Entre os  avanços destaque para a presença feminina no esporte
 
Por Clara Maria Lino, Repórter Rio de Janeiro
 
Neste domingo (8) é comemorado o Dia Internacional da Mulher. A data marcada desde o século XX, está registrada no calendário pela Organização das Nações Unidas (ONU) a partir de 1975. Atualmente, o dia é mais destacado por assumir posicionamentos sobre igualdade de gênero, protestos contra a criminalização do aborto, violência contra a mulher, igualdade de salários e outras lutas relacionadas ao tema em todo o planeta, do que apenas uma data comercial.
 
Quando o assunto é educação, mercado de trabalho e igualdade salarial, as mulheres são as que mais estudam, que ocupam os cargos mais baixos e que recebem os menores salários. Uma pesquisa realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) relata que brasileiras têm 34% mais chances de se formar do que brasileiros. Entre homens de 25 e 34 anos, 18% têm educação de nível superior. Para as mulheres dessa mesma faixa etária a porcentagem sobe para 25%.
No nível superior ainda estamos abaixo da média mundial. Entre homens é de 38% e entre mulheres, 51%. Para a OCDE a pesquisa indica que fatores de progressão de carreira, natureza do trabalho, tipos de contrato e vida familiar colaboram para a disparidade de gênero.
 

No mercado de trabalho do jornalismo brasileiro, de acordo com o Portal Comunique-se, em 2019, 15.654 mulheres jornalistas estavam empregadas nos veículos de comunicação brasileiros. Número que representa quase 37% do mercado de imprensa no país. Com relação aos homens, 26.678 atuam na área, pouco mais de 63%. A televisão é o único meio de comunicação ao qual as jornalistas representam maioria. Nos canais abertos, 4.040 estão empregadas contra 4.007 do sexo masculino. Veja a tabela abaixo com maiores informações:

 

 

Rafaelle Seraphim é negra, jornalista e comentarista de futebol. Atualmente a carioca atua no canal de comunicação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF TV) e no programa de esporte Redação Sportv, do Grupo Globo. Em entrevista para esta reportagem Rafaelle relata que desde sempre colocou como objetivo de vida ocupar esta posição no esporte e, em especial, no futebol. “Eu sempre quis ser comentarista mesmo não tendo nenhuma referência feminina, muito menos negra. Eu via os caras comentando e falava “eu vou ocupar esse lugar”. O sonho sempre pareceu muito distante. Até eu ver a Ana Thaís Matos comentando em TV aberta, na Rede Globo.”
 
A comentarista também fala sobre a “surpresa” existente quando negros estão em evidência na mídia. “Eu espero que não seja mais um choque ver uma jornalista/comentarista preta, tatuada, trançada, de black, nas mesas redondas por aí. Nós, mulheres e negros em geral, somos maioria na população, e isso tem que ser percebido em todos os lugares, em todas as funções e cargos. A luta é justamente para que essa “surpresa” ao ver negros em evidência acabe.”
 
O caso de ataque virtual a Vera Magalhães, jornalista do Estado de S. Paulo e apresentadora do Roda Viva espelha a realidade que a Federação Internacional dos Jornalistas (FIP) aponta. Ao todo,  44% das profissionais entrevistadas para a pesquisa afirmam terem sofrido ataques virtuais em 2019. Em 2018, um relatório da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) apontou 150 casos de agressão contra jornalistas em contexto político-eleitoral. Desses 87 em ambiente virtual e 72 ataques físicos. Só as mulheres foram alvo em pouco mais de 56% dos casos registrados neste levantamento.
 
No ano passado, a maioria dos ataques a profissionais da imprensa no Brasil partiu do Presidente Jair Bolsonaro. Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) foram 208 casos e o presidente foi responsável por quase 60% deles. Os políticos são os principais autores de ataques a jornalistas correspondendo 70% ao todo. De acordo com a Fenaj, o relatório é baseado em entrevistas, discursos e postagens nas redes sociais ao longo do ano passado. Para a organização não governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras (RSF), em todo o mundo, 49 jornalistas foram assassinados, 389 estavam presos e 57 encontravam-se reféns neste mesmo período.
 
A alternativa encontrada para combater o crescimento da violência, dos ataques e do assédio contra mulheres jornalistas é criar canais seguros de denúncia e entender que o combate ao machismo está ligado diretamente a um cenário de trabalho melhor para todos. Sobre os ataques políticos, cabe a sociedade (todos nós) entender a imprensa como veículo insubstituível para a manutenção da democracia. Como diz o inglês John Milton, “a imprensa é a luz da liberdade”.