Flores comestíveis na gastronomia moderna
Por Vivian Jorge, jornalista – RS
vivian.jorge@mulheresjornalistas.com
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Aprenda a inserir, cultivar e consumir no seu dia a dia
Saudáveis, cheirosas, coloridas, ricas em vitaminas, bonitas e consumíveis, as flores comestíveis podem agregar muito o paladar gastronômico. Desde a alta gastronomia à salada na mesa da sua casa, essas sementes estão cada vez mais inseridas em diferentes culinárias.
Bolos, biscoitos, saladas, chocolates, bebidas, entre outros. As opções são inúmeras, mas, primeiramente, procure saber se a flor comestível que deseja consumir não é tóxica.
Muito comum na gastronomia oriental, às flores comestíveis trazem sabor, textura e aromas diferentes para quem busca uma alimentação equilibrada. De acordo, com Deborah Gaiotto, de 38 anos, empresária e pioneira na produção de flores comestíveis no Brasil, 80% das flores são comestíveis, muitas podem ser encontradas em floriculturas, porém o que difere para a não comestível é sua forma de cultivo. Então, atenção! As flores de floricultura não são comestíveis, pois não foram produzidas para alimentação.
Tipos de Flores
Existem inúmeras espécies de flores comestíveis, desde as ligadas diretamente a temperos, fins medicinais, quanto gastronômicas. Hoje, em especial, vamos falar sobre as Plantas Alimentícias Não Convencionais (Pancs). As Pancs são justamente estas espécies de flores comestíveis pouco utilizadas na alimentação, diferentemente do manjericão, hortelã, brócolis ou couve-flor que são flores comestíveis conhecidas e usadas comunamente.
Elencamos seis tipos de flores comestíveis mais comuns que servem para o consumo: Calêndula; Tagetes; Amor-Perfeito; Capuchinha; Lavanda e Dente de Leão.
A calêndula é uma flor fitoterápica, muito comum. Da família das margaridas, ela tem efeitos cicatrizantes, intestinais e anti-inflamatórios. É usada como corante natural em bolos, além de saladas, sobremesas etc. Em contrapartida, a planta não é indicada para gestantes, nem mesmo
seu miolo é recomendado para o consumo.
As tagetes ou cravo de defunto tem um gosto levemente amargo e é comum em jardins caseiros. Da família dos girassóis, elas são usadas em molhos, saladas, sopas etc. Com um toque colorido, muitas pessoas consomem seu chá para febre ou dores no corpo.
A amor-perfeito é ótima para época do inverno, quando floresce. Elas podem nascer em diferentes cores
como amarelo, azul, roxo e rosa. Por ter um sabor adocicado é indicada para sobremesas, saladas, biscoitos e sopas. É utilizada, ainda, como planta medicinal no tratamento de resfriados, gripe, pressão arterial infecção urinária, entre outras.
Capuchinha é rica em vitamina C, cálcio e zinco. Com um sabor picante é indicada para pratos como saladas, sopas, arroz e conservas. Devido sua versatilidade, todas as partes desta flor podem ser ingeridas, porém é importante consumir suas folhas apenas frescas para preservar as propriedades nutricionais. Também é usada como planta medicinal, pois auxilia no trato respiratório e digestivo.
Lavanda, eu adoro lavanda! Vocês já comemoram bombons ou macarons de lavanda? Faço muitos bombons com sua essência. Devido seu aroma marcante, a lavanda está ligada a alta gastronomia, assim como muitas outas Pancs. Além, de ser um charme no prato com seu tom em lilás e roxo, a lavanda combina com chás, geleias, vinagretes, chocolates, bolos, cheesecakes, entre outros.
Outra planta de sabor adocicado que lembra o mel de abelha e é rica em vitaminas é a dente de leão. Apesar de ser indicada para saladas, sucos e biscoitos, seu consumo não deve ser exagerado.
Benefícios para a saúde
Engana-se quem pensa que flores florescem apenas na primavera, existem muitas espécies que vingam no inverno, por exemplo, e trazem muitos benefícios. Elas também não servem apenas como decoração dentro de um vaso, muitas são medicinais, ricas em cálcio, ferro, zinco, carotenoides, flavonoides, como óleos essenciais, de baixas calorias e saudáveis. “As flores por serem coloridas são ricas em antioxidantes, antocianinas, vitaminas, assim como alface, couve ou espinafre. Cada flor tem sua caraterística e cor. Se usada de forma correta, agrega a nossa alimentação”, diz Deborah.
Por possuírem propriedades únicas, elas variam muito de região para região, tamanho e sabor. Para quem busca uma alimentação saudável, equilibrada, e um bom funcionamento do organismo, elas podem ser indicadas. Além disso, é possível produzir e cultivar flores em casa, ao lado do manjericão e hortelã, como menciona Gaiotto: “produzo no jardim do meu prédio para consumo do dia a dia. É possível plantar flores em casa para consumo próprio em um espaço adequado, com terra boa e luminosidade. É claro que tem cuidados nesse tratamento, pois não podemos comer flores com produtos químicos. Mas, qualquer pessoa pode ter uma flor comestível por perto”.
