Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ 

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista 

Sabemos que a Lei Aldir Blanc ajudou muitos artistas e produtores, mas algumas vertentes da cultura tradicional do país estão à margem quando o assunto é participar de um edital. Pensando nisso, a historiadora Tainá Mie se articulou com as comunidades tradicionais que lutam pela preservação e valorização das suas memórias culturais do Rio de Janeiro. Criou o I Festival Tradicionalidades, pela Lei Aldir Blanc, que começou nesta quarta-feira, dia 12 de maio, com programação até domingo, dia 16 de maio. Participam dez grupos culturais de diferentes regiões do Rio, que preservam o Jongo Quilombola, a Ciranda Caiçara, o Boi Pintadinho, o Terno de Reis, a Música Caipira, o Mineiro Pau, os atabaques afrodescendentes, a música Guarani, a dança Mazurca das Baixadas Litorâneas e o Rap Quilombola.

Tião Capeta, grupo Mineiro Pau. Foto: Reprodução/Luciane Menezes

Grupos que através de novas vertentes transmite a força do patrimônio cultural desses povos. Para não perder as tradições fluminenses da arte e da cultura popular, o I Festival Tradicionalidades valoriza o patrimônio imaterial  dessas comunidades e para deixar um exemplo de que não se pode deixar morrer as antigas tradições. Vale conferir alguns dos principais grupos culturais das comunidades tradicionais do Estado do Rio de Janeiro, que através da sua arte preservam e demonstram a força da resistência cultural e da identidade destas comunidades. E a primeira edição do Festival chega disponível para todo o Brasil no formato on line, e gratuito, pelo site www.festivaltradicionalidades.com.br. “As comunidades tradicionais são as próprias raízes da cultura fluminense, também presente em todo o Brasil. Divulgar essas diferentes culturas para o público digital faz parte de um esforço coletivo para criação de pontes entre o tradicional e o contemporâneo, entre os jovens e os mais velhos, acreditando que apenas aqueles que são capazes de nutrir suas raízes, tem a possibilidade de frutificar e sobreviver perante as adversidades.”, declara Tainá Mie.

 

 

Tais manifestações culturais estão espalhadas pelo Brasil, algumas estão mantidas por seus descendentes, as vezes em pequenas comunidades, como Quilombo São José, uma comunidade com 200 pessoas da mesma família, descendentes de escravos que preservam o jongo, dança de roda considerada uma das origens do samba, trazida de Angola para a região Sudeste do Brasil-Colônia pelos escravizados. Essa família permanece há 150 anos na mesma terra, mantendo ricas tradições como o jongo, a umbanda, o calango, o terço de São Gonçalo, a medicina natural, rezas e benzeduras, agricultura familiar entre outros patrimônios imateriais. A prova disso é também o Mineiro Pau, que surgiu no município de Silva Jardim por meio dos trabalhadores de temporada, para o corte de cana no antigo canavial da região. Cortadores de cana vindos da região de Carapebus e sul de Minas Gerais começaram a brincar o Mineiro Pau nas horas de folga. Os residentes na cidade que também cortavam cana aprenderam e continuaram com o folclore, formando um grupo que saía pelas ruas da pequena Silva Jardim, principalmente no carnaval. O ano de início do Mineiro Pau no canavial data de 1952 até os dias atuais, constituindo tempos depois a Associação Folclórica Mineiro Pau.

Tainá Mie, historiadora e idealizadora do Festival. Foto: Reprodução/Luciane Menezes

Mas este Festival joga luz também numa comunidade indígena Guarani, da região da Costa Verde do Estado, mais precisamente em Araponga, na charmosa cidade histórica de Paray, que mantem o Coral Ka’aguy ovy, com integrantes da aldeia. E percebo que a fala da coordenadora do Coral pode representar a consciência para que as diversas tradições culturais espalhadas pelo país, precisam ser mantidas.

Foto: Reprodução vídeo

“Meu nome é Guarani Vera Xunu, sou coordenador do Coral Ka’aguy ovy. Há 15 anos o Coral é a nossa cultura, a realidade da aldeia. A música vem sendo ensinada de geração a geração por nossos avós, bisavós, nossos pais. Já trouxeram esta música de antigamente, nossos parentes, os antepassados que faziam violão rabeca – hoje em dia, usamos violino. Moro aqui na aldeia de Araponga e há mais de 25 anos o Coral é importante para nós, para a “Sabedoria Guarani” através do canto, da música, da dança, das letras, de despertar no jovem a vontade de conhecer a cultura da Aldeia. Nossas lideranças, o Cacique, eu, Vice-Cacique, lutamos para manter a dança e o canto sempre vivos na Aldeia. O mundo está mudando muito rapidamente com as novas tecnologias, os jovens da Aldeia já querem aprender muitas coisas… Tem muita curiosidade pelas coisas do mundo que vem através da tecnologia. Com o Canto Guarani da nossa tradição, o jovem aprende muito a respeitar e a saber como viver na Aldeia. O nosso Coral existe há muitos e muitos anos e quando eu for, outro vai ficar no meu lugar para ensinar. Todos podem participar a partir dos cinco  anos de idade.”, reflete Guarani Vera Xunu.

Proponho uma reflexão para que através das tradições culturais podermos transmitir a força do patrimônio desses povos desse imenso Brasil.

Foto Casa do Abode, grupo Jongo do Quilombo São José. Crédito: Luciane Menezes
Foto Grupo Coral Ka’Aguy Ovy. Crédito: Reprodução vídeo
Foto Tião Capeta, grupo Mineiro Pau: Crédito: Luciane Menezes
Foto Tainá Mie, historiadora e idealizadora do Festival