, ter uma assistência para se mais seguro. Existem vários meios e, quem se sente seguro, quem acha que no momento não consegue pagar por um profissional, pode tentar também construir de uma forma mais simples, o importante é saber entender o produto, o mercado e o público-alvo.

Elenir Ungers

A mineira Elenir Ungers é uma dessas empresárias que iniciou as vendas online com a chegada da pandemia. Com uma linha de lingerie de marca própria, ela vende produtos fabricados no Brasil, através das plataformas digitais, para clientes na Alemanha e países vizinhos.

A empresária começou a trabalhar com o comércio eletrônico no início da pandemia, mas precisou se adaptar ao novo método de vendas, buscando aprender o uso das ferramentas disponíveis para aplicar no seu negócio, no entanto, ela conta sobre um ponto o qual sente falta: “Eu sempre trabalhei com pessoas ao vivo, me sentia muito fascinada de poder ter esse contato direto, dar assistência ao cliente, ajudar e poder sentir aquela energia na hora de mostrar meu produto e ver o cliente saindo com um sorriso”, comenta. Ela administra as redes sociais e a loja online praticamente sozinha, tendo ajuda de mais duas pessoas, mas todo o processo de compras, material de divulgação até o envio ao cliente, fica por conta de Elenir, que desde o começo com o comércio eletrônico, tem feito cursos pata otimizar as vendas online.

Elenir acredita que as vendas pela internet são “portas abertas” para muitos empreendedores que, assim como ela, precisaram parar as vendas presenciais por conta da pandemia, e menciona as vantagens de trabalhar dessa forma, como a praticidade e rapidez quando o cliente escolhe o produto, precisando se ocupar apenas com o empacotamento, envio do produto e o suporte pós-venda. Continuar investindo no comércio eletrônico faz parte dos planos da empresária, que afirma ter tido um bom retorno: “Como empreendedora, acredito que vale a pena investir sim no comércio eletrônico, nas redes sociais. Para fazer boas vendas, você precisa investir, essa é a oportunidade de vender. Se você não fizer nada, seu concorrente faz e você fica para trás”.

Aparentemente, o comércio eletrônico chegou para ficar. As gerações vão se acostumando cada vez mais com a praticidade do sistema online, assim como as empresas, que tem investido fortemente com a grande demanda. O E-commerce parece ter surpreendido até mesmo os grandes empresários que, em tempos de crise, aguardavam uma grande queda nas vendas, no entanto, a situação pandêmica acabou impulsionando um mercado não tão novo, mas que ainda entrava de forma tímida na vida dos brasileiros, mas adquirindo, mais do que nunca, um enorme espaço.