Formada em publicidade, a produtora de flores comestíveis é consultora e ministra cursos e palestras sobre o tema. “Sou consumidora de flores, produtora de flores e tenho uma horta de flores comestíveis em casa. Meu trabalho é ensinar a aplicar as flores comestíveis no dia a dia das pessoas, tanto para chefs, donas de casa ou estudantes. Não sou formada em gastronomia, mas com os anos de experiência, estudo e dedicação, quero mostrar e levar esse tema para todos”, declara Debora Gaiotto.
Há alguns anos o Brasil não tinha um mercado propício, consumir flores comestíveis era comum na culinária oriental. “Há 16 anos, a pedido do meu pai, comecei a me dedicar às flores comestíveis. Na época, não havia muita demanda no país. Quando comecei a trabalhar atendendo chefs, eu vi que tinha conhecimento e que eu poderia compartilhar. Com o tempo descobri a variedade de flores no mundo e me apaixonei”, observa a publicitária.
Hoje Deborah busca incentivar as pessoas a usar e plantar flores comestíveis, principalmente, porque atraem polinizador, como a abelha, que auxilia no ciclo sustentável por um mundo mais florido e de comida de verdade. Além de palestras e cursos sobre flores comestíveis na gastronomia, ela compartilha conteúdo e muitas dicas em seus canais sociais, bem como no site Debora na Fazenda, que tem o intuito de levar informação a todas as pessoas. “Através das flores que conheci as abelhas nativas e comecei a prestar atenção na natureza e na sustentabilidade. Quero que as pessoas possam comer melhor utilizando flores. Além de mostrar a importância das abelhas, o universo das flores é muito amplo”.
A Fazenda Maria, propriedade familiar de Deborah, é uma das pioneiras no Brasil no cultivo sustentável de plantas comestíveis, ervas aromáticas e micro leaves. Com foco no desenvolvimento sustentável, a fazenda produz produtos que respeitam a natureza, não usando insumos tóxicos.
PANCS vz Horta em Casa
Talvez você tenha uma Panc em seu quintal ou jardim e nem saiba. Elas, geralmente, crescem de forma espontânea. Existe até ex-panc, acredita? É o caso do açaí, pois ficou popular com novos sabores e texturas explorados.
No entanto, as Pancs aumentam a diversidade alimentar resgatando hábitos milenares. “Podemos usar flores em qualquer receita, desde que conhecendo suas características. Temos flores mais doces, crocantes, corantes, amargas, azedas etc. Aí vai de acordo com a sua criatividade, conhecimento e tipo de cozinha. As flores entram na alimentação como um tempero. Como será e com o que será harmonizada, aí vai de cada um”, esclarece Deborah.
Já, a principal dica para plantar flores comestíveis em casa é ter um espaço que bata sol, com luminosidade por no mínimo 4h por dia, além de ambiente quentinho. Algumas permitem não ter sol direto, mas precisam de luminosidade.
Deborah nos dá outra dica: a terra orgânica para um produto de qualidade e apto para consumo. Além, das sementes. “A ISLA sementes é uma boa opção de flores comestíveis”.
Higiene
Todas as flores precisam ser lavadas antes de consumidas. Não consuma flores sem higienizá-las.
De acordo com a produtora, as flores rasteiras tem maior quantidade de microrganismos, então precisam ser higienizadas, assim como fazemos com frutas e verduras.
Quanto à durabilidade, podemos secá-las e desidratá-las para que durarem mais, mas Deborah explica que existe um processo para cada flor que exige cuidado, pois ela pode secar demais e perder as suas propriedades.
Guarde sua flor fresca na geladeira, num pote e dentro da gaveta. Já, a flor seca em um ambiente seco e sem luz solar, dentro do armário.
Consumo Infantil
Crianças com mais de 2 anos de idade podem ingerir com mais segurança, de acordo com a correta higienização das flores. Caso, você dar flores comestíveis para uma criança, lembre-se de retirar o pólen. “Sempre retirar o pólen! Normalmente, quem tem potencial a alergias pode ter reação à flor, mas é uma minoria. Por isso sempre bom consumir aos poucos e com cuidado. No geral as flores não dão alergias”, avisa Gaiotto.
Mercado no Brasil
O uso das flores comestíveis é antigo, desde a idade média, principalmente, para fins medicinais, temperos, de pigmentação e até como perfumes.
Atualmente, por conquistar pratos e mesas nacionais e internacionais, muitos horticultores e produtores especializados fizeram do cultivo das flores comestíveis sua atividade econômica. Assim, diante da grande variedade de flores comestíveis e de sua tendência na horticultura, chefs e restaurantes vem adotando seu consumo no meio gastronômico.
O engenheiro agrônomo, Rafael Rieger Ramos, avalia o mercado brasileiro de flores comestíveis como exigente e sazonal. “As flores no Brasil ainda são vistas como presentes para datas especiais. É necessário que a população entenda seus benefícios. Além dos chás, saladas e tempero
s, hoje elas, aos poucos, vem sendo mais exploradas pela área da gastronomia”.
Deborah nos lembra que podemos encontrar flores comestíveis direto de produtores especializados, feiras e supermercados, mas é importante saber se esta flor foi produzida de forma orgânica ou comercial e, principalmente, se tem pesticidas, o que não é indicado para o consumo. “Quem não está em grandes capitais e próximos de fornecedores, recomendo olhar seu jardim! Muitas vezes tem fornecedores que você não sabe, também é bom fazer uma pesquisa. Veja com mini produtores de orgânicos. Acho que o principal, é você se aprofundar no assunto, buscar conhecimento, pois aí será mais fácil encontrá-las. Todos conseguem encontrar uma flor comestível”.
Tradicional no Rio Grande do Sul, a ISLA Sementes atua há mais de 65 anos no mercado. Fundada por Plínio Werner e Dulce Spalding, a empresa foi pioneira no país com a importação de sementes.
Recentemente, a ISLA incluiu novas variedades de sementes de flores comestíveis em seu catálogo: Amor-perfeito Eclipse, Amor-perfeito
Místico, Calêndula Sideral e Calêndula Pôr do Sol. De acordo, com Diana Werner, diretora da ISLA, o mercado brasileiro hoje vem em um contexto que ainda temos tanto a nos reconectar com a alimentação saudável. “As flores comestíveis trazem beleza e leveza. São diversas, lindas e inspiram a curiosidade, contribuindo nessa importante jornada”, avalia.
Hoje, a ISLA conta com mais de 40 espécies diferentes de flores comestíveis – Panc.
Contudo, com o uso culinário novas técnicas de cultivo são desenvolvidas e direcionadas para esse nicho de mercado gastronômico, como vamos ver a seguir no Biscoito com Flor.
Biscoito com Flor
Kátia Eloisa Zan, 43 anos, é arquiteta e proprietária do Biscoito Com Flor. Depois de uma experiência que teve há alguns anos em uma viagem a San Francisco, Califórnia, começou a investigar na internet sobre o assunto. “Provei os biscoitos em um café e me apaixonei pela ideia. Depois de um tempo, a Biscoito Com Flor nasceu de quitutes natalinos feitos para a família”.
Logo, em dezembro de 2019, começou a produzir, de maneira totalmente artesanal, biscoitos utilizando flores comestíveis, em Porto Alegre.
Como arquiteta, Kátia sempre admirou plantas e flores como parte de um paisagismo, porém, seu interesse nasceu quando soube que elas poderiam ser comestíveis. “Hoje utilizo somente flores que venham de produtores especializados e certificados que, também abastecem os restaurantes da cidade. Atualmente, trabalho com um sabor que foi muito bem elaborado junto a duas grandes chefs: a Luiza Nakazato e a Milena Andrade, um amanteigado com especiarias predominando a noz moscada”, conta.
Kátia considera as flores comestíveis como um complemento a uma alimentação mais saudável já que são ricas em nutrientes. Porém, ressalva que é bom ter conhecimento de quais se podem utilizar, bem como suas partes propícias para consumo. “Já pensei em plantar minhas próprias flores, mas implica muitos cuidados. Hoje, me sinto mais segura comprando destes produtores que cultivam e entendem”.
Um dos diferenciais de seu trabalho além da qualidade é a estética. “Como tem sido muito bem aprovado trato de focar meu trabalho em ter um biscoito muito gostoso com delicadeza nos detalhes estéticos”, finaliza Kátia.
Se você é de Porto Alegre ou região, te convido a conhecer e provar os Biscoitos com Flor.
Dica de receita com Deborah Gaiotto
Pesto de Flores de Ipê-Amarelo
Tempo de preparo: 20min.
Essa delícia de receita e modo de preparo que a Deborah compartilhou conosco é do Chef André Guilherme e você pode conferir neste link DeborahnaFazenda. Já, o Ipê-amarelo é uma flor saborosa que permite harmonizar com muitos pratos.
Ingredientes:
20 a 30 flores de ipê-amarelo
1/3 de xícara de amendoim torrado
100 gramas de queijo meia cura ralado
1 dente de alho (ralado)
Azeite, sal e pimenta do reino a gosto
Modo de preparo:
Primeiro, corte as flores e descarte sua base retirando os estames e pistilo (eles contêm pólen e podem causar alergia). Logo, higienize as flores. Depois as fatie em anéis finos, transfira aos poucos para um processador de alimentos. Adicione os amendoins, triture juntamente com as flores de ipê, agregue o queijo e o dente de alho. Aos poucos vá adicionando o azeite até atingir a textura desejada. Depois é só terminar de temperar com sal e pimenta do reino a gosto.
Essa dica é muito versátil serve com pães, torradinhas, saladas, massas, carnes etc.